13 de janeiro de 2013

A ORIGEM DO MAL





Quando é que nasce o argumento interno que justifica o bullying? A pergunta é dolorida e honesta: em que momento a criança se sente superior ou confortável com o sentimento de segregação, agressão e sofrimento alheio? Eu mesmo tenho um histórico desagradável de bullying infantil, embora já superado ao menos no nível consciente; primeiro por ser magricelo demais, depois por ter traços e comportamentos que me qualificavam como afeminado, depois por minha inaptidão para o esporte típico do brasileiro (futebol), depois por minha aptidão com desenhos, artes e cores, e finalmente por ser o típico nerd (cdf, como dizem por aqui) que vivia na ponta da frente da sala de aula. E lembro que mesmo muito cedo, no jardim de infância, ao olhar para os lados, eu já pertencia a um grupo dos que “não pertenciam”, de excluídos, que incluíam os filhos dos menos ricos, os menos bonitos (porque eu definitivamente não fui uma criança bonita), enfim, dos que não eram “parecidos com a maioria”, embora eu sequer saiba explicar o que qualifica essa “maioria”.


Mas em que momento isso começa? Será que é resultado da observação dos pais da criança, de como esses pais tratam amigos, parentes, empregados e chefes? Ou será que já é uma característica tão inata e tão individual que não pode ser separada ou suprimida da formação da personalidade? Porque crianças tão imaturas, com 3 ou 4 anos, são capazes de hostilizar gratuitamente, às vezes com certo grau de prazer sádico, outras crianças diferentes? Como esse comportamento passa despercebido, ou pior, acaba por ser ignorado por pais e professores que o observam? Até que ponto é natural deixar que crianças aprendam sozinhas a lidar com as diferenças alheias, ainda que de forma hostil, na construção do conceito do “eu” e do “o outro”?


E nessa, eu não me incluo só como vítima, porque é fato que a reprodução do comportamento agressor e opressor ao próximo nos cai bem como alívio das nossas próprias singularidades não aceitas. Quem nunca cometeu bullying contra um colega apenas para se sentir bem e superior a alguém, mesmo sendo vítima desse mesmo comportamento?


São perguntas que eu realmente não sei responder, mas acredito que nessas respostas mora a grandiosa explicação (e potencialmente a fonte da solução) para entender como o sentimento precoce de individualidade e de pertencimento a um grupo “aceito social” justifica o assédio e agressão física/social/psicológica ao outro “diferente” ou “inferior”, ainda que em níveis automatizados ou feitos sem a consciência total da agressão; e pra entender como esses sentimentos e justificativas se enraízam na personalidade do indivíduo de forma a construir preconceitos tão sólidos e resistentes na idade adulta.


Seria o bullying a semente que germina o preconceito?

Um comentário:

Cris Medeiros disse...

Já sofri bullying pesado, daqueles que parece coisa de filme. Um horror que me marcou bastante, acho que hoje consigo conviver com isso na boa, mas salas de aula me dão pânico ainda.

E um dia desses estava me lembrando que me juntei com três colegas uma vez para perseguir uma menina que era muito feia. E eu me diverti com isso. Acho que foi diversão mesmo, não sei se a criança ou o adolescente tem noção exata do tamanho do mal que está fazendo ao outro. Acho que há casos e casos.

Seja como for ainda bem hoje isso tem um nome e as pessoas e os profissionais da área se preocupam mais com isso. Na minha época de colégio ninguém dava atenção, nem nossos pais, nem o colégio, nem os professores, você estava simplesmente por sua conta e pronto.

Beijocas