27 de fevereiro de 2009

I WANNA ROCK AND ROLL ALL NITE AND PARTY EVERY DAY…

Que carnaval não tem nada de “rock and roll” todo mundo sabe, mas a frase vale pela piração absoluta que eu vivi nesses 4 dias de “party every day”. Pelo menos aqui no Maranhão, carnaval é época de samba, de axé, de marchinhas, de confete, de spray de espuma, de abuso de drogas lícitas/ilícitas, de muito pouca paz e silêncio, de mulheres (em grande parte feias) semi-nuas andando na rua, de homens exibindo músculos (infelizmente, em grande parte feios também) e de MUITA futilidade.

Tem tudo pra ser uma época detestável pra mim, mas milagrosamente não é. E só não é porque é uma época onde eu desencano de tudo e de todos, caio no clima de futilidade e aproveito numa boa, com a desculpa de que é carnaval e que nessa época tudo tem perdão. E no carnaval eu viro um sujeito muito fácil de conviver. É mais ou menos assim...

Carnaval é uma época onde eu me isento do meu bom (pelo menos acredito que seja) gosto musical e tolero qualquer porcaria que se toque, isso inclui “mulher não trai, mulher se vinga” e “eu quero mais é beijar na boca” (argh!), ou coisas piores, quase uma surdez seletiva. Além disso, qualquer indivíduo suado, sujo ou embriagado torna-se completamente tolerável (dentro dos limites óbvios, claro), mesmo que ele/ela esteja pisando meu pé. Carnaval também é uma época onde eu abdico facilmente da extrema necessidade de uma cama ultra-confortável à minha disposição ou de um banheiro extremamente limpo. Qualquer coisa serve, desde que eu possa dormir em paz até chegar a hora da próxima festa e usar o primeiro banheiro improvisado para minha auto-limpeza. Eu sou uma pessoa muito pouco exigente no carnaval.

E claro, carnaval é uma época onde eu abuso também, bebo bastante (somente vodka, ela evita a barriga nada sexy da cerveja em excesso), fumo um cigarro e até arrisco uma ou outra droga ilícita. E faço isso graças a um único motivo: em TODO carnaval eu me cerco de amigos verdadeiros, aqueles dos dedos da mão, e deposito neles a confiança pra estar bem no dia seguinte. E no dia seguinte é a minha vez de estar sóbrio para que eles depositem a confiança em mim. E nesses 4 dias mágicos, eu só fortaleço meus laços de amizade. O fígado e o estômago, entretanto não ficam lá muito fortes, wathever.

Carnaval é uma época onde eu não brigo, não me estresso, não me incomodo, não ligo... Mesmo se a situação for debaixo de uma chuva torrencial, com os pés sujos de lama, morrendo de frio, com pouca grana e com fome (que aconteceu nesse domingo de carnaval... tsc tsc tsc). Isso tudo porque são meus 4 dias de libertação absoluta das amarras que não se pode romper durante o cotidiano. Não é uma época de falsidade ou sinceridade demais, mas sim uns dias de espontaneidade total onde não me interessa as conseqüências dos meus atos mais fúteis, embora SEMPRE conscientes. E se alguém me cobrar ou jogar na minha cara algo que fiz no carnaval, nego até a morte ou ligo o “foda-se, tanto faz.

Carnaval é uma tradução muito bem apropriada do “I wanna rock and roll all nite and party every day” para o português brasileiro, com direito a sexo, drogas e... axé/samba/marchinhas. Nem tudo é perfeito.

OBS: A parte do sexo está implícita em “carnaval é uma época onde eu abuso também”. Nas entrelinhas das entrelinhas.

21 de fevereiro de 2009

CARNAVAL


Sumiço provisório já programado. Este jovem garoto aqui viajará daqui a exatamente duas horas para Pinheiro - MA e curtirá o Carnaval muito bem desacompanhado. Tem coisa melhor?

Volto pra este ponto sináptico na quarta-feira de cinzas, espero eu com o coração e o fígado intactos.

Abraços!

15 de fevereiro de 2009

MY GIRL


"Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade..."
(Janta – Marcelo Camelo)

Emocionalmente inspirado no conto do blog Gay Alpha (O Outro, no momento com 5 partes) e na bela história de amor de Crepúsculo, nada mais justo do que escrever sobre um romance passado da minha vida, um que certamente é inesquecível. Adianto: o texto será longo!

Eu conheci a Larissa em maio de 2008, ela morava em Fortaleza – CE, tinha acabado a faculdade de Psicologia. Ela convenceu os pais de que precisava de um tempo pra pensar e pra viver melhor consigo mesma antes de aprender a “crescer”. Eles concordaram e deram a ela 6 meses de férias, algo dentro das capacidades financeiras (não muito modestas) da família. E ela fatidicamente escolheu São Luís do Maranhão. E há quem não acredite em coincidência... pois bem, ela me encontrou meio embriagado nas ruas do centro histórico da cidade, e um dos pontos mais gays dela!

Eu não sei quem de nós dois foi o primeiro a se apaixonar pelo olhar do outro, uma coisa completamente inexplicável mesmo. Naquela época eu estava triste, frustrado, no meio de uma franca depressão causada por um amor malignamente platônico por um grande amigo e pela minha insatisfação e não aceitação da minha orientação sexual. Quando olhei para a Larissa (que sempre pediu pra ser chamada de Lay), decidi que ela seria a minha última tentativa de “heterossexualização”. Mal sabia eu que seria a mais fracassada de todas, porém a mais feliz.

E ela foi forte e decidida desde o início, nem me deu fôlego pra seduzi-la. Ela mesma me fuzilou com seus olhos e me pediu uma noite de amor intenso, assim mesmo, sem nem pestanejar. E ficamos naquela mesma noite, no meio de ardentes beijos na parede da boate (gay, claro) e declarações sedutoras. Nunca tinha sentido tamanho tesão por alguém do sexo oposto, mas ela me atraía de uma forma completamente indiscutível. Lay seguia fielmente o meu estereótipo de mulher perfeita: não muito alta (algo em torno de 1,65 m), cabelos lisos, olhos claros, traços fortes e nada exagerado (nem "melancia", nem "melão", nem "morango" nem nenhuma mulher-fruta). A forma com que ela se vestia era o melhor, nunca era formal nem largada demais, sabia se equilibrar poderosamente entre vestidos curtos e calça jeans + all star sem nunca parecer mal vestida. E não tenho a menor idéia do que em mim era atraente para ela.

Terminamos aquela noite no seu quarto de hotel e pela primeira vez senti muito prazer no sexo com uma garota. E pela segunda e terceira vez. Acordei abraçado a ela, com minha cabeça sobre o seu peito, como se eu fosse o elemento frágil da relação. Ela já estava olhando pra mim, estava acordada esperando que eu despertasse, e me presenteou com sorriso perfeito no meu primeiro momento do dia. Não consegui resistir a tamanha sinceridade em seu olhar e lancei minha frase no silêncio do quarto:

– “Lay, eu sou gay.” – ela manteve seu sorriso, que aumentou ainda mais.
– “Acha que eu não saberia depois de tudo o que aconteceu ontem?”
– “Sinceramente? Acho.”
– “Não quero te forçar a nada, só quero que prometa que serei a única enquanto estivermos juntos. Eu disse ÚNICA, no feminino.” – ela reforçou bastante essa parte da frase.
– “Isso é um pedido de namoro?” – sorri.
– “Seria de noivado se você não fosse gay.” – brincou ela.

Foi a coisa mais louca que eu vivi, a pessoa mais insana e irresponsável que eu conheci e a melhor companheira que já tive. Ela nunca me reprimiu ou censurou em absolutamente nada que eu fizesse. Era divertido ir à praia com ela e, por baixo dos óculos escuros, fitarmos juntos os homens mais lindos que passeavam por lá (éramos também duas serpentes destilando venenos nas mulheres mais feias e bregas!!!). E era divertido também apresentá-la aos meus amigos que também eram gays, quase uma piada interna entre nós.

Ela foi a maior e mais dedicada professora que eu já tive. Ela me ensinou que ser gay não era “errado”, me ajudou a esquecer o meu amor platônico, estendeu uma das mãos que me puxaram da depressão, me ensinou a ser sedutor, a jogar na arte da conquista, me deu apoio em diversas decisões, secava minhas lágrimas, compartilhou todos os meus momentos felizes durante nossos 2 meses de namoro. Ela me ensinou muitas coisas muito mesmo, coisas que jamais imaginei que fosse aprender. Eu era um garotinho descobrindo a vida e ela, apesar de ser apenas 8 meses mais velha que eu, era uma eterna aprendiz, porém muito mais experiente.

Mas a vida nunca segue agradando a todos. Aos poucos eu começava a me render à minha natureza homossexual. Lentamente aquele sentimento ardente de paixão se tornou um manso sopro morno de amizade, porém confortante para mim. Ela ao contrário, se via cada vez mais apaixonada por mim, me amava cada dia mais, pedia minha presença quase que constante. E como ditam as leis da matemática: retas paralelas jamais se cruzam. Ela gostava e desejava um homem. Eu gostaria e desejava também ter um homem. Ponto. Minha sinceridade foi maior que minha dó por seus sentimentos, e eu precisei dizer a verdade a ela: o namoro deveria acabar. Suas lágrimas caíram em silêncio num rosto sorridente. Inevitavelmente, as minhas lágrimas acompanharam as delas. Nos beijamos pela última vez e nos abraçamos num ato que eu senti ser a despedida.

Ainda a encontrei mais duas vezes. Na primeira ela me presenteou com uma foto e um número de telefone no verso desta. Na segunda e última vez ela pediu delicadamente que se eu mudasse de opinião quanto à minha sexualidade (ressaltando várias vezes o quanto isso só deveria acontecer se fosse para a exclusiva causa da minha felicidade), e somente nesta circunstância, que eu ligasse para o número atrás da foto, para que ela pudesse destruir todos os alicerces de sua vida e correr de volta pra mim. Era o fim de dois meses de pura intensidade e felicidade, e eu lamentei a minha impotência diante da situação.

Desde então, Lay não apareceu em minha frente, não atendeu telefonemas, não respondeu mensagens SMS, desapareceu do MSN e do Orkut, não foi mais vista pelos nossos amigos em comum e não estava mais no seu hotel. Ela desapareceu para nunca mais me ver e não precisar sofrer por me ter ao alcance de suas mãos sem jamais estar ao alcance do meu coração. Eu cumpri fielmente minha promessa não ligando pra ela, pois ainda desejo e busco um homem em minha vida. Eu jamais ousaria decepcioná-la ou ainda usá-la.

Desde que conheci a Lay, percebi o quão é perigoso amar e apostar nos sentimentos alheios. Decidi jamais fazer outra garota chorar por tal situação. E jurei pra mim mesmo que seria feliz, para que Lay, independente de onde e com quem ela estiver, ficasse satisfeita ao ver minha felicidade e pudesse buscar a própria felicidade em paz.

E Lay, se algum dia você vier a ler este texto, saiba que eu ainda te amo como uma das minhas melhores amigas e pessoas mais fabulosas e encantadoras que já conheci. Mas infelizmente não posso retribuir o mesmo amor que você me oferece. De coração eu lamento muito.

P.S.: Sobre Crepúsculo: o livro é ímpar, romântico, intenso, misterioso, perfeito e possui continuações que prometem muito mais histórias do mesmo nível. Mas não se engane assistindo o filme, ele não corresponde as expectativas do livro. Aliás, se você quer destruir a história/ambientação/teor de um livro qualquer, basta fazer dele um filme.

12 de fevereiro de 2009

CREPÚSCULO?


Eu detesto modinha, JURO! Acho que é por isso que detesto ir no cinema em dias de estréia, detesto ouvir um CD só porque estourou na rádio/TV e também detesto assistir a série/anime/wathever que é febre do momento, etc. Geralmente eu só reconheço se esses produtos da mídia são bons ou ruins muito tempo depois de terem feito sucesso, o que eu considero um excelente exercício de bom gosto (que eu acredito ter, sem nenhuma modéstia). É, eu me permito conhecer "pós-modinhas".

Exemplo? Aí vai um: só recentemente descobri que gosto de Paramore, uma ex-banda-modinha cujo último CD de alto sucesso (o Riot!) já foi esquecido pelas massas a uns 3 meses no mínimo. Isso me permitiu saborear cada pedacinho do trabalho da banda sem ter uma massa de fanáticos me dizendo nada menos do que a mídia vende. E eu já mencionei que eu detesto "opinião das massas", "senso comum".

Mas não é disso que eu vim falar aqui hoje. Fato é que eu comecei a ler um livro que também é ex-modinha: "Crepúsculo" (Twilight) da Stephenie Meyer. Nem preciso dizer que estou adorando, né? Porque senão nem estaria falando dele aqui. Sem falar muito, o livro fala de um romance de uma garota desajeitada (Bella) com um garoto misterioso (Edward), um romance que tem sua base abalada por fatos que insistem em forçar a separação do casal. Em síntese é isso, um livro sobre romance, mistérios, e aventura, exatamente o que eu gosto de ler. E olha a ironia: eu soube da existência de Crepúsculo graças ao single mais atual do Paramore, Decode, que é a música oficial do filme Crepúsculo (baseado no livro) e que eu também adoro.

- "Aonde o Syn quer chegar afinal? Modinhas? Paramore? Crepúsculo?"

Não, nada disso. Foi uma forma completamente enrolada e demorada de dizer que, até eu acabar de ler o livro, nada de postagens novas por aqui... mas se você gosta do Sinapses (e eu agradeço bastante por isso!), fique tranquilo (a). Eu sempre li coisas que gosto muito rapidamente. Por exemplo: em dois dias extremamente atarefados, já li 7 dos 24 capítulos do livro, mais ou menos 150 páginas, uma média muito boa.

Paciência, porque daqui a uns dias eu volto (já inspirado no clima de romance de Crepúsculo) e conto a história de um dos meus romances passados. Afinal, ninguém é de ferro, né?

Beijos + Abraços = Boa semana pra vocês!

P.S.: Na foto os atores que representaram Isabella Swan e Edward Cullen no filme, que eu ainda pretendo assistir depois de ler. Eles são lindos, não?

9 de fevereiro de 2009

AMIGOS!


Todos nós temos certas prioridades na vida. Essas prioridades refletem exatamente o que você é, o que você quer, o caminho que as suas bases (que eu comentei no post passado) te indicam a seguir. Essas bases variam muito de pessoa pra pessoa e em diferentes épocas da vida de uma mesma pessoa. Eis a grande prova de que mudamos, crescemos e ficamos mais experientes. Eu por exemplo era um indivíduo tipicamente “normal”, que valorizava todas as bases que as pessoas me ofereceram, mas felizmente eu mudei. Tornei dispensáveis e secundárias todos aqueles conceitos de senso-comum e guardei cuidadosamente a única base que encontrei sozinho e ela tornou-se a minha prioridade: a AMIZADE.

Muitas pessoas desconhecem o que exatamente é a amizade simplesmente por não terem amigos de fato, ou então porque amizade não é uma coisa tão absoluta e objetiva que caiba num conceito prático. Amizade não se define se sente; por isso que as melhores tentativas de explicar o que é esse sentimento são subjetivamente poéticas. Infelizmente eu não sou um poeta, pois sou emocionalmente instável demais pra isso. Mas me considero muito bom em externar o que sinto, por isso vou tentar explicar o que considero amizade de verdade.

Amigo não é só aquela pessoa com quem você sentiu afinidade gratuita (identificação pessoal), nem aquele que sempre está ao seu lado nos momentos difíceis e comemora junto os seus momentos felizes. Muitas pessoas se enquadram nesses conceitos, poucas de fato são amigos. Amigo não precisa fazer nada em especial pra que você o ame, não precisa falar nada pra te deixar bem, não precisa te presentear nem te elogiar pra te agradar; a mera presença de um amigo faz de você alguém mais feliz. E nem precisa ser presença física: um telefonema, SMS, conversa por MSN, etc. são suficientes pra sentir essa felicidade espontânea. Amizade é um sentimento que lembra vagamente a paixão, diferenciando apenas por não ser incandescente nem tão intensa e porque os objetivos finais são muito diferentes; mas o bem estar proporcionados por ambas as situações são muito semelhantes.

Amizade não requer grandes atos (é claro que eles fortalecem ainda mais os laços), mas sim pequenos gestos que tocam exatamente nossa na fragilidade afetiva, e esses gestos nos cativam incondicionalmente, inquestionavelmente. A amizade não precisa de declarações ou belas palavras, pois ao lado de um amigo um mero olhar ou o silêncio pode dizer muito mais que tudo isso. Com o verdadeiro amigo o silêncio nunca é constrangedor, o fato de estar ao lado de um amigo verdadeiro proporciona satisfação independente do que se faça, seja trabalhoso, difícil ou divertido. Nem todos os amigos tornam-se confidentes, mas todos serão eternos cúmplices da nossa vida. Mesmo a distância ou o tempo não destroem amizades, no máximo podem empoeirar a relação, porém um reencontro é capaz de desenferrujar qualquer coisa entre amigos.

Não é à toa que é comum termos poucos amigos verdadeiros, aqueles que “cabem nos dedos das mãos” (e em alguns casos os dos pés também). Amizade verdadeira é aquela onde é possível amar os defeitos do amigo com a mesma intensidade que se ama as qualidades, é trazer pra si a responsabilidade de sempre ajudar o amigo a melhorar seus piores defeitos. É desejar a felicidade mais completa e apoiar o amigo nas mais difíceis decisões, mesmo que isso leve a coisas desagradáveis, como ele morar em uma cidade ou país diferente do seu. É ceder e também exigir algumas vezes. É realizar alguns sacrifícios por seu amigo e nem sequer perceber quão ruins eles podem ter sido pra você mesmo, pelo contrário, é sentir-se satisfeito em ter feito algo importante por ele. Amizade não se explica, não se faz, não se cria, não se força, não se escolhe, como disse certo poeta: “A gente não faz amigos, reconhece-os”.

E é exatamente por tudo o que os meus verdadeiros amigos significam pra mim faço deles a minha prioridade mais sagrada. Já fiz loucuras pra proteger ou garantir a felicidade de um amigo, fui capaz de grandes sacrifícios apenas para manter a paz de um amigo intacta. E jamais me arrependerei de qualquer um desses atos. Principalmente porque a amizade é a base mais sólida de todos os que são importantes para mim. Se amo minha mãe, não é porque simplesmente ela me gerou, mas sim porque como uma verdadeira amiga ela faz de tudo para me fazer mais feliz. Se amo um namorado, é porque antes de qualquer atração física ou carinho, ele é meu amigo. Se amo e acredito em um Deus, é porque tenho convicção de que ele é meu amigo e muito já fez e ainda faz por mim.

Concluindo: meus amigos talvez sejam os bens mais preciosos que possuo e faço questão de permitir que eles saibam isso. Eles são meus pontos essenciais de equilíbrio, minha fonte de coragem, são eles os únicos capazes de mover toda a minha força contra um objetivo, e também são eles a minha maior fraqueza. Por isso meus verdadeiros amigos, muito obrigado por existirem e fazerem de mim um cara mais feliz!

P.S.: Este vídeo contém as palavras que melhor retratam meus sentimentos.


4 de fevereiro de 2009

BASES INVERTIDAS?


Ontem cheguei em casa morto de cansado. O estágio acadêmico recomeçou com toda força possível, e diferente dos estágios em clínicas que eu já estou acostumado, a atual fisioterapia hospitalar é de uma responsabilidade tremendamente maior. O cansaço vem de uma série de fatores que convenientemente preciso citar: trata-se de um grande centro hospitalar público municipal, localizado em um bairro periférico (mas periférico MESMO) de São Luís. Isso já é informação suficiente pra se ter uma noção quase detalhada da situação (em se tratando de Brasil, Nordeste e Maranhão). O “Socorrão II” é um hospital completamente lotado, mal organizado, com macas por todos os corredores, com pacientes e acompanhantes de semblante sofrido, profissionais estressados e infra-estrutura decadente. Não temos espaço sequer pra sentar, os banheiros são lamentáveis (apesar de lavados), não tem bebedouro em lugar algum e os engenheiros/arquitetos esqueceram completamente o quesito ventilação do ambiente, algo como 10 minutos ali dentro provoca uma sudorese equivalente a 30 minutos de sauna. A verdadeira visão do descaso na saúde do Brasil.

O cansaço vai além do fato de ficar em pé das 13:30 as 17:30, ele inclui o fato de que as macas dos pacientes são completamente anti-ergonômicas pra nós profissionais (muito baixas ou altas) e isso exige posturas que, só de pensar, fazem minhas costas doerem. Além de físico, o cansaço é mental: eu preciso me conscientizar de que por mais que existam pessoas de muito baixa renda e que estejam em situações de saúde precária, eu jamais conseguirei ajudar/tratar todos eles. E isso me remete à frustração, impotência. Juro que daria tudo pra obrigar patricinhas e playboys, ao menos uma vez na vida, a sobreviver por um dia inteiro nessas condições, tenho certeza que o mundo seria melhor (e quem sabe de lá sairiam vários Bono Vox’s).

Pois bem, chegando ao condomínio vi um grupo de vizinhos reunidos (a maioria simpáticos) e resolvi conversar um pouco antes de subir. A pedidos, dei a eles a mesma noção do ambiente de estágio que acabei de citar e isso provocou uma série de discussões, que iam até bem, até que alguns dos vizinhos (os antipáticos, pra variar) começaram a despejar opiniões:

Vizinho A: – “Ah, mas a gente não pode desistir, temos que ser fortes e brasileiros.”

Vizinho B: – “Isso é só a realidade, tu já devia ter se acostumado. É tudo culpa da política.”

Vizinho C: – “Eu oro todo dia na igreja pra que eu não precise nunca ir pra um lugar desses.”

Vizinho D: – “Ah cara, isso acontece mesmo porque a família desses pacientes não ajuda, porque se todo mundo colaborasse dava pra levar o cara pra um hospital particular.”

Vizinho E: – “Se eu fosse tu não teria pena de neguinho não, aquele povo todo tem um pé na bandidagem.”

Mas sem dúvida o comentário mais infeliz foi:

Vizinho F: – “A culpa disso é que tá tudo invertido, todos os princípios, todas as bases.”

Aquilo foi a gota d’água. Saí logo dali sem dar opinião nenhuma, pois aprendi que a luz da razão não serve pra iluminar os cegos, não vale a pena. E tive um nojo tão grande da sociedade na qual estou inserido, uma verdadeira repulsa dessas “bases” que são usadas para auto-redenção e para culpar o otário mais próximo dos problemas que existem. E percebi que eu rompi os conceitos e a dependência de todas essas bases que as pessoas tanto valorizam: “moral e bons costumes”, “família”, “patriotismo”, “fé” e “aparência social”. Me senti extremamente tranqüilo porque me senti livre dessa máquina de hipocrisia que é essa sociedade.

Esses comentários infelizes relampejaram em minha mente como um Déjà Vu de tudo o que eu já escrevi neste blog. Afinal você leitor, que já leu as postagens anteriores, conhece a minha opinião sobre extremismo (de qualquer espécie, o que inclui rótulos e “opinião comum”), patriotismo, relacionamento familiar e religiões em geral. E já deve ter percebido que pra mim essas “bases” são completamente frágeis, instáveis ocas, não me oferecem nenhuma segurança na minha vida. Logo, eu sou o mais perfeito exemplo de inversão dessas bases (que o Vizinho F comentou) e não me sinto culpado pela situação atual do Socorrão II. Já os tais vizinhos deveriam se sentir culpados...

E sigo colocando os pingos nos “is”. Porque não adianta ter esperança, ser forte e acreditar no Brasil se o Vizinho A (que é uma senhora de uns 40 anos já aposentada e acomodada na vida) não faz nada para mudar esse tipo de coisa.

Nem adianta se acostumar, diferente do vizinho B (um garoto de 16 anos, que ainda não sabe porra nenhuma da vida, mas já votou em 2008), devemos é usar a política “culpada” pra melhorar a situação, em vez de se isentar dessa responsabilidade.

E não adianta “orar” na igreja (não interessa qual) e em seguida cruzar os braços pra realidade, aliás, Vizinho C (um pastor de uns 50 anos), seria no mínimo religiosamente correto da sua parte “orar” também para que a situação do Socorrão II melhore, assim ninguém seja precisará sofrer a dura realidade da Saúde no Brasil.

E diferente do que o Vizinho D (uma garota de 20 anos que ainda está na 8ª série escolar) afirma a saúde pública deveria suprir completamente a necessidade da população independente dos serviços privados existirem ou não, e sinceramente, duvido que este indivíduo saiba do estado atual de saúde de pelo menos 25% da sua família.

E finalmente Vizinho E (um playboy de uns 28 anos, sustentado pelos pais e sem nenhum investimento escolar), se bandidagem é crime; calúnia, difamação, preconceito e danos morais também são. Muitas daquelas pessoas (se não a maioria) têm vidas muito mais dignas e com trabalho honesto.

O Vizinho F nem precisa ser comentado ou citado. Esse tipo de falso-moralismo é tão inútil quanto a opinião dos outros 5.

Sei que não sou o cidadão perfeito. Mas faço tudo aquilo que sei fazer e está sob meu alcance pra mudar as merdas que a sociedade instalou e impôs como “é o jeito”. Isso inclui e-mail de cobrança pros candidatos que votei, reuniões de condomínio e comunidade, trabalho voluntário e etc. Sei que sou omisso em diversos pontos, mas não vomito superioridade nem uso as MINHAS BASES pra culpar os outros pelos meus erros, mesmo quando os erros não são só meus (e nem quando eles definitivamente não são erros meus). Tente você fazer o mesmo.

OBS: Quanto as MINHAS BASES... bom, na verdade trata-se de apenas UMA base (isso mesmo, no singular) e esse será o assunto do meu próximo post...