22 de dezembro de 2009

MUSICANDO


Eu e a música temos uma relação bastante transparente. Ela sabe que eu não vivo sem ela. E eu sei que, apesar de ser dependente dela, detenho todo o poder de escolha. Com o passar dos anos e da convivência, eu percebi que consigo fazer qualquer coisa enquanto escuto música. Isso inclui assistir filmes/TV, estudar, ler um livro, conversar... e até coisas que requerem um absurdo de atenção, como cozinhar (e eu sou um monstro desprezível na cozinha).

A música evoluiu fantasticamente na minha vida. Antes, eu morava em um interior (do Maranhão) onde eu só tinha acesso a 3 estilos musicais: forró, brega e reggae de má qualidade. Aos poucos, entrariam o axé, o samba e o pagode na lista. Eu, obviamente, detestava a condição, até porque esses estilos musicais não diziam o que eu gostaria de ouvir. Mas aí o meu querido irmão me apresentou o rock nacional, o rock internacional, o pop e aos poucos a música eletrônica, e aí sim eu encontrei muita coisa legal, no início tudo bem "mainstream" (ou seja, aquilo que vende muito e geralmente é o gosto da maioria). Mas aí aos poucos eu pude escolher o que eu queria escutar e o momento certo pra cada música. Foi a minha liberdade musical, alavancada pela internet e pelos bancos de músicas. Hoje digo, sem dúvida alguma, que o meu gosto musical reflete muito de quem sou e é totalmente influenciado pelo que as pessoas que eu amo escutam.

É completamente injusto criar um top 5 de músicas porque elas iriam refletir o momento e não o todo. Então pra tentar ficar mais justo, vou criar o top 5 de 5 momentos específicos, onde a música diz exatamente aquilo que minha alma grita em silêncio:

TOP 5: TENSÃO
1- Sunday bloody sunday (U2)
2- Anna's song (Silver Chair)
3- Ignoring U (Pitty)
4- How you remind me (Nickelback)
5- Time of your life (Green Day)

TOP 5: ALEGRIA
1- Paparazzi (Lady GaGa)
2- I gotta a feeling (Black Eyed Peas)
3- If I had you (Adam Lambert)
4- Stereo Love (Edward Maya Ft. Alicia)
5- That's what you get (Paramore)

TOP 5: TRISTEZA
1- That I would be good (Alanis Morisette)
2- Clocks (Coldplay)
3- Je Saigne Encore (Kyo)
4- Kriptonita (Ludov)
5- Speechless (Lady GaGa)

TOP 5: CALMA E REENCONTRO
1- Bittersweet symphony (The Verve)
2- Equalize (Pitty)
3- Breath no more (Evanescence)
4- Undisclosed desires (Muse)
5- Enjoy the silence (Lacuna Coil)

TOP 5: FÚRIA
1- Sober (P!nk)
2- I'm so sick (Flyleaf)
3- Água contida (Pitty)
4- Don't bother (Shakira)
5- A little piece of heaven (Avenged Sevenfold)

Dá pra ver nitidamente que o meu gosto musical se transformou numa coisa totalmente complicada de se entender, uma mistureba total que eu valorizo bastante e que eu pretendo que ninguém entenda, só aceite que é o meu gosto e ponto.

Em outros posts eu detalho melhor os meus maiores amores musicais e o motivo deles, mas até lá, convido você a conhecer um pouquinho do que eu ouço.

[...]

OBS: desculpem o atraso Jay e Alê, tive um bloqueio criativo e o post não queria sair. Pra falar a verdade, nem gostei tanto do post, mas quero cumprir a promessa! Abração...

OBS2: Dia 23 vai ter um post reflexivo de Natal. Peço a ajuda de vocês pra melhorar o texto o máximo possível. Motivo: ele será o "discurso de Natal" antes da ceia da minha família. Por favor, contribuam com o próximo post!

15 de dezembro de 2009

STAIRWAYS TO HEAVEN


A grande diferença entre agüentar e enfrentar uma situação é a velocidade do processo.

Agüentar é como tomar pílulas de dor: você experimenta a amargura, o ódio, o ressentimento e a dor em pequenas porções, em doses suportáveis. Isso permite que você se distraia com outras coisas e esqueça temporariamente o terrível gosto da situação que se está tolerando. Pelo menos até a hora próxima dose, que geralmente chega de surpresa.

Enfrentar é uma opção menos atraente, mas é muito mais valente. Enfrentar é como beber um copo cheio fel liquefeito. É se obrigar a sentir o gosto total da amargura, do ódio, do ressentimento e da dor, tudo de uma vez, sem pausas, sem distrações, sem alívio temporário. E atente para um detalhe: o tamanho do copo não é nada pequeno, mas a vantagem dessa atitude é saber que não vai haver um “próximo copo” para a mesma situação.

Agüentar é o meio mais fácil, mas tem graves efeitos colaterais. Enfrentar é o meio mais rápido e no máximo causa uma indigestão passageira, no dia seguinte, já está tudo bem.

Eu escolhi agüentar, mas acabei sendo coagido a enfrentar. E o “dia seguinte” já chegou. Ontem eu adormeci bem cedo, muito antes do nascer do sol. Hoje acordei cedo também, bem antes do sol de por. Tomei um café da manhã, coisa que não fazia há muito tempo. E almocei às 12:30, bem diferente do meu antigo “horário normal”, entre 18:00 e 19:00. Não senti nenhum pesar ao acordar, não tive vontade de ouvir músicas tristes, não passei fome e nem sede, não me entreguei à preguiça, não ignorei minha vaidade nem minha higiene. Hoje eu senti saudades, eu liguei pra dizer “mãe, te amo!”, eu fui altruísta e menos egoísta, eu aceitei responsabilidades e cumpri o que prometi. Eu me dei presentes, eu dei gargalhadas e até cantei e dancei um pouco... eu me amei um pouquinho mais.

Acabei descobrindo que sou muito bom em me auto-recuperar e situações críticas. Estou me sentindo bem, como nunca mais havia me sentido. E estou em paz, ainda cambaleando fisicamente, mas bem estável espiritualmente. Vou passar a tarde toda com aquela que eu considero minha melhor amiga neste mundo (perdendo apenas pra minha mãe). E acreditem, estou bem satisfeito de ter saído do fundo do poço sem a ajuda de um “ombro amigo e/ou materno”, como havia dito no post passado. Agora é manter as coisas como estão e torcer pra que continuem assim. É subir o primeiro degrau, sem se importar com o tamanho da escadaria...

[...]

Mudando um pouco de assunto: hoje o Sinapses têm exatos 50 posts. E dando uma olhadinha nos posts passados, acho que cumpri muito bem o objetivo de ter e manter um blog, uma das minhas “resoluções de ano novo” de 2009. 50 posts divididos em posts felizes, posts divertidos, posts críticos, posts militantes, posts deprê, posts ainda mais deprê (fossa mesmo!)... apesar dos sumiços e retornos, continuo por aqui firme e forte, sem nem cogitar a possibilidade de abandonar meu pequeno espaço virtual. Por isso, aviso que estou de volta!

11 de dezembro de 2009

FUNDO DO POÇO


Ao contrário do que muitos dizem, o “fundo do poço” não é escuro, nem úmido e nem desconfortável. Falo isso por experiência própria e atual. Mas todos estão certos quando dizem que ele é bem ruim. Ao atingir o fundo do poço, sua consciência é “iluminada” de uma forma que fica possível reconhecer onde houve erros e encontra o como e o porque se chegou a um nível tão baixo. Por isso digo que o fundo do poço é claro. O fundo do poço é seco porque, ao se dar conta que não se tem mais nada a perder e nem como as coisas ficarem piores do que já estão, você perde a capacidade de chorar, daí não há umidade. E é, até certo ponto, confortável porque dá tanto trabalho mover suas poucas energias pra sair dali que fica incrivelmente fácil se acostumar com a situação e decidir que ficar quietinho no seu canto (pelo menos por um tempo) é uma opção razoável.

O fundo do poço é um lugar que só existe dentro de nós mesmos. Até porque, se você for reparar, a menos que algo óbvio esteja acontecendo (miséria, doença, falecimento, etc.), ninguém percebe quando você está numa pior e nem entende os motivos de se ter chegado em tal situação. Uma analogia excelente, afinal, é bem difícil enxergar o fim de um poço sem estar no fundo dele.

Eis o fundo do poço. Eu cansei de tudo, enjoei de tudo. E de todos também. Parece que a festa acabou, as cores acinzentaram, a graça definhou, o assunto morreu, está tudo meio-morto. Não consigo me mover pra amar nem pra odiar alguém ou alguma coisa... e parece que esse tipo de trabalho não vale a pena.

Meu sono se inverteu e enlouqueceu. Por vezes não consigo dormir, em outras durmo 14-16 horas por dia e ainda sinto sono. Dá preguiça de acordar e me levantar da cama. A fome vem, mas a vontade de comer já me abandonou há tempos. Estou visivelmente doente, mas não tenho um pingo de forças pra buscar ajuda. Ficar parado é uma proposta cada vez mais e mais tentadora. Meus amigos me ligam e, por mais que eu sinta saudade ou ainda necessidade de falar com alguém, deixar o telefone de lado e não atender parece tão mais prático e cômodo (inclusive com as pessoas que eu mais amo nesse mundo). As pessoas puxam assunto, contam piadas, discutem notícias, agradecem algumas coisas, reclamam de outras, pedem opiniões, querem explicações... mas tudo ficou tão desinteressante, mesmo ouvir, ler ou falar. Não sinto mais simpatia, nem antipatia. Só sinto apatia por praticamente tudo.

É confuso, como se eu estivesse congelado e não houvessem motivos para seguir em frente. A apatia me subiu à cabeça. Com ela vieram a preguiça, a anorexia, a indiferença, a insônia ou hipersônia (intercaladas), a insatisfação, o descuido, a irresponsabilidade, o tédio, a inércia e a total falta de vaidade, auto-cuidado e auto-estima. E independente dos motivos que me levaram ao fundo do poço, a resolução disso tudo ainda pode demorar um pouco, principalmente porque metade das minhas forças ainda dependem do retorno de pelo menos um importante ombro amigo ou materno. Quando esse alguém retornar, eu sei que as coisas vão melhorar...

OBS: Nunca gastei tanto com álcool em toda minha vida. E ainda assim, não sinto a menor vontade de beber... a intenção é não ficar sóbrio (né Pink?).

29 de novembro de 2009

CORAÇÃO PARTIDO

Um cara legal. Realmente legal. Uma conversa legal. Palavras certas ditas na hora errada, e que desencadeiam sentimentos errados no momento certo. É simplesmente revoltante o poder que as palavras têm quando estamos frágeis: podem nos alegrar, nos derrubar, nos fazer pensar, podem nutrir esperanças, ou ainda pior, podem criar falsas esperanças.

E depois que eu tive todo o trabalho de romper meus próprios limites, minhas auto-restrições; depois que eu tive a coragem de me deixar sentir, de permitir que meu coração voltasse a bater mais rápido por alguém tão próximo... depois de toda a droga do meu esforço, o ingênuo coração é subitamente apunhalado. De uma forma boba, idiota, quase acidental se não fosse tão intencional.

E agora, se eu estou puto e chateado, não importa. A culpa foi minha também. Eu já devia ter aprendido que não se deve alimentar sentimentos com ilusões e que não se deve ser tão ingênuo. Eu errei de novo. E eu sei que esse não vai ser o último erro, mas dói como se fosse. Eu sei que a culpa foi dele também, mas isso importa? Não é ele que está sofrendo, isso é o que importa.

Agora, se eu não quero a falar a respeito ou explicar o que aconteceu, é um direto meu. Se eu quiser manter distância por algum tempo, independente de quanto tempo seja, é direito meu. Eu já vi esse filme antes, eu sei como ele termina. Eu preciso matar novamente um sentimento platônico e prematuro que só pede pra existir. Eu preciso me livrar de toda essa carga negativa antes que eu sature. E eu preciso caminhar de novo, sozinho, mesmo que seja lentamente e rastejando. Preciso me reerguer sozinho, sem chorar pelos cantos, sem fazer cara de coitadinho e desejar a piedade alheia, afinal, eu cresci e é isso que pessoas crescidas fazem.

E mesmo assim, nada me impede de sofrer tudo de novo, de sentir tudo de novo e de lamentar, com a cabeça baixa e o coração partido. Mais uma vez. Depois de uns goles de whisky pra ajudar a engolir a dor e uma boa noite de sono pra esquecer tudo, talvez eu melhore. E que assim seja!

"Alysson era fera demais
Pra vacilar assim
E o que dizem que foi tudo
Por causa de um coração partido
Um coração..."

(“adaptado” de Dezesseis – Legião Urbana)


[...]

PS: Eu NÃO me importo se você, o “protagonista” desta história, aparecer por aqui e ler isto. E foda-se se foi tarde demais pra você perceber o seu vacilo. Não perca o seu tempo e nem o meu.

OBS: Queridos leitores, eu vou continuar sumido. Preciso de tempo. Preciso de silêncio verbal e textual. Continuo lendo vocês, mesmo sem criar coments. Tudo de bom pra vocês...

15 de outubro de 2009

BLOG ACTION DAY 2009


Eu não sou exatamente um otimista, mas vejo que as pessoas mudaram um pouco a sua forma de pensar quando se fala em “meio ambiente” e do caminho sem volta que ele pode ter se as coisas continuarem assim. Antes as pessoas eram mais descrentes, pensavam que poderiam destruir e consumir os recursos do mundo sem se preocupar com o amanhã. Hoje, quando percebem que os invernos castigam regiões com tempestades poderosas e enchentes, enquanto os verões carregam a seca e um calor infernal por todo canto, as pessoas se dão conta de que algo não está “normal”. E por favor, me inclua entre essas pessoas.

Lembro de uma propaganda que passava quando eu ainda era bem novo, era muito forte, apareciam árvores sendo cortadas e um ruído de choro, desespero e gritos de agonia como pano de fundo. Eu morria de medo e pena da propaganda, eu sabia que cortar árvores não era legal, mas sabia que era necessário porque assim se fazia o papel e, conseqüentemente, os cadernos da escola... e minha mãe sempre me disse que eu devia estudar pra ser alguém na vida. Eu acreditava que as árvores podiam ser cortadas, desde que fossem pra fazer os livros e cadernos (e os lápis, principalmente se fossem lápis de cores). E desse antigo e inocente pensamento nota-se como os humanos justificam seus atos com desculpas esfarrapadas.

Já passou da época de especular “o que pode acontecer” com o planeta se continuarmos no mesmo rumo. O consumismo, a despreocupação com o meio ambiente, o descaso de nem tentar ser sustentável, a caça e a pesca não controladas, as queimadas, a poluição em larga escala, a ausência de grandes programas de reciclagem e reaproveitamento da água, o abuso dos derivados do petróleo e da produção de energia baseada em combustão e TODOS os outros atos anti-ambientalistas do nosso mundo atual são uma realidade. E tão realidade quanto eles são os efeitos que eles já causam e continuarão a causar no nosso mundo: desastres climáticos (já comentados), desequilíbrio do ecossistema, extinção de espécies, aquecimento global, escassez de recursos naturais, etc.

Eu não sou ambientalista, não sou um eco-chato, não sou vegetariano (apenas porque é incompatível com meu paladar), mas sou consciente. Sei o que é prejudicial à natureza e, na medida do possível, faço o que posso fazer dentro das minhas limitações. Evito desperdícios, jogo o lixo no lixo, reaproveito tudo o que posso, quase mato um indivíduo que tenta jogar lixo na rua na minha frente, procuro comprar cadernos, livros, resmas de papel, lápis e lápis de cores de empresas que fazem reflorestamento, etc. E apesar de saber que é pouco, tenho a consciência de que poderei fazer mais quando estiver em minha própria casa. E tenho a consciência de que se todos fizessem esse “pouco” há mais tempo, não estaríamos tão próximos dessas calamidades.

Se você também é um desses mensageiros do apocalipse e carrega a mensagem de que o fim está próximo por conta da “ira de Deus”, saiba que boa parte desse “apocalipse” é culpa da conivência e do abuso dos humanos em relação à seu próprio planeta. Se você é despreocupado, alerte-se: logo pode ser tarde demais pra se preocupar. E se você é consciente ou ambientalista, continue fazendo a sua parte e convencendo mais pessoas a abraçar essa causa... o mundo agradece!

OBS: esse post faz parte do Blog Action Day 2009, um movimento com mais de 10 mil blogs de todo o mundo postando sobre o meio ambiente e as alterações climáticas no dia 15 de Outubro de 2009. O Blog Action Day faz, anualmente, um dia de discussão em vários blogs, com a intenção de refletir e agir em prol de um mundo e um futuro melhor.

13 de outubro de 2009

FISIOTERAPEUTAS


Quando você pensa em Fisioterapia, provavelmente deve pensar em ossos fraturados e membros engessados, lesões medulares associadas à cadeiras de roda e coisas similares, certo? Ok ok, eu estereotipei o pensamento alheio, desculpem-me. Você leitor, pode ser um pouco mais instruído e conhecer um pouco mais do trabalho de um Fisioterapeuta, mas a grande maioria da sociedade não conhece. É verdade.

No dia 13 de Outubro comemora-se o dia do Fisioterapeuta (e do Terapeuta Ocupacional também) e apesar das inúmeras conquistas, ainda há pouco motivo pra comemoração. Os Fisioterapeutas deste país ainda sofrem com a falta de remuneração adequada pelos planos de saúde (alguns pagam em torno de 7 reais por sessão de fisioterapia), desvalorização profissional, pouco conhecimento e reconhecimento pela sociedade e, pra variar, uma perigosa tentativa de submissão da formação ao mero nível técnico – graças ao Ato Médico, uma lei que pretende dar poderes plenos aos médicos, desvalorizando e subjugando mais de 13 outras profissões da área da saúde (como a Psicologia, a Enfermagem, a Odontologia e a Fonoaudiologia), só pra exemplificar. Junte a esses fatos a quantidade esmagadora de maus profissionais em nosso meio (muitos deles frustrados por se refugiar na Fisioterapia apenas por não terem conseguido passar em medicina), denegrindo, desunindo e deturpando um ramo profissional já com tantas dificuldades. Sim, ainda muito a ser feito... e fico feliz em saber que muita coisa já está sendo feita.

Eu não conhecia o que era a Fisioterapia antes de entrar na faculdade. Não sonhei em ser Fisioterapeuta desde criança. Não sabia que as bases que originaram a Fisioterapia vieram de milhares de anos atrás, antes mesmo do surgimento da medicina. Não imaginava que fosse me apaixonar por essa profissão e pelo significado que ela tem. Não sei o que vai ser da minha vida profissional no futuro, mas ter a certeza de que eu aprendi muito com a Fisioterapia e que ela ajuda a minha vida (e a dos meus familiares) a ser melhor e mais saudável. E não existe pra mim maior satisfação do que aliviar as dores de alguém, fazer alguém voltar a andar, a escovar os dentes, a respirar sozinho; enfim: ajudar as pessoas a conquistarem vitórias pessoais de independência e conforto. E salvar vidas.

Portanto, comemore junto comigo o dia do profissional que, sim, ajuda a melhorar a situação de membros quebrados e pessoas de cadeira de roda, mas que também alivia dores de diversos tipos e com anos de duração; que trata diversas seqüelas e deformidades em praticamente todo o corpo; que permite a muitas pessoas uma respiração mínima e confortável pra manter a vida; que é totalmente indispensável em qualquer UTI; que trata de estrias, cicatrizes e celulite; que torna partos normais com menos riscos e dores; e que tem a possibilidade de promover saúde de formas cada vez mais abrangentes e eficentes para indivíduos, desde o nascimento até a 3ª idade pra você e pra todos aqueles que você ama.

Feliz dia do Fisioterapeuta para todos aqueles que amam a Fisioterapia e para aqueles que precisam de serviços de uma profissão tão nobre!!!

OBS: Volto a comentar nos meus vizinhos a partir de amanhã. Desculpem o sumiço... =D

11 de outubro de 2009

11 DE OUTUBRO - DIA DE SAIR DO ARMÁRIO 2009


Eu me considero fora do armário. E não é só de um armário, foram vários: o da sexualidade, o do moralismo, o do preconceito, o pseudo-familiar, o religioso/espiritual... Se eu aprendi alguma coisa em todos esses anos, foi que eu não posso exigir dos outros nada do que eu não seja capaz de fazer. E isso vale pra qualquer aspecto, o que só reforçou a minha ideologia de vida: não julgue, não se intrometa, não critique ou elogie sem conhecer muito bem o alvo das suas palavras (e mesmo conhecendo bem, pense duas vezes antes de usar suas palavras). E é com base nessa ideologia que eu sinto certo direito de exigir que não façam o mesmo comigo.

Meu “outing” foi muito rápido, ocorreu a menos de um ano, e eu acredito ter mudado muito e reorganizado violentamente minhas concepções: saí da autoflagelação e da homofobia internalizada para a consciência de que nada de errado/estranho/diferente existe com os GLBT. E é por esse motivo que não acho necessário andar com faixas arco-íris ou camisetas do tipo “tenho orgulho de ser homossexual”. De alguma forma, eu ainda não quis escancarar as portas do armário, pois não consigo ver necessidade de que TODOS obrigatoriamente saibam a minha orientação sexual.

Seria esse um reflexo do preconceito da sociedade e da violência como resposta à esse preconceito? Talvez, mas em meus poucos 22 anos, nunca sofri ameaças de violência física por motivo algum; e modéstia à parte, sempre respondi à altura e argumentei muito bem quando a tentativa de violência foi verbal pelo fato de eu ser gay. Eu só acredito que cheguei a um ponto de equilíbrio e tranqüilidade onde eu não preciso bradar aos quatro cantos aquilo que eu sou. Veja bem: eu não digo que tenho orgulho de ter o cabelo liso, de ser fisioterapeuta, de ser pardo, de ser bem educado, de escrever bem, de ser um bom filho, de ser leal às pessoas que amo, etc. Então porque eu deveria gritar que tenho orgulho de ser gay? Todas são características do Alysson que sou e acredito que todas devem ser encaradas naturalmente. E sinto muito orgulho dessas e de muitas outras características minhas.

A meu ver, estar do lado de fora do armário não significa declarar sua sexualidade pra todos com o velho e tenso discurso “Eu preciso te contar uma coisa... eu sou gay/lésbica/bi”. Sair do armário é levar a sua vida de uma forma tão natural e espontânea que você não vai ver problema ao andar por aí de mãos dadas com seu namorado(a), em dizer você que achou aquele cara/menina bonita (nem de persegui-lo(a) com os olhos), em se vestir do jeito que você acha melhor sem se preocupar com o que vão pensar, em dar um beijo carinhoso em público, etc. A diferença é não esconder aquilo que você é, mas sem dar importância demais pra uma característica que é tão normal quanto qualquer outra. A idéia é justamente destruir esse tabu montado sobre a homossexualidade como o completo oposto da heterossexualidade; a idéia é repassar a mensagem das similaridades e não das diferenças. Você acaba assustando algumas pessoas, mas elas ficam completamente desarmadas pela espontaneidade e tranqüilidade.

Por outro lado, o preconceito existe e ele não será apagado do dia pra noite. Ele precisa ser combatido SIM. E na hora de combater o preconceito, foda-se o que vão pensar de você, pouco importa se você não quer se expor. A informação é a melhor arma contra o preconceito, portanto não se sinta ofendido quando alguém resolver tirar dúvidas com você sobre os aspectos GLBT, pelo contrário, sinta-se honrado por disseminar informação (e trate de fazer isso de forma correta). Depois que já estiver fora do armário, discuta com seus pais e amigos a respeito disso, eles podem propagar a mensagem de igualdade. E não se omita: se sentir que foi discriminado, saiba que a lei está ao seu lado, a Constituição diz que nenhuma forma de discriminação pode ser aceita. Se algum amigo te ofendeu com algum comentário homofóbico, converse com ele da mesma forma que você conversaria para resolver qualquer outro tipo de ofensa, ele entenderá se for seu amigo.

Sair do armário é um processo quase sempre difícil, que exige tempo (mais pra uns, menos pra outros), autoconhecimento, informação e, na maioria das vezes, ajuda de um amigo, de um familiar ou mesmo de um psicólogo. Não apresse essas coisas, elas virão com o tempo e você saberá a hora certa de agir. O “outing” é mais fácil pra uns, mais difícil pra outros, envolve muito amor em uns casos, manifesta-se com violência em outros casos. Ninguém é melhor do que você pra avaliar como serão as reações das pessoas envolvidas e em que casos será necessária uma retirada estratégica e temporária pro armário, portanto, ninguém pode dizer quando será a melhor hora pra você.

A mensagem final é: porque sair do armário? Simples, porque viver um personagem cansa. Esconder uma parte de você é anular essa parte que, acredite, é tão importante como as outras. Acredite, a sensação de não ter que escolher as palavras, de não precisar ter medo do que vai falar pra não se comprometer é maravilhosa. Aliado a isso, em muitos casos a família apóia e respeita; e você percebe que as amizades só crescem a partir da “revelação”, a cumplicidade aumenta... a verdade não tem preço. Acredito plenamente que estar fora do armário simplesmente aumenta as suas chances de ser mais feliz!

9 de outubro de 2009

HUMOR, PRECONCEITO E BOM SENSO



Atenção: esse post será bem maior que de costume e provavelmente dará algumas voltas antes de chegar a uma conclusão, e esta conclusão é a MINHA opinião. E lembre-se sempre que você tem todo o direito de não concordar com essa opinião e livre espaço pra argumentar contra ela, desde que seja EDUCADAMENTE.

[...]

Ontem, um dos meus (raros) amigos do sexo masculino, heterossexual e que soube da minha sexualidade há pouco tempo resolveu conversar a respeito de homofobia e outros tipos de preconceito. Achei incrível a iniciativa dele, admitindo-se ignorante sobre o assunto e pedindo opiniões, esclarecimentos. Mas ele disse algo que fez pensar mais do que eu já sei a respeito de preconceito:

– “Pelo menos na minha opinião, a gente muda demais a visão das coisas quando é alguém que gostamos.” (no caso, referindo-se a descobrir que uma pessoa querida é homossexual).

Essa mudança de “visão” fez com que ele começasse a enxergar certa homofobia em alguns dos seus atos e exatamente por esse motivo ele veio conversar comigo, pra que eu desse uma espécie de veredicto do tipo “isso é preconceito” (fiquei lisonjeado, mas estou longe de poder dar esse tipo de veredicto). Em um dos seus exemplos, ele citou ter vergonha por ter brincado com as mais diversas piadinhas sobre gays que foram presentes durante todo nosso período de faculdade, quando nem ele ou nenhum dos meus amigos sabia da minha orientação sexual.

[...]

Ainda no assunto humor, recentemente assisti a um debate na MTV que discutia exatamente isso: até quando uma piadinha pode ser engraçada sem ser preconceituosa? Aliás, é possível haver humor politicamente correto? E apesar do debate ter sido uma porcaria – porque todo mundo queria falar ao mesmo tempo e porque não conseguiram chegar a uma “conclusão” em comum – ele serviu pra me estimular a pensar mais a respeito do assunto. No debate foi discutido com grande foco a polêmica recente no Twitter do humorista @DaniloGentili, que publicou a seguinte frase/piada:

– “King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?”

A frase causou polêmica devido à antiga e preconceituosa associação entre macacos e negros, reforçada pela tirada infame de que “jogadores negros tem preferências por mulheres loiras”. O humorista foi duramente criticado por ONGs de defesa da igualdade racial e por milhares de pessoas no Twitter. O Danilo Gentili argumentou com outra frase no Twitter e por telefone (durante o programa de debates) com as seguintes frases:

– “Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?”

– “A piada é cruel com todos. É cruel com o político, com o eleitor, com o preto, com o branco, com o amarelo, com todo mundo. O que você não pode é ter a auto-estima tão baixa ao ponto de se ofender diretamente pelo que a piada diz.”

[...]

Com as considerações e fatos devidamente citados, vamos às opiniões. É bem verdade que piadinhas sobre as minorias (e maiorias também) existem e são de todos os tipos. São piadas raciais (contra brancos, loiras, negros, amarelos índios), políticas (contra eleitores, políticos, campanhas), religiosas (contra judeus, católicos, evangélicos, muçulmanos, religiões iorubás), regionais (contra gaúchos, nordestinos, portugueses, americanos, etc), sexuais (contra gays, lésbicas... e contra heteros também), etc. As piadinhas são parte da nossa sociedade e é absolutamente comum que você cresça ouvindo piadinhas de alguns desses grupos... geralmente piadinhas do grupo que você não faz parte (ou que pensam que você não faz parte).

Mas nem de longe eu sou hipócrita o suficiente pra dizer que nunca ri de piadas de negros, de portugueses e até mesmo de gays. Eu cresci rindo de piadas de todos os tipos. Não sou “politicamente correto” e concordo plenamente com o Danilo Gentili quando ele diz que as piada são cruéis (e neste assunto, concordo com ele somente neste ponto). As piadas realçam e exageram o feio, o diferente, a minoria, os defeitos, os estereótipos, etc., e a intenção é exatamente provocar risos desses aspectos, criticando-os. Eu particularmente não classifico as piadas por serem preconceituosas ou não, eu as classifico em “piadas boas” e “piadas ruins”, e a piada do Gentili foi muito, MUITO ruim.

Sinceramente, quando me contam uma piada de gays eu tenho apenas duas reações: rir quando é boa e não rir quando é ruim. Mas eu admito que se hoje eu penso assim é porque estou muitíssimo bem resolvido com o que sou e ponto. Não estou em nenhum “armário”, não escondo meus pontos de vista e não me ofendo com piadas (boas ou ruins) sobre a minha sexualidade, simplesmente porque, quando estou entre amigos gays/lésbicas/bissexuais, o alvo da piada são justamente os heteros. Sim leitores heterossexuais, existem MUITAS piadas ridicularizando os heteros, piadas boas e piadas ruins.

O que deve ficar claro é que o humorista não sabe quando o público da sua piada faz ou não parte do grupo que é ridicularizado. O humorista também não sabe se a auto-estima do seu público é/está boa ou não, e tampouco sabe se ele está ou não bem resolvido com seus problemas individuais. Acreditem: existem gays homofóbicos, negros racistas, loiras (burras) que pintam os cabelos e uma infinidade de pessoas que rejeitam aquilo que são; e são essas as pessoas que mais se ofendem com piadas preconceituosas. As piadas são cruéis, mas o humorista jamais pode calcular os danos que elas podem trazer em pessoas mal-resolvidas que são o alvo das piadas. Entretanto, não é responsabilidade do humorista passar a mão na cabeça de gente frustrada, ele está lá pra fazer você rir. E se o público não gosta da piada, ele morre de fome ou procura outro emprego, simples assim. Frustração se resolve com terapia e psicologia.

Se por um lado o Danilo Gentili foi infeliz com sua piada ruim, não entendo exatamente o porque foi feito tanto alarde sobre esse fato. O Christian Pior (personagem do Evandro Santo no Pânico), por exemplo, é totalmente cruel e venenoso com gente pobre, feia, sem classe, etc. Apesar do personagem ser gay, ele nunca é a vítima (por mais que alguns tentem) e é exatamente por isso que é tão engraçado. Ele xinga e critica deliberadamente no seu quadro e ninguém vem em defesa dos pobres e marginalizados, pelo contrário, é muito mais fácil irem contra a “bichinha”. E eu torno a tocar em uma ferida: a resposta pra isso é que racismo é crime, enquanto boa parte das outras formas de preconceito não são, como por exemplo, a homofobia. E nem de longe eu espero que um dia as pessoas sejam presas só por me chamarem de viado (até porque isso implica em prender minha família e meus amigos), a diferença está na violência e não na simples palavra.

Aonde o Alysson vai chegar afinal? Simples: você não deve chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa e nem negro de macaco, A MENOS QUE o gay/gordo/branco/negro/etc te dê liberdade o suficiente pra isso. Meus amigos me chamam de gay, viado, etc. Eu chamo amigas lésbicas de sapata, amigos gordos de obeso, etc. Porque independente do que foi dito, existe RESPEITO e não é uma palavra de tratamento que destrói o respeito, é a intenção e forma como as palavras são ditas. Existe uma diferença abissal quando um amigo me diz “Ae viado, como vai?” e um estranho fala “Seu viado de merda!”, o que só comprova que uma mesma palavra pode causar efeitos completamente diferentes.

Concluindo: não é a piada que é preconceituosa, é a nossa sociedade, a nossa cultura que são preconceituosas, sexistas, racistas, xenofóbicas, homofóbicas. Num possível mundo utópico onde o preconceito não existisse, duvido mundo que o humor e as piadas deixassem de existir ou mudassem seus focos. O que provavelmente deixaria de existir é a hipocrisia, que “permite” que um gay ria da piada de negros e reclame quando a piada é sobre gays; um cearense ria da piada de gaúcho e sinta-se ofendido com piadas contra nordestinos. As pessoas continuariam rindo quando a piada fosse boa e não ririam quando a piada fosse ruim, sem frustrações, sem traumas, sem defender os alvos das piadas ou sem se ofender quando se é o alvo. O politicamente correto simplesmente não existe sem falso-moralismo, que existe em abundância por aí. E pra finalizar, uma frase que conclui perfeitamente o pensamento: “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”.