29 de outubro de 2010

FOGOS DE ARTIFÍCIO


Eu não estou postando este clipe porque a Katy Perry é uma diva pop, ou porque o clipe foi lançado ontem ou porque toda a massa GLBT (principalmente a G) já viu, aprovou (ou não) e já decorou toda a letra da música e a música. Não, também não tem nada a ver com o beijo gay. Eu detesto modinha e, apesar de adorar sim a música pop, eu não gosto da forma como ela é supervalorizada atualmente, sendo uma fútill substituta da cultura decente. Mas a Katy realmente me surpreendeu com este novo clipe.

Eu já ouvi todo o novo CD dela e já conhecia a letra de “Firework” (fogos de artifício). Eu já gostava da música e já havia captado a mensagem por trás da letra. Quando soube que seria o próximo single do CD, bateu ao mesmo tempo uma satisfação e um medo: será que o clipe vai ser tão bom quanto a letra e a melodia da música? E olha só que bela surpresa... veja você mesmo(a):



Katy Perry e sua equipe conseguiram demonstrar uma postura positiva, de enfrentamento dos seus medos e preconceitos, de visibilidade externa dos nossos problemas, de otimismo e recomeço, de atitudes capazes de mudar a sua realidade. A sensação que dá é literalmente de explodir como um fogo de artifício, reunir sua luz interior e deixar que ela brilhe. O efeito visual  de cada caso do clipe é 100% contagiante e me emocionou de verdade em todos eles. Simplesmente fantástico, totalmente auto-explicativo, sem um pingo de mensagens clichê ou no estilo auto-ajuda!

Finalmente a Katy destacou-se por uma mensagem que realmente faz a diferença, e não por ser a menina que beijou outra garota numa festa ("I kissed a girl") ou por querer espiar o pinto alheio ("Peacock"). Firework foi tão tão brilhante que me injetou toda essa positividade por no mínimo uma semana e eu não quero parar de ver e ouvir tão cedo!

Parabéns e obrigado de coração, Katy Perry!


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PS: Aos interessados, tem letra e tradução clicando aqui.

OBS: “Fourth of July” ou 4 de Julho, é o dia da independência dos EUA (país da Katy Perry), e por lá esse dia é comemorado de forma similar ao Réveillon, repleto de fogos de artifício... =)

28 de outubro de 2010

PENSAMENTOS CONFUSOS


Meus amigos e conhecidos vivem dizendo que eu deveria ter feito Psicologia, e não Fisioterapia. Motivo: sou bom em dar conselhos. Assim como a Dama costuma dizer, detesto frases prontas, do tipo “vai ficar tudo bem” e “o que tiver que ser, será”. Quando aconselho alguém evito ser eufemista ou clichê, tento ser o mais direto e reflexivo possível. Tento fazer o sujeito enxergar os problemas e complicações da forma mais prática e realista, sem dramas, estimulo a pensar no que foi ou está sendo feito de errado (causa) e no que pode ser feito pra resolver tudo (possível solução). Tem algum segredo nesse processo?! Nenhum! Se eu sou um “bom conselheiro”, isso nada tem a ver com Psicologia, que é algo profissional, sério e muito importante (e que eu admiro bastante!). É uma visão matemática e lógica das coisas. A questão é que os problemas que eu costumo aconselhar são relativamente fáceis, corriqueiros ou bem conhecidos. Mas isso é só meia verdade...

Refletindo bem sobre o assunto, a verdade é que os problemas que eu me arrisco aconselhar são realmente muito fáceis e, sendo mais sincero, é muito fácil dar pitaco nos problemas alheios, vendo todos os fatos e atos em 3ª pessoa. Mas quando os problemas são nossos, aplicar o modelo de procurar causas e encontrar soluções deixa de ser algo tão matemático e lógico e torna-se algo nada prático ou rápido. Problemas grandes exigem grandes períodos de reflexão e, no meu caso, de introspecção – pra não falar isolamento quase total. E outros problemas, mesmo pequenos e com soluções existentes ou não, podem não ser práticos ou fáceis por exigirem de nós um preço alto demais. Exemplo: um dos amigos mais inteligentes, racionais e diretos que eu conheço, nesta manhã, foi ao velório da própria mãe sendo hoje o seu aniversário. Não existe conselho no mundo que possa sequer aliviar a dor dele. Não existe mente prática ou racional que seja capaz de encontrar soluções pra essa situação, simplesmente porque a solução não existe (e aí sim, a Psicologia tem muito o que fazer). E isso é um alerta ao constante egocentrismo humano: seus problemas não são os maiores, suas dores não são as piores...

Desviando, mas nem tanto, o assunto, ontem voltei a ouvir Gabriel, o Pensador, um verdadeiro exercício de auto-crítica e reflexão social. Gabriel, que faz juz ao seu título de “Pensador”, é um sujeito extremamente politizado e um verdadeiro bom-conselheiro, num nível mais amplo, de um jeito que eu nem me imagino sendo igual. E isso me faz pensar no quanto eu sou ineficiente pra resolver os problemas que afetam grandes grupos ou todas as pessoas, sobretudo os políticos e sociais. Num balanço entre “o que eu posso fazer” e “o que eu faço de fato” pra tornar o mundo um lugar melhor, não existe nenhum equilíbrio. E isso me bota pra baixo, sobretudo quando vem associado ao fato de que ultimamente eu estou sendo um incompetente em resolver alguns problemas pessoais. A sensação chega a ser de impotência. Espero um dia ter a maturidade, a atitude, a sabedoria e os recursos necessários pra ser um sujeito mais politizado e atuante. Preciso parar de pensar que sendo rico e bem sucedido e indo morar na Europa, as coisas se resolveriam.

E voltando ao começo do post, eu realmente pretendo estudar Psicologia ou Psicanálise, mas entendo muito bem o porque eu escolhi Fisioterapia: é muito mais fácil, rápido, prático e eficiente tratar dos problemas do corpo do que os da mente. Mas no fundo, eu sei que não dá pra separar uma coisa da outra, principalmente porque é impossível passar quase 1 hora de atendimento completamente mudo diante de um humano com dores e problemas.

É, as vezes eu deveria mesmo é pensar menos, censurar meus pensamentos confusos e sem rumo...

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25 de outubro de 2010

EU ME ARREPENDO...


Eu não sou um modelo pra absolutamente ninguém e detestaria ser. Tenho uma penca de defeitos contra os quais luto progressivamente para contê-los ou modificá-los (pra não dizer cortá-los). Metade do eu digo que sou (aqui no blog, no twitter, na vida) é exatamente o que eu sou o tempo todo: nem todo dia é um bom dia e meu humor não é algo lá muito estável. Por isso me arrependo de certas coisas que fiz ou deixei de fazer, apesar de acreditar que todo aprendizado é válido e que mesmo as piores experiências tem a sua razão!

Meu primeiro e maior arrependimento é ter sido por muito tempo da minha vida um completo babaca, piegas, certinho demais, preconceituoso, hipócrita, arrogante, anti-social, enfim, um merda. Tinha um senso de superioridade (sem um pingo de motivos pra ser “superior” de fato) que me fazia acreditar plenamente que era o dono da razão. Não me divertia, não dançava, não bebia, não saía de casa, tinha pouquíssimos amigos, não tinha vida social nem sexual; julgava tudo e todos da minha posição “elevada” e acreditava que todo mundo iria pro inferno (menos eu mesmo, claro) e que eu jamais mudaria de opinião. Ainda bem que eu estava errado, ainda bem que eu mudei e hoje sou a prova de que o sistema da manipulação social falha...

Me arrependo de só ter dado atenção necessária ao mercado de trabalho tarde demais. Só fui me preocupar com possibilidade (muito provável) de ficar desempregado quando eu já estava saindo da faculdade, sendo que o seu marketing pessoal e profissional deve ser feito muito antes. O resultado previsível é o meu desemprego prolongado, fato que só piora devido à saturação profissional na minha área...

Me arrependo de ter demorado demais pra começar namorar, demorado mais ainda a namorar com meninos, de ter me fechado pro amor, de ter desacreditado que relacionamentos podem sim acontecer e serem bons na medida em que se reconhece as próprias limitações e as do outro também.

Me arrependo de ter praticado a falsa arte de forjar amizades, já fui adepto dessa mania de forjar situações pra me aproximar de pessoas que eu considerava interessante, tudo artificialmente. Era algo que hoje eu considero doentio: incluía fuçar a vida do indivíduo para depois listar seus interesses e gostos, arranjar um jeito de conviver com ele, demonstrar “coincidentemente” o quanto éramos parecidos e oferecer à ele exatamente o que ela iria gostar. Isso só prova o quanto eu era anti-social e incapaz de criar laços reais com naturalidade. As poucas amizades dessa época da minha vida são um presente de pessoas que, no fundo, acreditavam que um Alysson legal existia dentro de mim...

Me arrependo de já ter beijado (y otras cositas más!) rapazes nem tão bonitos, nem tão interessantes, nem tão inteligentes, enfim, insuficientes pra mim. O arrependimento nem é pelo ato em si, mas sim pelos motivos por trás dele: carência, baixa auto-estima, necessidade de auto-afirmação, excesso de álcool associado à baixa capacidade de avaliação... ou seja, um verdadeiro descontrole emocional afogado numa postura nada segura ou saudável.

Me arrependo de ter permitido que meu primeiro namorado me sustentasse em toda e qualquer despesa minha enquanto eu estava com ele, embora eu só cedesse após grande relutância. Talvez isso tenha sido um dos motivos que o fizeram acreditar que as coisas poderiam ficar bem quando, na verdade, nunca estiveram. Me arrependo também de ter praticamente sustentado o meu segundo namorado, o que acabou me privando de beber, comer, sair ou me divertir quando a minha grana não era suficiente pra nós dois. Acho lamentável existir dependência financeira forçada de qualquer lado num relacionamento e não pretendo admitir isso nos meus futuros namoros.

Me arrependo de ter sido leviano com os sentimentos alheios. Me arrependo de ter afastado alguns amigos da minha vida por terem pontos de vista muito diferentes, numa época da minha vida em que acreditava que diferenças eram letais... hoje eu sei o quanto elas são saudáveis e importantes. Me arrependo de ter economizado grana demais e também de ter esbanjado demais nas horas erradas. Me arrependo de não ter convencido minha mãe em trazer com a gente o meu amado cãozinho quando nos mudamos. Me arrependo de não ter dito tudo o que devia às pessoas que mereciam (e precisavam) ouvir.

Arrependimentos bobos, outros nem tanto. C'est la vie...

21 de outubro de 2010

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS


Um pensamento intrigante me tirou o sono ontem de madrugada: você já parou pra pensar que seus sentimentos por alguém dificilmente são retribuídos da mesma forma, em níveis de “quantidade” e “importância” equivalentes? Se você discorda, observe cada caso, pois eu não me referi exclusivamente a relacionamentos. Aplique o auto-questionamento acima entre você e seus conhecidos, seus amigos, seus colegas de trabalho/estudo, seus familiares, etc. É raro que alguém tenha consideração, respeito, sentimentos, afinidade e grau de importância equivalentes ao que você oferece a esse alguém. E não, isso não é uma crítica específica a alguém, nem a você e nem às pessoas de uma forma geral, mas sim uma observação que vale a pena ser feita.

Na balança sentimental e social, equivalência é uma coisa rara, geralmente são “dois pesos e duas medidas”. E isso não acontece porque a maioria das pessoas é ingrata ou mau-caráter. Na verdade, as particularidades individuais influenciam poderosamente naquilo que é ou não relevante pra nós. E por mais que você ofereça constantemente aos outros aquilo que acredita ter grande valor, estes podem ter uma opinião de valores bem diferente da sua. Acredite!

Exemplificando: eu tenho 4 “melhores amigos”, amigos de verdade, amigos que estão em níveis iguais de importância acima dos demais. São duas mulheres (A e B) e dois homens (C e D).

A amiga “A” é a minha primeira amiga, conheço-a desde que eu tinha cerca de 5 ou 6 anos. Com ela eu vivi situações de aprendizado que datam da época escolar até os dias de hoje. Nos entendemos e comunicamos numa mera troca de olhares. Enfrentamos preconceitos juntos na infância/adolescência: eu por ser magricelo, ela por ser gordinha, ambos por sermos “inamoráveis”. Agora, adultos, enfrentamos novos preconceitos juntos: eu por ser gay, ela por ser bi (a única bi genuína que eu conheço!). Tivemos criações muito similares, temos valores muito parecidos, crescemos juntos, obviamente, temos muito em comum. Ela é a minha melhor amiga e eu sou o melhor amigo dela. Tenho absoluta certeza (diariamente e pessoalmente confirmada) de que ela tem por mim a consideração, o amor, o respeito, os sentimentos, a afinidade e o grau de importância exatamente igual ao que eu tenho por ela.

A amiga “B” (a Danone) é, além de uma gigantesca amiga, uma professora de vida (já falei disso antes aqui). Apesar de conhecê-la há relativamente pouco tempo, compartilhamos de valores muito semelhantes. Entretanto, ela tem bem mais idade que eu e, conseqüentemente, mais experiências de vida (positivas e negativas); ela é mãe, sustenta a sua família e tem responsabilidades que eu ainda não compreendo. Sinto que ela me dá um valor que eu não possuo totalmente e, talvez por isso e por nossas sutis diferenças, eu não consigo retribuir totalmente toda a importância que ela merece, apesar de amá-la profundamente. É um caso onde eu ofereço menos do que recebo.

O amigo “C” é um grande amigo que eu conheci recentemente, na faculdade. Já nos conhecemos com nossas personalidades totalmente formadas, tivemos criações completamente diferentes, temos grande divergência de opiniões, nascemos e crescemos sob culturas totalmente distantes. Vale mencionar que ele é um garotão heterossexual típico. E apesar de tantas diferenças, sinto um carinho por ele que ultrapassa os limites da amizade e beira a quase-paternidade, apesar de ser mais novo que ele. Sinto uma forte necessidade de manter contato constante, de ajudá-lo sempre que possível, de tentar entender e questionar positivamente suas opiniões, de sempre estar presente na vida dele. Por outro lado, pela divergência absurda de opiniões, a forma de ele demonstrar amizade seja diferente demais da minha. Sinto que, em graus de importância, eu o valorizo muito mais do que sou valorizado. É um caso onde eu ofereço mais do que recebo.

O amigo “D” (o Laisse-Faire, também mencionado aqui) é um amigo que eu conheci durante a minha adolescência e é 3 anos mais velho que eu. Durante muitos anos, nossa amizade foi quase inexistente e bastante ausente, com encontros esporádicos. Há alguns anos, começamos a aumentar drasticamente o nosso contato. Considero-o um sujeito excêntrico (até demais) e bastante paciente, características das quais não compartilho. Somos bastante diferentes, apesar de termos sim algumas coisas em comum. Aqui existe um caso de oscilação de equilíbrio da amizade. Por oras (e sem motivos especiais) ele se torna importante pra mim e eu o procuro. Da mesma forma, por oras eu me torno importante (sem motivos especiais) pra ele e sou procurado. Em outros momentos, somos “esquecidos” temporariamente um pelo outro e a vida continua. Sinto que nossos níveis de importância, sentimentos, respeito, etc, são quase similares, mas com margens de oscilação de uns 25% para mais ou para menos, em ambos os lados.

E é claro, existem pessoas ingratas sim, aproveitadores que se beneficiam da má fé e generosidade alheia (em todos os sentidos) sem pensar em retribuir nada em troca. Também existem os casos de “complexo de Sol”, onde o indivíduo acredita ter um valor maior do que realmente tem, um super ego que menospreza o que lhe é oferecido porque acredita sempre merecer mais. Existem também os casos acidentais, de má comunicação, onde a sutileza das demonstrações de afeto, sentimento e importância é tão grande que tudo passa despercebido. E existem também os casos que, de tão exagerados e efusivos (quase sempre falsos), são simplesmente desconsiderados, mesmo que sejam verdadeiros.

Essa observação sobre o desequilíbrio entre as duas partes da balança sentimental e social é interessante porque nos faz refletir algo presente na vida de muitas pessoas: a IDEALIZAÇÃO. É muito comum criar expectativas exageradas sobre pessoas que, muitas vezes, não podem ou não querem concretizá-las. E isso pode acontecer por trás de cada caso de amor platônico, de decepção nas amizades, de assincronia sentimental entres casais. E pra evitar tais situações, é fundamental criar estratégias para não se machucar e ser realista e sincero o suficiente com os outros, para não machucá-los. Na pior das hipóteses ou em casos de dúvida, evite grandes sentimentos: quanto menor o vôo, menor a queda, basicamente.

Reflitam... e ouçam uma música que tem tudo a ver com o assunto!

 

15 de outubro de 2010

VÍTIMAS CRÔNICAS



Ontem eu aproveitei desperdicei um tempinho livre pra ler novos blogs a esmo, estava a procura de novos assuntos, novas idéias, novos pontos de vista. Sim, foi um disperdício total. Eu sou bastante complacente com blogs, até porque é impossível ser um blogueiro sem exibir alguns clichês, e principalmente porque eu não sou ninguém especialmente capacitado pra avaliar blogs. Encontrei blogs poéticos bonitos, mas fora da minha realidade; encontrei blogs pornográficos, que tem lá sua utilidade, mas não eram o meu foco; encontrei blogs-diário que, apesar de correrem o risco de serem cansativos pela mesmice, tem seus momentos interessantes; encontrei blogs cômicos e ácidos bem inteligentes, mas fazendo as mesmas piadas de sempre. Mas nada me incomodou tanto quanto uma categoria de blog crescente e que ta virando modinha: blogs-vítima. Por azar, encontrei dezenas de exemplares de blogs-vítima e confesso que me irritei.

Um blog-vítima é um blog bem fácil de identificar, seu único e exclusivo objetivo é reclamar, deliberadamente e exaustivamente sobre tudo que acontece com o blogueiro-vítima, além disso, tudo de ruim e errado que acontece é resultado de uma conspiração cósmica concentrada apenas na ruína da sua nada humilde pessoa. As conhecidas leis de Murphy foram gravadas no ferro frio e entregues diretamente ao blogueiro-vítima pra servirem de diretriz pessoal. De uma forma geral, eu já detesto pessoas que se “vitimizam” o tempo todo, quando escrevem sobre isso então, é fatal.

Vítimas crônicas são irritantes por serem incompetentes naturais, ou no mínimo incompetentes em potencial, são incapazes de reconhecer suas falhas, são incapazes de identificar onde suas escolhas foram infelizes. Eles ignoram o fato de que, por trás de um acontecimento ruim, existem uma série de atos, fatos, escolhas e palavras erradas que culminaram no evento trágico. E ignoram porque é muito mais fácil fazer o papel do coitadinho injustiçado que não teve culpa alguma se tudo dá errado. Sim, acidentes acontecem e o acaso (que recebe o nome de azar) infelizmente existe, mas admita que na grande maioria dos casos o que acontece é uma incapacidade de reconhecer os próprios erros e a tragédia é só o fechamento de um ciclo, uma relação de causa e efeito.

Não sou perfeito, não tento ser, gosto de levar porradas da vida (excelente professora!) e confesso que já me fiz de vítima no passado. Mas me envergonho profundamente disso e tento fugir dessa situação o máximo possível. Não sou o Sr. Sucesso, mas tento fazer das tripas coração para que os meus sucessos e a resolução efetiva dos meus problemas sejam o mais próximos de uma constante. Por isso me irrito tanto quando vejo reclamões incompetentes e incapazes de admitir sua própria participação ativa em tudo que acontece de ruim em suas vidas. Sinto na pele a fúria de assistir o retrocesso da raça humana...

Sério, só eu que ando enxergando mediocridade em cada canto que olho?!

9 de outubro de 2010

SOU BI. E DAÍ?



Não, o Syn não ta tentando mudar de lado. Continuo sendo 100% gay, do tipo que não gosta de meninas (ou meninos que parecem meninas), salvo em raríssimas exceções. Não sou bi e não tenho nada contra os bissexuais. Mas que fique claro: não tenho nada contra os VERDADEIROS bissexuais. A ciência diz que cerca de 2 a 22% da população é homossexual (ou teve experiências homossexuais) e uma ínfima parcela disso pode ser considerada bissexual. E eu acredito na ciência! O que eu não acredito é nessa onda de bissexualidade que explodiu atualmente, tomando o patamar de uma coisa que eu detesto: MODINHA.

Bissexual, pra mim, é aquele(a) que tem a plena consciência de que se sente atraído por homens e mulheres num nível muito equivalente. E embora o sujeito não necessariamente tenha assumido sua condição de bi publicamente, ele mesmo deve estar bem consciente do que é, deve ter assumido sua bissexualidade pra si mesmo. Um bissexual é um indivíduo que sai pra uma balada, olha uma garota extremamente sensual e um rapaz estupidamente atraente e fica na dúvida real de qual deles ele deve investir primeiro. Ser bissexual é entender que você pode estar num futuro relacionamento/rolo/fica com um homem ou com uma mulher, com possibilidades muito parecidas (quase iguais) entre os dois gêneros. Ponto final.

Ah, fulano é gay/lésbica e já ficou com alguém do sexo oposto, então é bi!”. Afirmação muito infeliz essa. Eu, por exemplo, sou gay e tive 4 namoradas. Sim, você leu NAMORADAS, no feminino, e duas delas sabiam plenamente que eu era (sou) gay e que esse fato não quer dizer que eu não possa me atrair por mulheres. Nada me impede de achar uma garota bonita e de me interessar por ela, principalmente sendo uma Katy Perry da vida! Da mesma forma, heterossexuais podem se atrair por pessoas do mesmo sexo e continuarem sendo heterossexuais. O que nos “define” não é a exceção, mas sim a regra, o que é constante. Se você não vê homens e mulheres heterossexuais praticando a homoafetividade publicamente ou com freqüência, a explicação pra isso é sócio-cultural (machista, misógina e preconceituosa). Mas daí a definí-los como bissexuais existe um espaço gigante e real. Ok ok, até eu devo admitir: a minha pior foda com um homem foi absolutamente melhor do que a minha melhor foda com uma garota. Por isso eu sou gay e ponto.

O que se torna irritante são os casos onde a bissexualidade é usada pra atenuar ou facilitar a aceitação alheia de uma homossexualidade eminente, pra não dizer evidente. O típico sujeito que sai quase sempre com meninos, mas diz que fica com meninas de vez em quando (e até fica mesmo) só pra manter a linha normal, numa tentativa de se auto-explicar pra sociedade: “Ei, não tenha preconceito, eu posso ‘voltar ao normal’ a hora que eu quiser. Sério, vou casar com uma mulher e ter filhos!”. Isso sim irrita. Isso cria uma visão deturpada de que ser gay/lésbica é algo mutável e dá respaldo social pra muito psicólogo oportunista e preconceituoso sair tentando mudar (leia reprimir) nas pessoas uma característica que lhe é natural. E o resultado seria tão gritante quanto alisar e pintar de louro-branco os lindos e negros cachos da Thaís Araújo.

Sério, o fato de um sujeito não ter a coragem necessária pra assumir que gosta (ou que também gosta) de pessoas do mesmo sexo não faz delas bissexuais. Isso tem nome: preconceito internalizado. E esse sim tem excelente tratamento, e nem sempre precisa de terapia. O problema é que as pessoas com medo, ou outra coisa que os impeçam, de assumir suas preferências sexuais pra si mesmo (nem precisa ser publicamente), criam “máscaras de heterossexualidade”. E como eu costumo dizer: “o maior perigo das máscaras não é possibilidade delas caírem, mas sim o ponto em que elas não caem mais”, ou seja, a adoção da máscara como se fosse a própria realidade. O maior dos problemas é o potencial que esses indivíduos mal-resolvidos têm de destruírem vidas alheias, casando, tendo filhos, enganando a todos, sendo infelizes e tardiamente explodindo sozinho.

Outro grande equívoco: declarar-se bissexual e achar que isso dá ao sujeito o direito de ser um promíscuo “legalizado”. Ou seja, ter o direito de ter um namorado e uma namorada e esperar que isso seja normal e absolutamente compreensível por todos (porque né? Já vi gente que topa cada coisa...). Tem gente que não aprende, adora tentar dar uma de esperto. Eu mesmo já quase tive problemas com um cara que pensava exatamente assim, e pulei fora rapidinho (não por esse motivo isolado, whatever). Bissexualidade não tem nada a ver com promiscuidade: basta ser humano, de qualquer sexualidade, é o suficiente pra ser um promíscuo em potencial. Mas pra esses espertinhos, o melhor remédio é revidar imediatamente: “Quer ter um namorado e uma namorada? Tudo bem, seu direito, mas isso me dá o direito de ter dois namorados. Ponto.”. Isso resolve facilmente o problema desses “bissexuais” oportunistas.

Finalizando, faço questão de repetir: não tenho nada contra os VERDADEIROS bissexuais. E tenho tudo contra quem tenta usar esse título pra se beneficiar de alguma forma, abusando da credibilidade de uma orientação sexual que já sofre preconceito suficiente de heterossexuais e homossexuais. E tenho dito!

28 de setembro de 2010

DESABAFO



Eu superei muitos dos meus preconceitos, medos e restrições. Não todos, porque já existem e sempre existirão novos problemas, dúvidas e limitações. A vida não é estática, aliás, pouca coisa nesse mundo atual é estática. Eu não resolvi tudo sozinho, é verdade. Eu tive pessoas, amigos, colegas, tutores e alguns conhecidos que disseram as coisas certas nas horas certas. Pequenos atos que mudaram radicalmente minha forma de pensar num curtíssimo período, o que pode ser chocante e muito aterrador. Entretanto...

Sério, eu não tenho a menor obrigação de ser condescendente com quem tem problemas que são parecidos (em maior ou menor grau) com os meus antigos problemas. Eu posso sim, se essas pessoas forem importantes pra mim, apoiá-las, orientá-las, perder algum tempo distraindo-as ou sussurrar a direção que eu tomaria. Mas eu já estou ficando farto da juventude atual e das suas atitudes quase inexistentes pra resolver seus próprios problemas, quiçá mudar pra melhor a nossa realidade.

Estou cansado de dizer pra meninas-teenage-bonitinha-baladeiras-patricinhas-de-cabeça-oca que a juventude passa num piscar de olhos e que todo esse glamour precisa ser substituído por algum estudo/vocação decente. Estou cansado de explicar pra jovens-gays-afeminados-e-emos que usar roupas, cabelos e acessórios coloridos, falar com voz fininha e gesticular de forma afetada não ajuda ninguém a arranjar algum emprego, não garante uma universidade, não facilita na pegação com outros rapazes, não vai forçar uma aceitação externa e nem vai ajudar a causa gay. Estou cansado de dizer que música não é exclusivamente uma questão de opinião, afinal, eu detesto as músicas do Elvis Presley e não ouço jazz/blues com um bom whisky (e uma cara de cult) porque eu não gosto desses estilos musicais, mas sei que tais músicas representam grande valor e possuem qualidade indiscutível; coisa que não se vê mais em tempos de Restart. Estou ficando irritado ao ver cada menino ou menina suspirando pelo Edward Cullen (ou pelo Robert Pattinson, a maioria não faz distinção das duas pessoas), como se existisse a possibilidade de que um sujeito absolutamente idealizado pudesse descer do céu e mudar radicalmente a vida de um/uma Bella; e eu até sou ligeiramente simpatizante da saga. Estou boquiaberto em ver jovens fumando cada vez mais cedo só pra causar impacto; ou contando aos berros, nos dedos, o número de drogas que já experimentou; ou vangloriando-se pelo número de vezes que fugiu de casa pra ir a alguma balada fuleira, onde trepou, vomitou, ficou de ressaca e ainda brigou com os pais por “besteira”.

Se juventude é a fase de errar – e eu concordo com essa teoria – o fim da adolescência, lá por volta dos 17-18 anos, já é tempo de dar indícios de responsabilidade pessoal e coletiva, senão a vida te derruba e te mete porrada de um jeito feio e grosseiro, sem piedade. E é justamente as lágrimas e os lamentos dessa fase monocromática da vida que eu já estou cansado de ver e ouvir. Por isso, da próxima vez que eu for bruto ou partir em pedaços o sonho juvenil cor-de-rosa de alguém, vou me limitar a voltar pra casa e aceitar o título de antiquado com muito orgulho: pelo menos sou um antiquado bem-sucedido, ao meu modo.

30 de agosto de 2010

MATURIDADE


Nos últipos episódios do (perfeito) seriado "Queer As Folk", um personagem quarentão e "deslocado" chamado Ted, cansado dos padrões esterotipados (de beleza física, juventude, relacionamentos monogâmicos ou poligâmicos perfeitos, entre outros) finalmente entende algo que metade da população ocidental (ou mais) ainda não entendeu: a perfeição é inatingível e os estereótipos são só o que são e valem apenas para quem os seguem como valores pessoais. Muito maduro da parte dele.

Ted entendeu que não precisava fazer plásticas para se manter jovem, magro e bonito, não precisava sofrer tanto na academia pra se manter no peso ideal, não precisava de drogas (lícitas ou não) pra se sentir feliz, não precisava de festar diárias e orgias pra conseguir sexo e não precisava ser perfeito para atrair um namorado... e mais importante que isso, desejou ter a sabedoria para não enlouquecer sem um namorado e para ser feliz, assim mesmo, ainda que ninguém viesse a aparecer na sua vida. Isso é maturidade.

Acho fascinante o poder que o tempo exerce sobre as pessoas. Não que a extrema velhice me agrade, afinal, sou humano e temo envelhecer (algo que considero normal e que a Dama de Cinzas detalhou muito bem). Mas é verdade: o tempo faz verdadeiros milagres em mentes e corpos humanos. Em outra série que ando assistindo, "Men of Certain Age", me surpreendo como os personagem se tornaram quarentões divertidos, questionadores, inteligentes, vaidosos, sedutores, carinhosos e, adivinhem, extremamente maduros.

Eu demorei certo tempo pra entender o quanto a maturidade é relevante pra mim, ou seja, entre as pessoas com quem convivo e me relaciono. Hoje eu percebo que não se trata só de "relevância", mas sim um padrão de "exigência", quase um pré-requisito social que pode fazer a diferença entre uma amizade/namoro e o afastamento total, ainda que muitas vezes isso ocorra meio sem querer, de forma inconscientemente.

Apesar da minha idade relativamente curta, eu vejo que eu realmente sou maduro, dentro das minhas limitações óbvias. E me orgulho disso. O Laisse Faire vez ou outra comenta: "Alysson, olha o quanto tu ja evoluiu!". Até bem pouco tempo atrás eu nem ligava pra isso, achava que era alguma tirada irônica. Mas é verdade, ele tem razão. E a melhor parte disso é saber que, ao mesmo tempo, não me tornei um chato, um inútil e nem perdi o meu senso de humor.

Ok, mas o que um moleque de 23 anos sabe sobre maturidade? E eu respondo: muita coisa! Certamente bem menos do que vou saber quando tiver mais idade. Certamente bem mais do que muita gente de 23 anos que existe por aí. Certamente bem mais do que várias pessoas mais velhas do que eu. Porque maturidade, apesar de estar ligeiramente enroscada com a idade, não é dependente apenas dela. Maturidade é ter a sabedoria que nos leva a tomar decisões mais adequadas, é ter novas perguntas, é ter respostas mais simples e mais satisfatórias, é ter paciência e serenidade, é dar a nós mesmos nem mais e nem menos importância e respeito do que realmente temos, é ter a capacidade de rir de si mesmo, é ter credibilidade, responsabilidade e palavra. Maturidade é não levar as coisas tão a sério... e levá-las totalmente a sério, dependendo da necessidade. Boa parte disso eu já consegui aos poucos e pretendo conseguir bem mais.

[...]


MATURIDADE

Maturidade é saber que nunca somos totalmente maduros pra viver. Portanto, sempre teremos o que aprender.

Maturidade é ter o poder de controlar a raiva e de resolver divergências sem violência nem destruição.

Maturidade é ter paciência e disposição para abrir mão de um prazer imediato, com vistas a uma vantagem a longo prazo.

Maturidade é ter perseverança, é empenhar-se a fundo num programa, a despeito da oposição e dos contratempos desalentadores.

Maturidade é ter abnegação, é atender às necessidades alheias.

Maturidade é ter a capacidade de enfrentar o desagradável e a decepção sem nos tornarmos amargos.

Maturidade é ter humildade. Uma pessoa madura consegue dizer: "Perdoe-me." E, quando fica provado que estava com a razão, não sente a necessidade de se vangloriar: "Eu não disse?".

Maturidade significa credibilidade, integridade e cumprimento da palavra.

Os imaturos encontram pretexto para tudo. São os retardatários crônicos, os contadores de vantagens, que falham no momento das crises. A vida dessas pessoas é um emaranhado de promessas não cumpridas, assuntos inacabados e amizades desfeitas.

Maturidade é ter a capacidade de viver em paz com o que não se pode mudar.

(Autor Desconhecido)

26 de agosto de 2010

FROZEN


You only see what your eyes want to see
How can life be what you want it to be?
You're frozen
When your heart's not open.

(Frozen - Madonna)

Eu guardei meu coração num freezer. Ok, quase isso. Só arranquei o coração pra fora do seu espaço e, no seu lugar, coloquei um espelho de corpo inteiro, algumas garrafas de vodka, um mp3 player cheio de boas músicas, uns DVDs de pornografia e o meu celular. Eu finalmente ativei o meu lado egocêntrico e hedonista que, anteriormente, eu não tinha coragem nem vontade de abraçar. Tudo isso sem um pingo de ressentimento ou revolta, juro!

Nos últimos dois anos (que alguns de vocês acompanharam aqui no Sinapses) eu mantive o meu coração derretido, cheio, livre, solto demais. E com todo esse poder, por vezes ele dobrou a vontade do meu lado racional, quase sempre dominante. Por dois anos eu fui um Alysson compreensivo demais, humanizado demais, espiritualizado demais, muito cuidadoso com os sentimentos alheios, cheio de amor pra dar e sem esperar NADA em troca (não o tempo todo, não sou perfeito). E só recebi esse tipo de recompensa: mesmice, ingratidão, baixa consideração e indiferença (da maioria esmagadora, mas não de todos). E como sou um homem prático, se as coisas não estão dando certo, eu avalio as causas e fatores envolvidos no fracasso e tento mudar a minha tal realidade. Pode demorar um pouco em alguns casos, mas geralmente tarda sem falhar.

Por esse motivo, cansado de slap in my face, vou inverter tudo pro extremo oposto e recomeçar do zero na jornada pra alcançar um equilíbrio adequado. Até lá, coração em criogenia, duro como pedra, fechado, inacessível e intocável. Não pensem que é desilusão ou qualquer tipo de trauma, sério, não é nada disso. Só não quero assumir a responsabilidade por qualquer um que, ocasionalmente, acabar saindo machucado dessa história.

"Ok, Alysson. E o que isso muda, efetivamente?". Eu respondo: muita coisa, sobretudo os meus focos. Percebi que nesse tempo, a pessoa que eu menos amei foi o próprio Alysson, eu mesmo. E desgastado como estou, nada posso fazer pra contribuir positivamente com ninguém. Sendo assim, vou cuidar mais de mim, dos meus interesses, dos meus princípios e pontos de vista. É como eu disse, inicio uma fase egocêntrica, mas no melhor sentido que isso pode ter.

Quero me divertir, me aproveitar, me permitir. Isso significa recusar um ou outro favor, se eu tiver algo melhor em mente. Isso significa dizer "não estou interessado, obrigado", "não posso", "não quero" ou "vou estar ocupado com outra coisa", sem medo de causar qualquer má impressão. Até porque estive disponível, topando qualquer ajuda/tarefa/missão faz um certo tempo e foda-se quem resolver lembrar só das minhas respostas negativas, provavelmente são pessoas que não vão fazer falta. É claro que eu não vou ser uma pessoa ruim desnecessariamente, nem vou deixar de ser gentil ou prestativo. Só não vou dar ênfase nisso.

Eu quero dançar, beber, fumar, transar se e quando me der vontade. E negar tudo isso se a minha vontade recusar. Enfim, quero fazer comigo aquilo que me der vontade, viver a promiscuidade despudorada. Me dando o devido respeito e cagando e andando pra opinião alheia. Quero viver a maior boemia se isso estiver ao meu alcance. Eu não quero namorar. Eu quero não ter que ligar no dia seguinte pro garoto da noite anterior. E quero não ter que atendê-lo, caso ele ligue. Quero fazer isso sem me sentir mal. Eu quero dizer "você NÃO é importante pra mim" com a mesma sinceridade e efeito de quando eu digo "eu te amo".

E eu quero estudar mais, começar a trabalhar com entusiasmo (finalmente!), ler mais, pensar mais, meditar mais, assistir aquilo que me acrescenta ou que simplesmente me faz rir. Eu quero mais humor. E quero mais programas lights, como conversar com amigos por horas, sobre os temas mais relevantes ou sobre a mais fútil banalidade que nos vier na cabeça. Quero assistir filmes bons, e os ruins também. Quero ouvir música boa, e as ruins também. Quero perder o meu tempo numa tarde de RPG com amigos, numa noite de papo sob luz da lua ou numa caminhada solitária pela praia ao amanhecer.

Quero correr diariamente, pra cuidar da minha saúde e do meu corpo enquanto eu não posso pagar por uma academia. Quero ir ao dentista, ao médico, ao fisioterapeuta e ao psicanalista, nem que seja só pra ouvir um "está tudo bem". Quero mudar o corte de cabelo, cuidar da minha pele, quero precisar de uma manicure/pedicure, quero comer mais e melhor. Quero estar plenamente satisfeito com o espelho, dentro do possível.

Eu quero congelar a minha camada mais periférica e a casca do meu coração propositalmente. Eu quero estar tão bem comigo mesmo, ao ponto de me sentir completo sozinho, sem precisar de qualquer apoio ou "alma-gêmea". Eu vou aumentar as minhas chamas interiores, aquecer lentamente o que importa dentro de mim. E quando eu me cansar de aproveitar tudo o que eu sou e o que eu posso ser, só então eu irei procurar alguém tão completo quanto eu deverei estar.

Até lá, "quero ver apenas o que os meus olhos querem ver" e "estar congelado, enquanto meu coração não estiver aberto". Não é, Madonna?


24 de agosto de 2010

ELEIÇÕES 2010


"Agradeço pela ração
Aqui tudo está sempre a mão
Um cantinho pra eu me deitar
Uma bola pra me acalmar..."

"Te cuido tanto aqui
Te dou o que quiser
É só me divertir
E não tentar fugir..."

(Rato na roda - Pitty)

Minha opinião sobre a política no Brasil vocês já conhecem (ou podem lembrar clicando aqui). Ela não mudou praticamente em nada: chegam as novas eleições e o cenário é o mesmo, políticos arrumados, desinteressantes, muitos deles criminosos e que nem disfarçam que estão apenas lendo o que foi passado pela "equipe" eleitoral deles.

No nível estadual, as chances dos Sarney continuarem mandando no Maranhão são bem altas (acreditem!), a maioria dos concorrentes são igualmente corruptos ou esquerdistas revoltadinhos. Os deputados estaduais e federais repetem o de sempre sem se preocupar e, pior, ainda agem em níveis bem restritos, falam de defender os interesses de tal cidade, tão região, como se APENAS suas localidades fossem relevantes. Entre os senadores, não há nada novo: mudaram apenas as faces e o discurso é o mesmo, isso porque nunca ficou tão claro que o político é só um reflexo do seu partido. Entre os presidenciáveis, aí sim a coisa fica lamentável.

Dilma, além de ter uma série de pontos negativos na campanha do PT-boa vizinhança-corrupção-jeitinho, mal tem coragem de estabelecer uma campanha sem sair do ombro do Lula. Você confiaria em alguém que só obedece ordens alheias? Você votaria em alguém visivelmente volúvel? Eu não...

Zé Maria chuta o balde e promete salários mínimos de 2 mil reais, redução da carga horária de trabalho máxima de 35 horas (sem redução do salário) e um completo apoio ao MST, garantindo desapropriação de terras privadas e doação das mesmas pra quem nela trabalha. Você acredita em um mínimo equilíbrio econômico baseando-se nessas 3 promessas? Eu não...

Plínio foi o único a assinar o termo de compromisso em favor dos interesses GLBT, ok. Mas e além disso? O Programa dele inclui excentricidades graves similares ao de Zé Maria e, além disso, sua divulgação e propaganda são tão superficiais e frágeis. Você votaria? Eu não...

Marina Silva aparentemente tem uma proposta bem limpa: se por um lado ela não apóia uma ou outra causa, por outro ela deixa isso bem evidente e explica suas razões. No máximo, diz que existem poucas informações sobre o assunto e "advoga a favor de um plebiscito" (SIC). Mas sinceramente, eu tenho os dois pés atrás com QUALQUER pessoa que venha de uma religião tipicamente fundamentalista como a dela. Admito, é uma forma de preconceito sim, sob uma fachada de auto-proteção.

E Serra até tem boas propostas. Mas é só você conversar com alguns paulistas pra você conhecer um pouco do que ele fez por lá. Enquanto era governador, a criminalidade aumentou, os pedágios aumentaram, houve censura quando tentaram criticar o seu governo, entre outros motivos bem graves. Fora o partido dele, que tem carteirinha marcada em várias CPIs.

Como eleitor, eu não sei o que fazer, em quem votar. Não confio mais em votos nulose branco, ainda mais com a lenda (ou não) de que essas opções têm livre manipulação. Não vi em nenhum dos candidatos aquele entusiasmo que se espera pra modificar o que há de mais grave no nosso país, ou seja, as 3 necessidades mais basais e urgentes: EDUCAÇÃO, SAÚDE e SEGURANÇA. Pouco se fala sobre tais necessidades e, quando se fala, é de um jeito completamente superficial e pisando em ovos. O que me remete a um grande medo de arriscar, de tentar fazer algo que possa definitivamente resolver uma boa parte dos problemas.

Pra finalizar, deixo o resto da minha opinião escancarada nas palavras do jornalista e blogueiro Gabriel Cadete (em "Sobre Política" e "O voto gay?") e do ator Felipe Neto (em "Não Faz Sentido! - Políticos").

20 de agosto de 2010

EPÍLOGO DE UMA RELAÇÃO (E UM DESABAFO)


I am not waiting for
A prince on a white horse just to save me
I know I have to do by myself
And this time I will be free

(IGNORIN' U - Pitty)


Com fatos e sentimentos turbulentos devidamente digeridos, chega a hora de expelir a conclusão. É assim mesmo, costumo me superar muito rápido. E essa conclusão diz respeito a tudo o que eu experimentei no meu último relacionamento. E por esse motivo, este post acaba sendo um desabafo ao meu ex-namorado, e mesmo que ele nunca venha a ler, sinto necessidade de exteriorizá-lo aqui.

[...]

Este texto é todo pra você "A". Eu encontrei a resposta pra sua pergunta: sim, eu te amei, por um período de tempo que eu não sei definir, mas que certamente ocupou menos de 50% dos nossos 6 meses de namoro. E eu já sei o porque eu terminei o nosso namoro: o cara que eu conheci e me apaixonei desapareceu, está escondido em algum lugar dentro de você, provavelmente atrás do seu maior defeito, sua teimosia. E, sinceramente, eu nem quero ou pretendo que ele saia de lá, porque eu realmente deixei de te amar cerca de um mês antes do fim do nosso relacionamento. E eu não me arrependi, eu me sinto bem, me sinto livre. Eu achei que seria difícil, mas cheguei à conclusão de que eu não precisava manter um namoro se fosse pra ser daquele jeito.

Eu não tenho ódio por você, eu não tenho motivos para te diminuir, te ofender, te menosprezar. Eu agradeço de verdade por tudo o que você me proporcionou, agradeço pelo que eu aprendi com você, agradeço pelas pessoas divertidas e diferentes que você me apresentou, agradeço pelos inúmeros orgasmos, agradeço pelo seu apoio e agradeço até pelas nossas crises. Tudo isso ficará guardado em uma parte boa de mim e, acredite, ela é bem maior do que a dor e o ressentimento que você me causou. Considere-me superado, assim como eu te considero uma boa e importante lembrança.

Eu não mudei com você. Eu só tive a completa consideração de desaparecer da sua frente, porque eu sabia que você ainda me amava; e como dizem: "o que os olhos não vêem, o coração nao sente". É isso que eu gostaria que fizessem comigo se eu estivesse na mesma situação... e, curiosamente, é isso que fizeram por mim quando eu passei por isso (está registrado em alguma parte deste blog). E eu não fugi, eu desviei propositalmente meus caminhos dos seus, mas caso nos encontrássemos (como aconteceu), eu não fugiria de você (e eu não o fiz).

Imagino o quanto foi difícil pra você, mas eu sabia que não podia te ajudar. O único tipo de salvação que eu poderia te oferecer seria nada menos do que minha própria sentença de morte. E, felizmente, meu amor próprio é maior do que meu altruismo. Quando você percebeu isso, acabou reagindo (desesperadamente e infantilmente) da forma mais lamentável possível. Eu repito sem medo: a escolha de trocar o seu amor por mim por ódio é sua, eu não posso fazer nada a não ser lavar as mãos.

Mas não finja inocência, não seja cínico ou hipócrita, não te conheci com tais defeitos. Você conhece SIM a sua parcela de culpa. Você sabia que me matava a cada vez que fugia ou deixava uma discussão sem conclusão. Sim, a sua teimosia não era, não é e jamais será um argumento. A sua imaturidade não justifica de forma alguma a forma com que fui (muito mal) tratado por dias. A sua incapacidade de se colocar no meu lugar foi decisiva. A sua exigência por mudanças da minha parte e a pressão que você me impôs, sempre impedindo a expontaneidade das minhas atitudes, nunca foi justa. Não eram igualitárias aos meus pedidos de mudança da sua parte. O "A." que eu conheci era menos amargurado e julgava menos do que o garoto que eu deixei sozinho no fim do namoro. E como se não fosse suficiente, você me fez perder exatos 6 dias de sono, um recorde.

Só não me persiga, não me vigie, não me atrapalhe. Tire o seu ódio do caminho, pois minha consciência tranquila quer passar. Se continuar me ofendendo pela internet, o máximo que conseguirá provar é o nível da sua maturidade. Se você quiser espalhar aos 4 cantos que viveu um "amor de hipocresia" (alias, a palavra certa é hipocrisia), lembre-se bem de tudo o que eu fiz por você, das vezes que eu te apoiei, do dinheiro que eu gastei com você, da fidelidade imaculada que eu te prometi (e cumpri), dos meus pequenos sacrifícios, de todos os momentos bons e positivos na sua vida enquanto estivemos juntos... e se ainda assim você julgar que eu fui hipócrita, nada eu posso fazer. Apenas dormir em paz e com a minha consciência tranquila.

Eu te conheci, eu me apaixonei, eu te amei, passamos um tempo juntos, eu percebi que você não era quem eu pensava que fosse, eu deixei de te amar e me afastei. Um ciclo justo, limpo, sem mentiras, sem falsidade, sem arrependimentos, com começo e um fim, que veio exatamente no momento em que eu percebi que eu nada poderia fazer pra voltar a te amar e não poderia mais esperar ou exigir uma mudança sua. Exatamente antes que o nosso relacionamento fosse lembrado por momentos ruins em vez dos bons. Você pode não admitir ou não concordar, mas foi e ainda é assim pra mim.

E se eu ainda puder te desejar algo, que seja mais maturidade, mais tolerância e mais auto-controle. Não pra mim, não pro seu próximo namorado (ou namorada), não pra agradar seus amigos, sua família ou qualquer outra pessoa. Mas pra que você evolua como um humano, um homem melhor.

Adeus.

[...]

P.S.: A aliança que está no meu dedo anelar esquerdo permanecerá lá, no exato lugar onde estava no dia que você me conheceu. Ela ainda significa (e sempre significará) um completo auto-compromisso. Um compromisso de amor, respeito, sinceridade, cuidado e fidelidade a mim mesmo.

18 de agosto de 2010

PERCEBI


Percebi que não consigo escrever sobre situações/fatos/sentimentos enquanto eles ainda estão acontecendo na minha vida. Percebi que não consigo escrever sobre situações/fatos/sentimentos passados enquanto os atuais ainda estão me incomodando e inflamando minha mente. Percebi que por mais que eu tente desenvolver um pensamento sobre alguma coisa aleatória, esse pensamento sofre direta influência do meu estado de espírito e de humor vigente, que por sua vez, é um produto direto do que eu vivo no presente (ou passado próximo).

E percebendo isso, eu me calo por alguns dias, porque eu não criei um blog pra vomitar situações/fatos/sentimentos turbulentos, mas sim pra jogar a "pá de cal" da minha opinião sobre eles, depois que tudo já está devidamente digerido e superado.

Sem mais...

OBS: sim, sou eu mesmo na foto (há 2 anos atrás)...

3 de agosto de 2010

SOLTEIRO


Estou solteiro há alguns dias. Novamente. Mas sem queixas, sem arrependimentos e nem aquela sensação ruim de vazio e tédio das outras vezes. O que sinto agora é um misto de fadiga mental, sede social e alívio psicológico.

Dessa vez eu não detalharei passo-a-passo as (possíveis) causas do fim e nem vou enxer o meu ex de defeitos. Além de não haver a menor necessidade ou motivo que possa justificar esse ato, dessa vez as coisas foram diferentes: as causas do rompimento do namoro não estão claras na minha consciência, só estão evidentes no meu coração. O sentimento existiu de fato, eu realmente gostava dele; a diferença é que o sentimento não era maduro ou forte o suficiente pra sobreviver por uma longa temporada de crise e tortura emocional, pelo menos não intacto. O que eu sinto por ele não morreu, só mudou de uma quente paixão para uma amizade bem morna; um carinho que é frio demais pra aquecer um namoro. Diria que o sentimento ainda existe, mas está irreconhecível.

E dessa vez não existem xingamentos a serem vomitados ou defeitos a serem expostos. O meu ex é muito parecido comigo, é praticamente um "Alysson" com 18 anos (idade dele), um garoto muito cheio de certezas, (verdades indicutíveis) que, nos atuais 23 anos, foram substituídas, modificadas, adaptadas ou extintas.

Dessa vez eu estou bem. Eu me sinto bem com a minha decisão em finalizar um relacionamento que já não tinha mais sentido. Pelo menos não no meu coração. Finalizar tudo antes que os bons momentos fossem substituídos por brigas, boicotes, chateação mútua e farsa. Antes que as boas lembranças ficassem distantes demais para serem resgatadas. Antes que eu abrisse mão de ser o "Alysson" que eu sou para me tornar o "Alysson" que o meu ex-namorado e o relacionamento pediam.

Mesmo sendo difícil terminar um namoro, por melhor ou pior que ele tenha sido, eu me sinto orgulhoso por ter reunido a força necessária pra fazer o que eu acredito ter sido a coisa certa. Apesar do medo inicial, fico feliz de ter a coragem e o amor-próprio necessários para que eu estivesse bem, right now...

E tudo isso se justifica. Mesmo sendo bastante questionadas e desacreditadas as teorias holísticas, a física/medicina/ciência quântica, a lei da atração e as filosofias orientais; uma coisa que todas essas correntes de pensamento possuem e estão certas: seus sentimentos e sensações são verdadeiros "medidores" do seu atual estado de felicidade e paz-interior. Se você não se sente bem agora, jamais voltará a se sentir bem novamente a menos que modifique ou remova aquilo que te impede de ser feliz. E isso, tenho o orgulho de dizer, eu sei fazer muito bem!



27 de julho de 2010

INGENUIDADE


Pergunte ao Alysson com 10 anos o que significa:

- Gay: um homem que gostaria de ser mulher;

-Meninas: criaturas esquisitas, frescas, moles, abundantemente enfeitadas e pintadas, e que, mesmo desperdiçando tempo, tiram boas notas;

- Meninos: criaturas que, em teoria, deveriam ser parecidas comigo... só em teoria...

- Diretora: alguém que você não vai querer conhecer nem nos seus piores pesadelos;

- Bola: algo tão perigoso e divertido como um soco, ou uma pedra vindo em sua direção;

- Escola: um lugar cheio de pessoas diferentes e esquisitas, que fingem ser o que não são para atingirem seus objetivos (sejam lá quais forem);

- Futebol: uma aglomeração de 22 pessoas violentas, com intenções violentas e armas violentas, praticando ações violentas e se divertindo enquanto isso;

- Irmão: alguém que, apesar de ter um DNA extremamente parecido com o seu, não poderia ser mais diferente de você;

- TV: um troço que, se não tiver passando desenho animado ou conectado a um vídeo-game, é a coisa mais chata possível;

- Mamãe: uma pessoa neurótica, bipolar, emocionalmente instável e que tem sempre razão;

- Papai: uma versão mais bruta, mais durona, menos fresca e mais pobre que a mamãe;

- Prova: a melhor, mais eficiente e mais valorizada moeda de troca com a mamãe... ou uma causa mortis muito justa;

- Chato: um cara que esqueceu ou desaprendeu a ser divertido;

- Peso: um motivo comum pra criticar as pessoas, desde que seja alto ou baixo demais;

- Verduras: um troço quase sempre verde, sem gosto, nojento, cheio de “nutrientes” e que os seus pais te obrigam a comer;

- Dinheiro: uma coisa rara, legal e que você não deve pegar dos outros (NUNCA!);

- Redação da escola: uma invasão da sua privacidade que vale nota;

- Cópia de texto: algo que a professora te obriga a fazer mesmo sabendo que é uma puta perda de tempo;

- Deus: um cara grande, velho, barbudo, invisível, muito poderoso e que te castiga freqüentemente;

- Anjo da guarda: uma versão muuuuito menor, menos poderosa de Deus e, no meu caso, um verdadeiro inútil;

- Cachorro: se for seu, é um dos melhores amigos possíveis, se for dos outros ou de rua, um perigo ambulante, cheio de dentes grandes e afiados;

- Gato: um bicho fofo, temperamental e que pode te infectar com o perigoso “vírus-da-asma”;

- Bonecas: a coisa mais sem graça (e que as meninas adoram) possível;

- Sexo: hã?

- Tatuagem: uma coisa errada, suja, feia e demoníaca, assim como brincos e cabelos compridos para meninos... e meninos para as meninas;

- Padre: um homem que pode usar vestido, que muita gente acha que é gay, mas não comenta isso com ninguém;

- Diversão: jogar vídeo-game, espiar vizinhos fazendo sexo (apesar de eu não saber o que é isso), escavar o chão do quintal, tirar notas boas e comprar doces com o troco do pão;

- Carnaval: uma coisa chata, barulhenta, cheia de violência, música enjoativa, regada de álcool e que eu vou odiar por mais 3 anos;

- Cerveja: algo com um gosto horrível, mas incrível por ter a capacidade de fazer papai ficar divertido, comunicativo e generoso (inclusive com grana);

- Empregada: uma criatura esquisita, autoritária, feia, mas que no fundo só quer o seu bem;

- Peixe: é quando o almoço adquire um gosto insuportável e te forçam a comer;

- Recuperação: é um tipo de prova que eu nunca vou fazer (até os 14 anos);

- Namoro: é uma coisa que envolve sentar no colo, trocar abraços, conversar e rir baixinho, rir sem motivo, e coisas afins... todas sem nenhum sentido;

- Casamento: algo que só dá certo entre os meus pais (pelo menos até os meus 17 anos);

- Alysson: um sujeito chato, petulante e esquisito e que vai mudar muito até os 23.

17 de julho de 2010

SABEDORIA


Na vida eu tive muitos professores. Professores da escola, professores da faculdade, professores de natação, professores-amigos, professores de todos os tipos. Mas de um tipo específico de professor, eu tive bem poucos: professor de vida.

Meus pais não me ensinaram muita coisa sobre a vida, eles estavam preocupados demais em manter minhas notas altas, em manter meu comportamento social dentro do normal e, sobretudo, em me manter quieto dentro de casa. Talvez por isso eles nem se importassem tanto quando eu passava de 15 a 18 horas por dia plantado na frente de um vídeo-game ou computador... exceto quando a conta de energia vinha alta, claro Eles também não se importávam com minha vida social quase inexistente... a sexual então, nem se fala! Além disso, tudo o que eles insistiam em me ensinar já era exaustivamente repetido por outras pessoas, com mais freqüência por tios ou pelos professores da escola. Não é meu papel aqui questionar a educação que eu recebi de pais, professores e parentes, apesar de eu considerá-la moralista e hipócrita em uma série de aspectos, mas sim exaltar esses poucos “professores de vida” que eu tive.

Na falta de gente capacitada pra me ensinar como viver adequadamente, eu tive que aprender sozinho por muito tempo, e confesso que nem fui tão bem. Até que a própria vida botou dois amigos-professores na minha frente: o Laisse Faire e a Danone.

A Danone me ensinou a não julgar, foi a primeira grande lição que eu tive dela. Aos poucos, ela me ensinou o real valor de um amigo, de um jeito que eu não entendia antes. Ela me ensinou na prática o que eu já havia lido no Pequeno Príncipe: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Depois ela me ensinou a fazer o bem, não somente pra “ir pro céu” ou esperando qualquer espécie de retorno. A Danone me ensinou inúmeras vezes a perdoar. E me ensinou que independente de como a sua família te trate, ela sempre será a sua família e você deve preservá-la (ou pelo menos tentar bastante) antes de somente julgá-la ou abandoná-la. Ela me ensina a cada dia a jamais desistir e a entender que nada do que você enfrenta é maior do que a sua capacidade de sobreviver. Ela me ensinou algo que eu havia perdido há anos: o significado de Deus, de religião, de espiritualidade, de fé e a importância disso na vida. E por fim ela me ensinou que não importa o quanto os seus problemas podem ser gigantescos, sempre haverá alguém com problemas maiores ou mais devastadores que o seu. E por mais incapaz e impotente que você esteja em relação aos problemas de quem você ama, um mero abraço, uma palavra de conforto ou um simples ouvido e ombro amigo podem fazer a diferença entre tudo e o nada.

O Laisse Faire, antes de ser sequer o meu amigo, me ensinou a ter paciência, e talvez ele nem saiba como fez isso. Ele foi a primeira pessoa com quem eu falei de minha sexualidade, antes de eu sequer aceitá-la, e ele ainda nem era meu amigo. E depois ele me ensinou a não ser odioso, a enfrentar problemas, a viver de cabeça erguida e a entender que não se deve levar as coisas, as pessoas e nem a vida tão a sério. E aí sim ele tornou-se o meu amigo. E mesmo vacilando algumas vezes comigo, ele acabou se fixando de uma forma totalmente permanente na minha vida. Foi ele quem melhorou meus hábitos de leitura e meu gosto musical. O Laisse Faire me ensinou que não basta rir, é necessário rir com um mínimo de inteligência, mesmo com a maior bobagem da humanidade. E ele, de uma maneira esquisita, me ensinou que o silêncio e a distância podem ser valiosos nos momentos certos, e que as coisas contraditórias não são exatamente ruins. O Laisse Faire me ensinou que amar não deve ser feito de forma leviana, que não se pode enganar o seu coração e que, mesmo que alguém te deixe em pedaços, ainda é possível viver, sobreviver, superar-se e ser feliz novamente, sendo capaz de rir das próprias histórias do passado e convivendo amistosamente com quem já te ofendeu ou te magoou.

A esses dois queridos amigos, eu só devo a maior gratidão, a maior consideração, um real sentimento de admiração, de companheirismo, de amizade e de uma ternura irônica e divertida. Obrigado de verdade por entrarem na minha vida, por me ensinarem mais do que eu merecia e por se manterem ao meu lado em toda hora. Eu não costumo falar isso publicamente, mas eu definitivamente AMO vocês!

OBS: abaixo, uma breve homenagem à Danone e ao Laisse Faire, respectivamente, músicas que eu simplesmente não consigo ouvir sem associar ao contexto desses dois grandes amigos!


ACCIDENTALY IN LOVE - COUNTING CROWS



LUZ DOS OLHOS - CÁSSIA ELLER

26 de junho de 2010

A PARADA GAY


Meu namorado me convidou para ir amanhã à Parada Gay. Ponto. Ele provavelmente ficará chateado pelo fato de que eu não ter aceitado o convite para acompanhá-lo na primeira vez que ele vai à Parada, uma coisa absolutamente comum entre namorados gays. Ponto. Mas a questão é que eu não aceitei o convite por motivos que nada tem a ver com falta de vontade ou disponibilidade de tempo. Também não é por pirraça, implicância ou nada que indique qualquer problema entre nós. Os motivos não são frágeis nem extrínsecos, pelo contrário, são extremamente pessoais e basais: eu não concordo com o movimento político atualmente apresentado pelas Paradas Gays da maior parte do Brasil e do mundo.

Diferente das gerações mais novas, a minha geração (e várias passadas, como disse a Dama em um coment do post passado) sofreu muito pra sair dos seus respectivos armários particulares (e não só do armário da sexualidade). Sexo, sexualidade e afins estavam embalsamados em tabus muito rígidos que, se por um lado eram sérios até demais, pelo menos não eram banalizados e esculhambados como são hoje. Foram períodos que, com certeza, estavam repletos de sofrimento, de violência, de estereótipos, de estigmas. E eu admiro muito quem lutou por uma posição por nós, que compomos toda a “classe” GLBT. Admito que nasci em uma geração onde a maior parte das trevas tórridas do “homossexualismo” já havia passado, ou seja, sou uma geração de transição. E talvez seja exatamente por isso que eu tenha tanto respeito e orgulho da militância que existiu e ainda persiste, apesar de não participar ativamente do movimento, mas sim como um colaborador que parte do micro para o macro (ou seja, o pouco de todos constitui o muito.

É exatamente a contra-mão das novas gerações que me preocupa. Mesmo correndo o risco de parecer ser um velho-gagá, conservador, tirano e com medo das mudanças, me assusta a banalização com que o tema GLBT tem sido tratado pelos jovens. Se por um lado eu admiro a naturalidade com que os jovens se assumem (intimamente e publicamente), cada vez mais cedo e sem retaliações tão violentas e tristes como eram antes (ou pelo menos bem menos freqüente do que antes); por outro lado, me revolta o desapego, a imaturidade e a irresponsabilidade que eles tem para com as principais decisões sociais e políticas que dizem respeito a todo(a) gay, lésbica, bi e etc. A Parada Gay é só um mero reflexo disso. Ali impera a corrente de pensamento atual: vamos nos divertir, vamos mostrar para o mundo o que fazemos e do que somos capazes, vamos incomodar a visão dos heteros nem que seja por um mero dia, vamos escandalizar, vamos ficar semi-nus, vamos nos vestir com trajes coloridos, purpurinados e caricaturados. Não fica claro que assim só aumenta o abismo e se reforça o pensamento de que os atuais estereótipos sobre os GLBT são verdadeiros?

Eu não sou hipócrita e me orgulho disso. Eu me divirto, eu beijo em público, não tenho vergonha de andar de mãos dadas com um garoto na rua e ainda pretendo ter uma camiseta totalmente pintada com as 7 cores do arco-iris. A diferença é que eu faço disso uma constante, do meu dia-a-dia. Não existe a menor necessidade de reforçar a minha sexualidade para os heterossexuais ou transformá-la em algo totalmente alienígena e que deve ser engolido pelas massas a seco, cedo ou tarde. Características como “apreciar a diversão”, “indiscrição”, “atrevimento”, “voyeurismo”, “promiscuidade” e etc NÃO SÃO exclusivas do grupo GLBT. Nunca foram e nunca serão, e é exatamente por isso que eu não concordo que expor tais atitudes numa avenida superlotada, seguindo trio-elétricos repletos de gogo boys semi-nus e drag-queens exuberantes, ao som de “I Will survive” e outra grandes músicas do repertório pop e eletrônico de divas seja a melhor forma de romper as barreiras do preconceito.

E não se engane: eu adoro gogo boys semi-nus (ou peladões mesmo), adoro festas (embora odeie superlotação), acho as drag-queens bem feitas e montada LINDAS, um espetáculo a parte (apesar de não ter vontade e nem coragem de imitá-las), adoro a maior parte das músicas que lá tocarão (como Lady GaGa e Madonna) e também adoro o clima de pegação e sensualidade que existe na maioria das Paradas Gays. E de forma homóloga, um homem heterossexual típico adora mulheres gostosonas semi-nuas (ou peladas mesmo), podem gostar de festas, podem gostar de fetichismo, podem gostar de seus respectivos estilos musicais e, mesmo que neguem, em sua maioria adoram sexo e sensualidade.

Se essas pessoas não selecionam um dia pra expor a vasta seleção de características do típico homem heterossexual brasileiro com orgulho e imposição, porque EU deveria apoiar um movimento que faz isso de forma similar e muitas vezes debochada, apenas porque a sexualidade do movimento mudou? Não é totalmente contraditório pedir direitos iguais e exigir um dia especial para nós membros do grupo GLBT, onde tudo o que pertença a “nossa cultura” seja exaltado e forçadamente exposto? E pra finalizar: será que é honesto dizer que ali estão representadas todas as “subcategorias” da comunidade GLBT? Mesmo sabendo que somos humanos como qualquer outro e, por sermos humanos, somos particulares, únicos, diferentes em muitas coisas e semelhantes exatamente apenas por sermos TODOS diferentes?

Acho que antes de fingirmos que o mundo é cor-de-rosa, é bom lembrar que ele foi vermelho escarlate, manchado do sangue que já foi derramado em lutas políticas para garantir o pouco que temos hoje. E mesmo se você não for um militante politicamente ativo, tenha o mínimo respeito por quem garantiu nosso presente e faça o possível, atitudes pequenas, que possam garantir que o futuro das pessoas que você ama seja um pouco melhor.

Eu simplesmente não me importo que meu namorado, meus amigos e pessoas queridas e conhecidas vão à Parada Gay, não me envergonho delas por irem, não os critico ou os julgo por terem decisões e atitudes diametralmente opostas à minha neste aspecto. Eu só peço que não me obriguem a ir e, que da mesma forma, não julguem a minha opinião e a minha atitude: elas estão fortemente embasadas e, até que eu receba uma contra-argumentação que me convença, elas não mudarão. E ponto final.

22 de junho de 2010

STEP BY STEP...


A história começa no dia 2 de maio de 1987 em Belém-PA. Eu não sei se fez sol, se choveu (em se tratando do Pará, 99% de chances de ter chovido) se foi um dia importante, se foi um dia triste, se foi um dia cinzento, aliás, não sei praticamente nada sobre esse dia. Sei apenas que foi o dia em que nasci. Minha mãe jurava que daria a luz a uma menina, já que a gravidez foi completamente oposta, desgastante, conturbada e turbulenta, se comparada à gravidez do meu irmão mais velho. Essa foi a primeira vez que eu contrariei as expectativas da minha mãe (o que viria a se repetir muito mais pela frente), quer dizer, nem tanto... eu digo, humoristicamente, que naquele dia, nós empatamos.

As primeiras lembranças que eu tenho de vivo são flashes muito rápidos, em cidades que eu não reconheço. Na primeira real e nítida lembrança que eu tenho, eu estava sobre uma mesa, com um gravador e um microfone de brinquedo em minhas mãos, cantando uma música antiga, que eu só lembro alguns versos: “Se uma estrela cadente o céu cruzar e uma chama no corpo me acender, vou fazer um pedido e te chamar pro começo do sonho acontecer”. Meus primos gravaram esse showzinho e meus pais e meus tios adoravam ver. Naquela época, eu não era exatamente uma criança bonita, mas era realmente cativante. As pessoas gostavam de me carregar, de brincar comigo, de me ouvir falar ou cantar. Eu lembro que minha cor preferida era o vibrante e alegre amarelo e eu repetia isso compulsivamente. Eu era uma criança feliz e desinibida, que acreditava plenamente que o mundo era um lugar totalmente feliz e sem problemas tão graves assim.

Eu não sei exatamente quando esse Alysson “morreu”. O único ponto de referência é o de uma tarde cinzenta, por volta das 16 horas, quando todos os meus vizinhos (a maioria mais velhos que eu) me ridicularizaram publicamente no maior ato homofóbico que eu já sofri em minha vida. Me chamaram de bichinha, de viado, me imitavam afeminadamente... coisas do tipo. O detalhe: foram liderados pelo meu irmão. Outro detalhe: eu tinha aproximadamente 6 os 7 anos. Minhas atitudes naquela época eram, certamente, andróginas e assexuadas, mas isso não poderia passar em branco. Eu nem sabia direito o que era ser gay, nem tinha atração sexual por sexo algum, eu sequer tinha ereções voluntárias. E ali, naquele dia, mataram a “fada” dentro do Alysson.

Eu comecei, a partir de então, a brincar sozinho, a gostar de azul (uma cor fria e discreta), a conter minhas emoções, a desenvolver um senso se superioridade e arrogância sobre as pessoas, por puro medo e raiva de que elas pudessem me humilhar novamente. Eu deixei de cantar alto. Deixei de viver uma vida social infantil e, por pouco, perdi quase toda minha adolescência. Eu me enfiei num mundo onde existiam personagens de desenhos, de histórias, de fantasias, de jogos, de filmes, de virtualidade, onde eu sempre me via como superior aos outros, um herói, um semi-deus quase inalcançável. E o preconceito pela homossexualidade foi tão escancarado naquela fase da minha vida, que eu cheguei a acreditar que ser gay era realmente errado (mas esta história vocês ja conhecem).

Mas, acreditem, isso foi o de menos: eu permiti que me convencessem a ser um moralista de carteirinha. As pessoas diziam: seja honesto; estude para ser alguém na vida, ainda que isso sacrifique qualquer coisa; sexo/farra/festa é vergonhoso e sujo; não traia; ajude os amigos não esperando nada em troca; desvalorize dinheiro; respeite os mais velhos apenas por serem mais velhos; e trate bem os seus familiares, quase de forma incondicionalmente e rastejante, mesmo aqueles que não merecem. E quem dizia isso tudo eram pessoas desonestas, burras, promíscuas, vadias, infiéis, interesseiras, egoístas, materialistas, arrogantes, inescrupulosas, falsas e, obviamente, hipócritas.

Demorou muito, muito tempo pra que eu tivesse a consciência de criar e adaptar meu próprio código ético-moral. Demorou muito tempo para que eu pudesse abrir os olhos e enxergar além daquilo que diziam ser verdade, ser pecado, ser errado, ser certo. Demorou muito tempo, e custou toda a minha inocência, pra eu enxergar os humanos como seres que podem estar no limite da sua idealização de perfeito ou conceito de desprezível, e demorou mais ainda pra perceber que idealizá-las, conceituá-las e rotulá-las simplesmente é uma perda de tempo.

Hoje, 23 anos, 21 dias e várias horas depois do meu nascimento eu me dei conta do estrago que foi feito em minha vida, de como as coisas poderiam ter sido diferentes, de como eu poderia ter me tornado outra pessoa, caso a minha pequena sociedade fosse diferente. E não é sob a ótica de um “coitadinho de mim” ou “isso me traumatizará para sempre”, mas sim de um sincero e humilde pedido a mim mesmo: que eu não seja capaz de fazer nada parecido com isso na vida de ninguém.

Fico feliz que, há tempos, eu olho pro céu com a humildade de quem diz “você é grandioso e bonito”, e não com a arrogância de quem diz “eu te dominarei”. E passo a passo, eu só pretendo sobreviver...