27 de julho de 2010

INGENUIDADE


Pergunte ao Alysson com 10 anos o que significa:

- Gay: um homem que gostaria de ser mulher;

-Meninas: criaturas esquisitas, frescas, moles, abundantemente enfeitadas e pintadas, e que, mesmo desperdiçando tempo, tiram boas notas;

- Meninos: criaturas que, em teoria, deveriam ser parecidas comigo... só em teoria...

- Diretora: alguém que você não vai querer conhecer nem nos seus piores pesadelos;

- Bola: algo tão perigoso e divertido como um soco, ou uma pedra vindo em sua direção;

- Escola: um lugar cheio de pessoas diferentes e esquisitas, que fingem ser o que não são para atingirem seus objetivos (sejam lá quais forem);

- Futebol: uma aglomeração de 22 pessoas violentas, com intenções violentas e armas violentas, praticando ações violentas e se divertindo enquanto isso;

- Irmão: alguém que, apesar de ter um DNA extremamente parecido com o seu, não poderia ser mais diferente de você;

- TV: um troço que, se não tiver passando desenho animado ou conectado a um vídeo-game, é a coisa mais chata possível;

- Mamãe: uma pessoa neurótica, bipolar, emocionalmente instável e que tem sempre razão;

- Papai: uma versão mais bruta, mais durona, menos fresca e mais pobre que a mamãe;

- Prova: a melhor, mais eficiente e mais valorizada moeda de troca com a mamãe... ou uma causa mortis muito justa;

- Chato: um cara que esqueceu ou desaprendeu a ser divertido;

- Peso: um motivo comum pra criticar as pessoas, desde que seja alto ou baixo demais;

- Verduras: um troço quase sempre verde, sem gosto, nojento, cheio de “nutrientes” e que os seus pais te obrigam a comer;

- Dinheiro: uma coisa rara, legal e que você não deve pegar dos outros (NUNCA!);

- Redação da escola: uma invasão da sua privacidade que vale nota;

- Cópia de texto: algo que a professora te obriga a fazer mesmo sabendo que é uma puta perda de tempo;

- Deus: um cara grande, velho, barbudo, invisível, muito poderoso e que te castiga freqüentemente;

- Anjo da guarda: uma versão muuuuito menor, menos poderosa de Deus e, no meu caso, um verdadeiro inútil;

- Cachorro: se for seu, é um dos melhores amigos possíveis, se for dos outros ou de rua, um perigo ambulante, cheio de dentes grandes e afiados;

- Gato: um bicho fofo, temperamental e que pode te infectar com o perigoso “vírus-da-asma”;

- Bonecas: a coisa mais sem graça (e que as meninas adoram) possível;

- Sexo: hã?

- Tatuagem: uma coisa errada, suja, feia e demoníaca, assim como brincos e cabelos compridos para meninos... e meninos para as meninas;

- Padre: um homem que pode usar vestido, que muita gente acha que é gay, mas não comenta isso com ninguém;

- Diversão: jogar vídeo-game, espiar vizinhos fazendo sexo (apesar de eu não saber o que é isso), escavar o chão do quintal, tirar notas boas e comprar doces com o troco do pão;

- Carnaval: uma coisa chata, barulhenta, cheia de violência, música enjoativa, regada de álcool e que eu vou odiar por mais 3 anos;

- Cerveja: algo com um gosto horrível, mas incrível por ter a capacidade de fazer papai ficar divertido, comunicativo e generoso (inclusive com grana);

- Empregada: uma criatura esquisita, autoritária, feia, mas que no fundo só quer o seu bem;

- Peixe: é quando o almoço adquire um gosto insuportável e te forçam a comer;

- Recuperação: é um tipo de prova que eu nunca vou fazer (até os 14 anos);

- Namoro: é uma coisa que envolve sentar no colo, trocar abraços, conversar e rir baixinho, rir sem motivo, e coisas afins... todas sem nenhum sentido;

- Casamento: algo que só dá certo entre os meus pais (pelo menos até os meus 17 anos);

- Alysson: um sujeito chato, petulante e esquisito e que vai mudar muito até os 23.

17 de julho de 2010

SABEDORIA


Na vida eu tive muitos professores. Professores da escola, professores da faculdade, professores de natação, professores-amigos, professores de todos os tipos. Mas de um tipo específico de professor, eu tive bem poucos: professor de vida.

Meus pais não me ensinaram muita coisa sobre a vida, eles estavam preocupados demais em manter minhas notas altas, em manter meu comportamento social dentro do normal e, sobretudo, em me manter quieto dentro de casa. Talvez por isso eles nem se importassem tanto quando eu passava de 15 a 18 horas por dia plantado na frente de um vídeo-game ou computador... exceto quando a conta de energia vinha alta, claro Eles também não se importávam com minha vida social quase inexistente... a sexual então, nem se fala! Além disso, tudo o que eles insistiam em me ensinar já era exaustivamente repetido por outras pessoas, com mais freqüência por tios ou pelos professores da escola. Não é meu papel aqui questionar a educação que eu recebi de pais, professores e parentes, apesar de eu considerá-la moralista e hipócrita em uma série de aspectos, mas sim exaltar esses poucos “professores de vida” que eu tive.

Na falta de gente capacitada pra me ensinar como viver adequadamente, eu tive que aprender sozinho por muito tempo, e confesso que nem fui tão bem. Até que a própria vida botou dois amigos-professores na minha frente: o Laisse Faire e a Danone.

A Danone me ensinou a não julgar, foi a primeira grande lição que eu tive dela. Aos poucos, ela me ensinou o real valor de um amigo, de um jeito que eu não entendia antes. Ela me ensinou na prática o que eu já havia lido no Pequeno Príncipe: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Depois ela me ensinou a fazer o bem, não somente pra “ir pro céu” ou esperando qualquer espécie de retorno. A Danone me ensinou inúmeras vezes a perdoar. E me ensinou que independente de como a sua família te trate, ela sempre será a sua família e você deve preservá-la (ou pelo menos tentar bastante) antes de somente julgá-la ou abandoná-la. Ela me ensina a cada dia a jamais desistir e a entender que nada do que você enfrenta é maior do que a sua capacidade de sobreviver. Ela me ensinou algo que eu havia perdido há anos: o significado de Deus, de religião, de espiritualidade, de fé e a importância disso na vida. E por fim ela me ensinou que não importa o quanto os seus problemas podem ser gigantescos, sempre haverá alguém com problemas maiores ou mais devastadores que o seu. E por mais incapaz e impotente que você esteja em relação aos problemas de quem você ama, um mero abraço, uma palavra de conforto ou um simples ouvido e ombro amigo podem fazer a diferença entre tudo e o nada.

O Laisse Faire, antes de ser sequer o meu amigo, me ensinou a ter paciência, e talvez ele nem saiba como fez isso. Ele foi a primeira pessoa com quem eu falei de minha sexualidade, antes de eu sequer aceitá-la, e ele ainda nem era meu amigo. E depois ele me ensinou a não ser odioso, a enfrentar problemas, a viver de cabeça erguida e a entender que não se deve levar as coisas, as pessoas e nem a vida tão a sério. E aí sim ele tornou-se o meu amigo. E mesmo vacilando algumas vezes comigo, ele acabou se fixando de uma forma totalmente permanente na minha vida. Foi ele quem melhorou meus hábitos de leitura e meu gosto musical. O Laisse Faire me ensinou que não basta rir, é necessário rir com um mínimo de inteligência, mesmo com a maior bobagem da humanidade. E ele, de uma maneira esquisita, me ensinou que o silêncio e a distância podem ser valiosos nos momentos certos, e que as coisas contraditórias não são exatamente ruins. O Laisse Faire me ensinou que amar não deve ser feito de forma leviana, que não se pode enganar o seu coração e que, mesmo que alguém te deixe em pedaços, ainda é possível viver, sobreviver, superar-se e ser feliz novamente, sendo capaz de rir das próprias histórias do passado e convivendo amistosamente com quem já te ofendeu ou te magoou.

A esses dois queridos amigos, eu só devo a maior gratidão, a maior consideração, um real sentimento de admiração, de companheirismo, de amizade e de uma ternura irônica e divertida. Obrigado de verdade por entrarem na minha vida, por me ensinarem mais do que eu merecia e por se manterem ao meu lado em toda hora. Eu não costumo falar isso publicamente, mas eu definitivamente AMO vocês!

OBS: abaixo, uma breve homenagem à Danone e ao Laisse Faire, respectivamente, músicas que eu simplesmente não consigo ouvir sem associar ao contexto desses dois grandes amigos!


ACCIDENTALY IN LOVE - COUNTING CROWS



LUZ DOS OLHOS - CÁSSIA ELLER