26 de agosto de 2010

FROZEN


You only see what your eyes want to see
How can life be what you want it to be?
You're frozen
When your heart's not open.

(Frozen - Madonna)

Eu guardei meu coração num freezer. Ok, quase isso. Só arranquei o coração pra fora do seu espaço e, no seu lugar, coloquei um espelho de corpo inteiro, algumas garrafas de vodka, um mp3 player cheio de boas músicas, uns DVDs de pornografia e o meu celular. Eu finalmente ativei o meu lado egocêntrico e hedonista que, anteriormente, eu não tinha coragem nem vontade de abraçar. Tudo isso sem um pingo de ressentimento ou revolta, juro!

Nos últimos dois anos (que alguns de vocês acompanharam aqui no Sinapses) eu mantive o meu coração derretido, cheio, livre, solto demais. E com todo esse poder, por vezes ele dobrou a vontade do meu lado racional, quase sempre dominante. Por dois anos eu fui um Alysson compreensivo demais, humanizado demais, espiritualizado demais, muito cuidadoso com os sentimentos alheios, cheio de amor pra dar e sem esperar NADA em troca (não o tempo todo, não sou perfeito). E só recebi esse tipo de recompensa: mesmice, ingratidão, baixa consideração e indiferença (da maioria esmagadora, mas não de todos). E como sou um homem prático, se as coisas não estão dando certo, eu avalio as causas e fatores envolvidos no fracasso e tento mudar a minha tal realidade. Pode demorar um pouco em alguns casos, mas geralmente tarda sem falhar.

Por esse motivo, cansado de slap in my face, vou inverter tudo pro extremo oposto e recomeçar do zero na jornada pra alcançar um equilíbrio adequado. Até lá, coração em criogenia, duro como pedra, fechado, inacessível e intocável. Não pensem que é desilusão ou qualquer tipo de trauma, sério, não é nada disso. Só não quero assumir a responsabilidade por qualquer um que, ocasionalmente, acabar saindo machucado dessa história.

"Ok, Alysson. E o que isso muda, efetivamente?". Eu respondo: muita coisa, sobretudo os meus focos. Percebi que nesse tempo, a pessoa que eu menos amei foi o próprio Alysson, eu mesmo. E desgastado como estou, nada posso fazer pra contribuir positivamente com ninguém. Sendo assim, vou cuidar mais de mim, dos meus interesses, dos meus princípios e pontos de vista. É como eu disse, inicio uma fase egocêntrica, mas no melhor sentido que isso pode ter.

Quero me divertir, me aproveitar, me permitir. Isso significa recusar um ou outro favor, se eu tiver algo melhor em mente. Isso significa dizer "não estou interessado, obrigado", "não posso", "não quero" ou "vou estar ocupado com outra coisa", sem medo de causar qualquer má impressão. Até porque estive disponível, topando qualquer ajuda/tarefa/missão faz um certo tempo e foda-se quem resolver lembrar só das minhas respostas negativas, provavelmente são pessoas que não vão fazer falta. É claro que eu não vou ser uma pessoa ruim desnecessariamente, nem vou deixar de ser gentil ou prestativo. Só não vou dar ênfase nisso.

Eu quero dançar, beber, fumar, transar se e quando me der vontade. E negar tudo isso se a minha vontade recusar. Enfim, quero fazer comigo aquilo que me der vontade, viver a promiscuidade despudorada. Me dando o devido respeito e cagando e andando pra opinião alheia. Quero viver a maior boemia se isso estiver ao meu alcance. Eu não quero namorar. Eu quero não ter que ligar no dia seguinte pro garoto da noite anterior. E quero não ter que atendê-lo, caso ele ligue. Quero fazer isso sem me sentir mal. Eu quero dizer "você NÃO é importante pra mim" com a mesma sinceridade e efeito de quando eu digo "eu te amo".

E eu quero estudar mais, começar a trabalhar com entusiasmo (finalmente!), ler mais, pensar mais, meditar mais, assistir aquilo que me acrescenta ou que simplesmente me faz rir. Eu quero mais humor. E quero mais programas lights, como conversar com amigos por horas, sobre os temas mais relevantes ou sobre a mais fútil banalidade que nos vier na cabeça. Quero assistir filmes bons, e os ruins também. Quero ouvir música boa, e as ruins também. Quero perder o meu tempo numa tarde de RPG com amigos, numa noite de papo sob luz da lua ou numa caminhada solitária pela praia ao amanhecer.

Quero correr diariamente, pra cuidar da minha saúde e do meu corpo enquanto eu não posso pagar por uma academia. Quero ir ao dentista, ao médico, ao fisioterapeuta e ao psicanalista, nem que seja só pra ouvir um "está tudo bem". Quero mudar o corte de cabelo, cuidar da minha pele, quero precisar de uma manicure/pedicure, quero comer mais e melhor. Quero estar plenamente satisfeito com o espelho, dentro do possível.

Eu quero congelar a minha camada mais periférica e a casca do meu coração propositalmente. Eu quero estar tão bem comigo mesmo, ao ponto de me sentir completo sozinho, sem precisar de qualquer apoio ou "alma-gêmea". Eu vou aumentar as minhas chamas interiores, aquecer lentamente o que importa dentro de mim. E quando eu me cansar de aproveitar tudo o que eu sou e o que eu posso ser, só então eu irei procurar alguém tão completo quanto eu deverei estar.

Até lá, "quero ver apenas o que os meus olhos querem ver" e "estar congelado, enquanto meu coração não estiver aberto". Não é, Madonna?


5 comentários:

Cris Medeiros disse...

Olha! Aqui vai a opinião de uma mulher que arrancou o coração e jogou dentro do freezer, há mais ou menos uns 7 anos...

Tem horas que é ruim, a vida fica monótona, em muitos momentos perde o brilho mesmo, mas com certeza fica mais calma, mais centrada e a nossa dignidade agradece muito!

Não é um caminho gratificante, é apenas um caminho tranquilo, mas não podemos ter tudo na vida, precisamos fazer escolhas e estou bem com a minha... rs

Beijocas

Unknown disse...

Eu quero ser igual a você! Porque mesmo acompanhado, a gente tem que ser/estar bem "sozinho"!

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

Devemos sempre estar aquecidos em nós e por nós mesmos ... o resto nos vem por acréscimo ... estando assim reduzimos nossas carências e corremos menos riscos de nos apaixonar por alguém q tão somente nos supre aquelas do específico momento ...

bjux

;-)

Caju disse...

É...eu me acho mto frio ultimamente: nada me agrada, tudo está alheio e eu me sinto bem sozinho. È uma sensação estranha, mas deveras interessante.

Obrigadíssimo pelos comments no blog.

Abração.

Rodrigo disse...

Também deixei meu coração no freezer, pode ser com essa temporada lá ele aprenda algo hehehe


beijo pra ti e boa semana!