8 de outubro de 2011

THE POWER OF GOOD-BYE




Nesses últimos dias parei pra pensar no poder do adeus — mas não o "adeus" usual, o até logo que serve de intervalo entre os encontros. A propósito, já perceberam que só nos despedimos com o pesado e formal "adeus" quando temos a intenção de torná-lo definitivo? Tamanho é o poder do adeus que até temos receio de usá-lo, afinal, significa abandonar permanentemente algo/alguém...

Em uma de suas melhores músicas (a que entitula o post), Madonna diz que não existe maior poder do que o poder do adeus. E eu quase chego a concordar. É claro que eu não me refiro apenas às despedidas definitivas; o verdadeiro poder do adeus é o poder do eterno e constanta desapego!

Hoje em dia criamos muitas necessidades "de vida ou morte". Francamente: até comer, beber, dormir, respirar e excretar, que são necessidades humanas reais, sofrem alguma tolerância mínima e, dentro dos limites, podem ser adiados. Entretanto, nossas maiores necessidades cotidianas tornaram-se irrelevantes: ter uma roupa nova para uma festa, assistir ao filme tal, ter um namorado constantemente, comprar a novidade tecnológica da moda, acessar o Facebook 2 vezes por dia, assistir ao último episódio de True Blood, etc etc etc... eu mesmo mantenho boa parte dessa lista como algo de moderada importância.

Bem, isso é algo natural: como humanos que somos, criamos vínculos com aquilo que nos agrada. Se uma experiência é (dentro nos nossos parâmetros) prazerosa, então temos vontade de repeti-lá, mesmo que não seja algo plenamente saudável. E convenhamos que isso acontece com uma freqüência absurda, ao conhecer pessoas, ao degustar comidas e bebidas, ao experimentarmos novos lugares, ao interagirmos com objetos, etc. O problema é que nossos vínculos quase sempre ultrapassam o limite do prazer pro patamar de "apego necessário". Basicamente, um vício em pequena ou grande escala.

Não, eu não estou aqui pra fazer a linha falso-moralista do desapego material, da abstinência sexual, do anti-alcoolismo ou anti-tabagismo e afins. Acho que esse modelo cristão de ver as coisas é absolutamente prejudicial, tornando todas as formas de prazer em pecados capitais. Séculos de privação global do prazer humano tornaram nossa sociedade hipócrita, preconceituosa, auto-punitiva e infeliz, e se existe algum tipo de "salvação" depois de todo esse desgosto, acredito firmemente que ela não me apetece e não vale a pena. Sim, meu sobrenome poderia ser "hedonismo", desde que praticado com moderação.

O grande problema do nosso apego desmedido é que ele adquire caráter de necessidade. Não basta gostar de chocolate, é necessário ter uma dose à disposição o tempo todo ou com uma freqüência estável e fixa, caso contrário, ficamos frustrados. O exemplo acima ilustra a forma como tratamos as coisas que nos proporcionam algum tipo de prazer: primeiro apreciamos uma experiência, depois desejamos repeti-la, depois precisamos de uma freqüência estável em nossas vidas e, antes que possamos perceber, uma interrupção ocorre e entramos em algum grau de abstinência, sofrimento e frustração pela ausência do que desejamos. Façam uma auto-avaliação e perceberão que isso acontece a toda hora, todos os dias e com as coisas mais bobas. A melhor prova disso são as marcas: quantas vezes e quantas marcas você experimenta de um determinado produto antes de decidir qual é o melhor?

E finalmente entrando no foco do assunto, vocês observaram como é realmente grande o poder do adeus? O poder de dizer adeus às coisas sem sofrer com o fato? A capacidade de aproveitar uma circunstância de prazer e apenas apreciá-lá como se fosse a última vez, ao invés de criar vínculos de necessidade que provavelmente terminarão em frustração? Imaginem quanto sofrimento social, afetivo, financeiro, material e sexual evitaríamos. Imaginem quantas situações de lamento e perda deixariam de existir. Imaginem como iríamos encarar melhor situações de perda e roubo material, términos de relacionamentos, falecimentos de entes queridos e similares. Imaginem ainda como nossas vidas seriam mais intensas, emocionalmente falando: iríamos aproveitar o que já consideramos como "bobagens cotidianas" com muito mais vida, como um nascer/pôr do sol, um sorvete de creme, um abraço de quem a gente ama, um pequeno capricho ou conquista realizada...

E ao chegar a essa conclusão, do quão poderoso é o poder do adeus, eu percebo o quanto ainda somos pouco evoluídos emocionalmente e, por que não, espiritualmente; o quanto ainda temos que aprender; e, principalmente, o quanto uma maioria esmagadora de humanos vai continuar reclamando da vida e se sujeitando a auto-punição apenas porque não foram capazes de aprender algo que sempre esteve diante dos olhos, mas não foi visto.

2 comentários:

Lelouche disse...

Acho que eu não poderia ter escolhido hora melhor para usar tal poder.
Estou triste pelo que não foi. Acho que 80% se resume a isso: imaginar o que poderia ter sido. Mas apesar de tudo que aconteceu, que vivi, não me arrependo.

Btw.: ótimo texto. Parabéns!

Cris Medeiros disse...

Belo post! Minha luta diária é para não transferir para coisas, o que me falta no espírito. Ou seja, acho que as pessoa por solidão, vão às compras. Por carência acham que comer vai preenchê-las. Enfim são as armadilhas da vida que a gente tem mesmo que estar sempre atentos, senão ficamos eternamente consumindo e eternamente insatisfeitos.

Beijocas