11 de outubro de 2009

11 DE OUTUBRO - DIA DE SAIR DO ARMÁRIO 2009


Eu me considero fora do armário. E não é só de um armário, foram vários: o da sexualidade, o do moralismo, o do preconceito, o pseudo-familiar, o religioso/espiritual... Se eu aprendi alguma coisa em todos esses anos, foi que eu não posso exigir dos outros nada do que eu não seja capaz de fazer. E isso vale pra qualquer aspecto, o que só reforçou a minha ideologia de vida: não julgue, não se intrometa, não critique ou elogie sem conhecer muito bem o alvo das suas palavras (e mesmo conhecendo bem, pense duas vezes antes de usar suas palavras). E é com base nessa ideologia que eu sinto certo direito de exigir que não façam o mesmo comigo.

Meu “outing” foi muito rápido, ocorreu a menos de um ano, e eu acredito ter mudado muito e reorganizado violentamente minhas concepções: saí da autoflagelação e da homofobia internalizada para a consciência de que nada de errado/estranho/diferente existe com os GLBT. E é por esse motivo que não acho necessário andar com faixas arco-íris ou camisetas do tipo “tenho orgulho de ser homossexual”. De alguma forma, eu ainda não quis escancarar as portas do armário, pois não consigo ver necessidade de que TODOS obrigatoriamente saibam a minha orientação sexual.

Seria esse um reflexo do preconceito da sociedade e da violência como resposta à esse preconceito? Talvez, mas em meus poucos 22 anos, nunca sofri ameaças de violência física por motivo algum; e modéstia à parte, sempre respondi à altura e argumentei muito bem quando a tentativa de violência foi verbal pelo fato de eu ser gay. Eu só acredito que cheguei a um ponto de equilíbrio e tranqüilidade onde eu não preciso bradar aos quatro cantos aquilo que eu sou. Veja bem: eu não digo que tenho orgulho de ter o cabelo liso, de ser fisioterapeuta, de ser pardo, de ser bem educado, de escrever bem, de ser um bom filho, de ser leal às pessoas que amo, etc. Então porque eu deveria gritar que tenho orgulho de ser gay? Todas são características do Alysson que sou e acredito que todas devem ser encaradas naturalmente. E sinto muito orgulho dessas e de muitas outras características minhas.

A meu ver, estar do lado de fora do armário não significa declarar sua sexualidade pra todos com o velho e tenso discurso “Eu preciso te contar uma coisa... eu sou gay/lésbica/bi”. Sair do armário é levar a sua vida de uma forma tão natural e espontânea que você não vai ver problema ao andar por aí de mãos dadas com seu namorado(a), em dizer você que achou aquele cara/menina bonita (nem de persegui-lo(a) com os olhos), em se vestir do jeito que você acha melhor sem se preocupar com o que vão pensar, em dar um beijo carinhoso em público, etc. A diferença é não esconder aquilo que você é, mas sem dar importância demais pra uma característica que é tão normal quanto qualquer outra. A idéia é justamente destruir esse tabu montado sobre a homossexualidade como o completo oposto da heterossexualidade; a idéia é repassar a mensagem das similaridades e não das diferenças. Você acaba assustando algumas pessoas, mas elas ficam completamente desarmadas pela espontaneidade e tranqüilidade.

Por outro lado, o preconceito existe e ele não será apagado do dia pra noite. Ele precisa ser combatido SIM. E na hora de combater o preconceito, foda-se o que vão pensar de você, pouco importa se você não quer se expor. A informação é a melhor arma contra o preconceito, portanto não se sinta ofendido quando alguém resolver tirar dúvidas com você sobre os aspectos GLBT, pelo contrário, sinta-se honrado por disseminar informação (e trate de fazer isso de forma correta). Depois que já estiver fora do armário, discuta com seus pais e amigos a respeito disso, eles podem propagar a mensagem de igualdade. E não se omita: se sentir que foi discriminado, saiba que a lei está ao seu lado, a Constituição diz que nenhuma forma de discriminação pode ser aceita. Se algum amigo te ofendeu com algum comentário homofóbico, converse com ele da mesma forma que você conversaria para resolver qualquer outro tipo de ofensa, ele entenderá se for seu amigo.

Sair do armário é um processo quase sempre difícil, que exige tempo (mais pra uns, menos pra outros), autoconhecimento, informação e, na maioria das vezes, ajuda de um amigo, de um familiar ou mesmo de um psicólogo. Não apresse essas coisas, elas virão com o tempo e você saberá a hora certa de agir. O “outing” é mais fácil pra uns, mais difícil pra outros, envolve muito amor em uns casos, manifesta-se com violência em outros casos. Ninguém é melhor do que você pra avaliar como serão as reações das pessoas envolvidas e em que casos será necessária uma retirada estratégica e temporária pro armário, portanto, ninguém pode dizer quando será a melhor hora pra você.

A mensagem final é: porque sair do armário? Simples, porque viver um personagem cansa. Esconder uma parte de você é anular essa parte que, acredite, é tão importante como as outras. Acredite, a sensação de não ter que escolher as palavras, de não precisar ter medo do que vai falar pra não se comprometer é maravilhosa. Aliado a isso, em muitos casos a família apóia e respeita; e você percebe que as amizades só crescem a partir da “revelação”, a cumplicidade aumenta... a verdade não tem preço. Acredito plenamente que estar fora do armário simplesmente aumenta as suas chances de ser mais feliz!

6 comentários:

Cris Medeiros disse...

Toda vez que te leio fica sempre aquela impressão de que vc vê o mundo de uma forma muito parecida com a minha.

Sair do armário é isso mesmo, não precisa dizer que ama ser gay 24 horas por dia, apenas não esconder isso 24 horas por dia... rs

Adorei o post como sempre!

Beijocas

Thyanna disse...

Alysson
Realmente, viver um personagem não é a melhor das coisas. Apoio a idéia que as pessoas deveriam ser mais sinceras e saírem de seus armários protetores, mas não acho interessante o uso de "bandeiras" avisando ao mundo o que acabou de fazer, como você mesmo citou. E como vc mesmo diz, deve-se ter bom senso.

Abraços e bom feriado.

@JayWaider disse...

Allysson,

De verdade cara eu adorei seu texto. Concordo em gênero, grau, número e "essência". Eu fiz um post sobre o armário também uns meses atrás e defendi mais ou menos as mesmas idéias. Sou seu fã hehehehe cabeça boa vc. Se o destino não tivesse sido mais cruel comigo, nossas histórias, talvez fossem bem parecidas. Mas o importante mesmo é essa convicção madura do orgulho que temos de sermos antes de tudo, pessoa, ser humano e adjunto a tantas outras qualidades, mais uma.
Abraço e boa semana.
Bju
Jay

Gabriel Cadete disse...

viver um personagem cansa. exatamente!

BHY disse...

PARABÉNS pelo texto brilhante e sincero. Sorte sempre. ;-)

Doutrina Cristã disse...

Ola Alysson, vejo que voce é um cara equilibado, parabens.

vou seguir seu blog. grande abraço continue firme nos seus propositos...

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