13 de outubro de 2011

FISIOTERAPIA: PROFISSÃO NA CONTRA-MÃO


Encare esta realidade, seja você um fisioterapeuta ou não: se a Fisioterapia existe é por determinação e muita teimosia. O instinto de sobrevivência que mantém viva a minha profissão é quase a mesma de um sujeito desesperado, jogado num rio com correnteza e que precisa sozinho nadar exaustivamente e lutar pra viver. Achou dramático? Então leia o texto completamente, prometo te fazer pensar a respeito...

Se eu pudesse resumir a Fisioterapia, e isso não é fácil, diria que ela é um misto de arte e ciência. É ciência porque, através da química, física e biologia, você começa aprendendo como o corpo funciona em condições normais; depois aprende como ele funciona em condições adversas como doenças e morbidades; depois conhece um pouco do que as outras profissões da saúde (medicina, enfermagem, psicologia, fonoaudiologia, etc...) podem fazer pra resolver essas condições adversas; e, finalmente, aprende o que você como fisioterapeuta pode fazer pra cuidar e melhorar a situação e a qualidade de vida do paciente, com ajuda das mãos (grande ferramenta!) e alguns aparelhos. Parece uma profissão tapa-buraco, mas não é: existem inúmeras doenças e lesões que só podem ser tratadas adequadamente com a atuação exclusiva de um fisioterapeuta e mais outra infinidade de circunstâncias práticas aonde o paciente chega ao fisioterapeuta quando nenhuma outra área da saúde conseguiu ter sucesso em tratar, melhorar ou amenizar seus problemas. Eu também a defino como arte porque não é nos livros que se encontra a “receita mágica” pra tratar de pessoas que precisam da sua ajuda: um abraço no momento certo, a bronca necessária, a conquista da confiança, a explicação difícil facilitada por meio de palavras populares, a conversa de conscientização com os familiares e o apoio dado em horas em que o paciente perde a fé na própria recuperação; nada disso é aprendido em termos de “evidência científica”, é tudo questão de auto-inclinação e muita prática.

A verdade é que a Fisioterapia não é aquela clássica profissão de salvar vidas (embora muitos o façam, sobretudo os que trabalham em UTI e com urgência e emergência), mas sim a profissão de cuidar de pessoas de carne, ossos, mente e coração, de diminuir suas dores e seus desconfortos.

Sim, é muito bonito ser fisioterapeuta. Só não é nada bonito o lugar que ocupamos dentre as áreas da saúde. A atual tabela oficial de pagamentos do fisioterapeuta ainda é de 1992 e, apesar da salgada anuidade da carteira e afiliação com o CREFITO (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional), pasmem: muito pouco é feito pelos Conselhos Regionais e pelo Federal em termos de conquista e luta pelos nossos direitos e a sociedade praticamente desconhece sua existência, sua atuação é mínima e invisível, se comparada com o CRM (Conselho Regional de Medicina) e o COREN (Conselho Regional de Enfermagem), por exemplo. Os planos de saúde pagam por sessão (que varia de 30 a 60 minutos, em média) um valor com mais de 10 anos sem reajuste que varia entre 6 e 12 reais. É menos do que um pedreiro ou uma manicure ganham por hora e, sem a menor intenção de ofender tais profissões, é conveniente lembrar que passamos 4 anos na faculdade (recentemente diminuído de 4 anos e meio). Quando saímos dela, enfrentamos a desvalorização profissional, o desemprego generalizado da área, a humilhação e a semi-escravidão em clínicas particulares ou lutamos por concursos que oferecem 1 ou 2 vagas e, quando conseguimos um emprego, recebemos de 5 a 12 vezes menos que um médico com carga horária de trabalho até 30% menor. Isso é um exemplo real: a minha história profissional.

Como se não bastasse, a Fisioterapia ainda é uma profissão pouco reconhecida socialmente. Quando o é, adquire caráter de tratamento “adicional”, “opcional”, “alternativo” ou “de luxo”. Os pacientes ainda acham que só precisam procurar um fisioterapeuta uma vez por mês, ou quando sobra dinheiro, ou quando acreditam que precisam relaxar com uma bela massagem, ou quando sobra tempo na agenda corrida do dia-a-dia, ou quando os remédios já não fazem mais efeito, ou quando nada mais resolve seu problema e aquela lesão crônica já não tem muitas esperanças de ser curada. Para sociedade, basicamente, a Fisioterapia é necessidade de ricos, desocupados ou desesperados por um milagre. Esse pensamento totalmente equivocado custa caro para o paciente, para suas famílias, para os empregadores, para os cofres públicos e para a previdência, pois o que tem de absenteísmo e aposentadoria de gente incapacitada de trabalhar por dores (que poderiam ter sido tratadas por completo alguns meses ou anos antes) é quase incalculável. Só que esse dinheiro curiosamente não cai nos bolsos dos fisioterapeutas...

Esquecendo um pouco a questão financeira, a Fisioterapia é uma profissão de teimosos apaixonados que lutam contra a real vontade dos pacientes. Você não vai acreditar, mas os pacientes em sua grande maioria NÃO QUEREM se curar. Ao invés disso, eles querem SER CURADOS, e existe uma profunda diferença entre as duas coisas. Com essa cultura capitalista, imediatista e terceirizada, o paciente se aliena totalmente de sua responsabilidade primária, constante e ativa sobre sua própria saúde. O que eles realmente desejam são pílulas milagrosas que curem as consequências de todos os atos irresponsáveis que eles mesmos cometem diariamente e, de preferência, que seja agora, imediatamente, já! O que eles querem é deitar confortavelmente sobre uma maca, fechar os olhos, esquecer que os problemas do mundo existem e transferir a responsabilidade da cura e manutenção da sua saúde para um terceiro ­­– o fisioterapeuta – pra que este massageie, alongue, mobilize, fortaleça e reabilite o que for necessário. E a dor deve sumir, do contrário eles nem voltam. A saúde do Brasil ainda tem foco na atenção secundária e terciária, ou seja, tratar a doença/morbidade e reabilitar o paciente para evitar/amenizar as possíveis sequelas. Mesmo com tanto investimento, muito pouco é feito na base da pirâmide – na prevenção, educação e conscientização. Como consequência, a sociedade dá pouco valor à manutenção da saúde e supervaloriza a cura.

Isso torna o já difícil trabalho de um fisioterapeuta no 13º trabalho de Hércules (seria essa a explicação numerológica do dia do fisioterapeuta?). O paciente sente a dor e se auto-medica, depois de meses nesse padrão vicioso, o medicamento perde o efeito e finalmente a ida ao médico não pode ser mais adiada. Do intervalo entre o surgimento da dor e o encaminhamento pro serviço de Fisioterapia mais próximo, a lesão que era facilmente resolvida torna-se crônica e complexa. Como se não bastasse, existe uma recusa enorme em aderir plenamente ao tratamento, incluindo uma atividade física regular, exercícios e alongamentos específicos diários, cuidados posturais e auto-preservação. Responda rápido: você conhece quantas pessoas que fazem exercícios regularmente, cuidam da alimentação, dormem bem e adequadamente e fazem exames esporádicos de prevenção?

Finalmente, existe outro grande problema: muitos pacientes não desejam a cura e a melhoria de suas dores. Esse grupo infelizmente nem tão pequeno de pessoas quer remover seus sintomas, não as causas destes. Isso geralmente acontece porque, de alguma forma, estar doente ou sofrendo acaba trazendo um benefício bizarro. Pode ser uma aposentadoria, um repouso pra quem não aguenta mais o trabalho e às vezes pode ser simplesmente atenção e carinho dos familiares. Ok, os pacientes podem até querer que suas dores passem, mas apenas no plano prático das coisas.

A ciência já evoluiu muito na área da neuropsicoimunologia, ou seja, a conexão existente entre o sistema nervoso de uma forma geral, o sistema de defesa corporal e a psique humana. Existem diversas evidências de que condições puramente psico-sociais ruins podem se manifestar em condições físicas ruins, como dores e os mais diversos sintomas clínicos, que são englobados nas chamadas doenças psicossomáticas. Além disso, existe um fator psicológico em qualquer condição adversa à saúde, seja causando, piorando ou interferindo no processo de uma forma geral. Nesses casos, os pacientes podem aderir bem ao tratamento convencional medicamentoso, cirúrgico e físico, mas não alcançam a cura ou melhoria dos sintomas porque não são capazes de resolver seus problemas familiares, emocionais, afetivos, financeiros, espirituais, profissionais, etc. Muitos pacientes não melhoram apenas porque não acreditam ser capazes de melhorar ou porque estão inconscientemente presos à necessidade de estar doente, seja por algum benefício, por auto-punição ou por qualquer outro motivo oculto. O fato é que os humanos adoecem não só pelo que acontece dentro do que é real, mas também pelo que é virtual, subjetivo, possível e/ou imaginário. Já ouvi um caso curioso de uma senhora que acendia velas pra que uma determinada personagem da novela melhorasse de vida e não sofresse tanto; parece ridículo, mas parem pra pensar nas consequências que esse tipo de interferência pode causar na vida de um paciente.

Pra finalizar a reclamação: sabe quem vai passar de 30 a 60 minutos conversando com o paciente enquanto está avaliando, massageando, alongando, fortalecendo, mobilizando e reabilitando? Sabe qual profissional da saúde tem tempo e contato suficiente pra descobrir que tem algo errado com a cabeça, com as pessoas e com o meio em que o paciente vive, e não só com seu corpo? E sabe quem NÃO TEM esse tipo de preparo psicoterapêutico adequado na faculdade, pra ser capaz de se proteger psicologicamente e pra encontrar e identificar as necessidades neuropsicoimunológicas do paciente? E então, ainda acha que fui dramático no começo do texto?

Sim, a Fisioterapia anda na contra-mão e vai continuar assim se uma série de fatores não forem mudados logo, logo. A sociedade precisa conhecer e reconhecer a importância da Fisioterapia, não só como a brincadeira sem graça de que são massagistas profissionais: sim, somos excelentes massoterapeutas, mas fazemos muito mais, indiscutivelmente. Os governantes precisam nos dar um lugar decente e que já é merecido, não apenas esses cargos “de favor” ou complementares, pois se a sociedade ainda sofre com os efeitos da nossa ausência, é porque existem poucos fisioterapeutas atuando por número de habitantes e isso é uma triste realidade. O nosso próprio conselho deveria atuar muito mais a favor dos nossos interesses, estar bem mais presente na esfera política do governo e tomar decisões mais impactantes e ousadas. Se os médicos entram em greve, a população enlouquece e a mídia se escandaliza; se fisioterapeutas entram em greve, a sociedade ri alto. É justo?

E, por fim, é necessário muito mais interesse da própria classe em mudar a própria realidade. Inúmeros fisioterapeutas sentem uma inveja reprimida dos médicos, mas poucos deles conscientizam-se que é mostrando a nossa atuação e lutando pelos nossos direitos é que será possível alcançar nosso próprio espaço. Difamar ou inferiorizar outras áreas da saúde não vai melhorar nossa situação. Quantos fisioterapeutas fazem valer a pena o que aprenderam na faculdade? Quantos fazem uma residência decente, se especializam, se atualizam, fazem cursos complementares, se mantém estudando após a faculdade e antes de procurar emprego? Quantos fisioterapeutas se recusam a lucrar com “choquinho”, “gelinho” e “massagenzinha” de 10 minutos, feitos em 10 pacientes por vez, prejudicando a imagem da profissão e enganando pessoas apenas pra aceitar a esmola de seis, eu disse SEIS REAIS por sessão? Os que eu conheço, contos nos dedos, talvez de uma única mão.

No dia 13 de outubro, dia do fisioterapeuta, eu percebi que só comemoro essa homenagem por amor, um amor que eu nem sabia que tinha pela profissão que acidentalmente escolhi e pela qual me mantenho apaixonado todos os dias. Reconheço que não sinto um pingo de orgulho pelos que representam minha classe profissional de uma forma geral; onde existem tantos maus profissionais; onde a ética interprofissional é tão pouco praticada; onde existe um fisioterapeuta oportunista se oferecendo por metade do salário na vaga daquele outro colega, que foi demitido por organizar uma manifestação a nosso favor; e que ainda briga pra definir quem é o melhor entre “generalista”, “intensivista”, “RPGista”, “osteopata”, “hidroterapeuta” e etc. Ainda tenho esperanças de que, no futuro, a Fisioterapia seja devidamente reconhecida e valorizada, mas até lá, todos os fisioterapeutas, de qualquer especialidade e qualquer lugar, precisam entender que o que nos une é muito maior do que aquilo que nos separa. Pensem nisso...

FELIZ DIA DO FISIOTERAPEUTA!
#13outubro

8 de outubro de 2011

THE POWER OF GOOD-BYE




Nesses últimos dias parei pra pensar no poder do adeus — mas não o "adeus" usual, o até logo que serve de intervalo entre os encontros. A propósito, já perceberam que só nos despedimos com o pesado e formal "adeus" quando temos a intenção de torná-lo definitivo? Tamanho é o poder do adeus que até temos receio de usá-lo, afinal, significa abandonar permanentemente algo/alguém...

Em uma de suas melhores músicas (a que entitula o post), Madonna diz que não existe maior poder do que o poder do adeus. E eu quase chego a concordar. É claro que eu não me refiro apenas às despedidas definitivas; o verdadeiro poder do adeus é o poder do eterno e constanta desapego!

Hoje em dia criamos muitas necessidades "de vida ou morte". Francamente: até comer, beber, dormir, respirar e excretar, que são necessidades humanas reais, sofrem alguma tolerância mínima e, dentro dos limites, podem ser adiados. Entretanto, nossas maiores necessidades cotidianas tornaram-se irrelevantes: ter uma roupa nova para uma festa, assistir ao filme tal, ter um namorado constantemente, comprar a novidade tecnológica da moda, acessar o Facebook 2 vezes por dia, assistir ao último episódio de True Blood, etc etc etc... eu mesmo mantenho boa parte dessa lista como algo de moderada importância.

Bem, isso é algo natural: como humanos que somos, criamos vínculos com aquilo que nos agrada. Se uma experiência é (dentro nos nossos parâmetros) prazerosa, então temos vontade de repeti-lá, mesmo que não seja algo plenamente saudável. E convenhamos que isso acontece com uma freqüência absurda, ao conhecer pessoas, ao degustar comidas e bebidas, ao experimentarmos novos lugares, ao interagirmos com objetos, etc. O problema é que nossos vínculos quase sempre ultrapassam o limite do prazer pro patamar de "apego necessário". Basicamente, um vício em pequena ou grande escala.

Não, eu não estou aqui pra fazer a linha falso-moralista do desapego material, da abstinência sexual, do anti-alcoolismo ou anti-tabagismo e afins. Acho que esse modelo cristão de ver as coisas é absolutamente prejudicial, tornando todas as formas de prazer em pecados capitais. Séculos de privação global do prazer humano tornaram nossa sociedade hipócrita, preconceituosa, auto-punitiva e infeliz, e se existe algum tipo de "salvação" depois de todo esse desgosto, acredito firmemente que ela não me apetece e não vale a pena. Sim, meu sobrenome poderia ser "hedonismo", desde que praticado com moderação.

O grande problema do nosso apego desmedido é que ele adquire caráter de necessidade. Não basta gostar de chocolate, é necessário ter uma dose à disposição o tempo todo ou com uma freqüência estável e fixa, caso contrário, ficamos frustrados. O exemplo acima ilustra a forma como tratamos as coisas que nos proporcionam algum tipo de prazer: primeiro apreciamos uma experiência, depois desejamos repeti-la, depois precisamos de uma freqüência estável em nossas vidas e, antes que possamos perceber, uma interrupção ocorre e entramos em algum grau de abstinência, sofrimento e frustração pela ausência do que desejamos. Façam uma auto-avaliação e perceberão que isso acontece a toda hora, todos os dias e com as coisas mais bobas. A melhor prova disso são as marcas: quantas vezes e quantas marcas você experimenta de um determinado produto antes de decidir qual é o melhor?

E finalmente entrando no foco do assunto, vocês observaram como é realmente grande o poder do adeus? O poder de dizer adeus às coisas sem sofrer com o fato? A capacidade de aproveitar uma circunstância de prazer e apenas apreciá-lá como se fosse a última vez, ao invés de criar vínculos de necessidade que provavelmente terminarão em frustração? Imaginem quanto sofrimento social, afetivo, financeiro, material e sexual evitaríamos. Imaginem quantas situações de lamento e perda deixariam de existir. Imaginem como iríamos encarar melhor situações de perda e roubo material, términos de relacionamentos, falecimentos de entes queridos e similares. Imaginem ainda como nossas vidas seriam mais intensas, emocionalmente falando: iríamos aproveitar o que já consideramos como "bobagens cotidianas" com muito mais vida, como um nascer/pôr do sol, um sorvete de creme, um abraço de quem a gente ama, um pequeno capricho ou conquista realizada...

E ao chegar a essa conclusão, do quão poderoso é o poder do adeus, eu percebo o quanto ainda somos pouco evoluídos emocionalmente e, por que não, espiritualmente; o quanto ainda temos que aprender; e, principalmente, o quanto uma maioria esmagadora de humanos vai continuar reclamando da vida e se sujeitando a auto-punição apenas porque não foram capazes de aprender algo que sempre esteve diante dos olhos, mas não foi visto.

3 de setembro de 2011

30 CONSELHOS GRATUITOS




1- Saia cedo de casa, pra aprender a vida na prática. Isso não quer dizer que você vai fugir de casa nem se tornar um vagabundo de rua. Interaja com os outros, aprenda com o que é diferente.

2- Fuja da sua zona de conforto sempre que possível. Inteligência se adquire com treino, paciência e disciplina. Sabedoria se adquire com vivência, maturidade e experiência. Prática só se adquire praticando.

3- Formule bem cedo suas bases, à
medida em que você começar a compreender que "certo" e "errado" são relativos. Modifique-as sempre que julgar necessário. Conheça a si mesmo, sua ideologia, sua espiritualidade (ou a ausência dela), seus limites e suas verdades.

4- Tenha sempre em mente que suas bases e verdades são individuais. Valem pra você e pra sua forma de ver o mundo. Desista de aplicá-la a todos. Desista de moldá-la pra abraçar a todos.

5- A durabilidade das suas bases dependem do seu grau de informação, auto-conhecimento e argumentação, em primeira e terceira pessoa. A morte de uma certeza equivocada dá lugar a uma série de dúvidas sadias.

6- Teimosia e convicção são coisas diferentes e suas fronteiras estão bem distantes, não misture-as.

7- Seja tolerante com as diferenças alheias, mas não seja complacente nem condescendente demais. Existem diferenças que devem ser entendidas e aceitas, mas também existem defeitos que são inadmissíveis.

8- Se um comportamento alheio te parece reprovável, observe se ele pode ser explicado, compreendido ou modificado. Ajude os outros a melhorarem aquilo que os limitam. Afaste-se daqueles que não desejam melhorar, remova-os da sua vida.

9- Verifique também se sua condenação ao comportamento reprovável é justa e se não carrega valores pessoais ou preconceituosos. Nesse caso, conscientize-se ou busque ajuda para superar sua conduta.

10- Não seja hipócrita e nem traia seus valores. Não se transforme naquilo que você rejeita. Não se permita agir de forma contrária ao que você acredita.

11- Não aja sempre por impulsos, mas também não aprisione seus instintos. A emoção e a razão são faces de uma mesma moeda, que perderia o valor se fosse cortada ao meio. O equilíbrio é a direção da evolução.

12- Não guarde rancores, ressentimentos, lutos, derrotas ou decepções: elas tem o poder de te adoecer física e mentalmente. Expresse-os de alguma forma, ritualize-os em algum momento. Faça as pessoas perceberem externamente sua dor ou seu ódio e, dessa forma, encontre um meio de arrancá-los de dentro de você.

13- A liberdade é, sem dúvidas, o maior presente e a maior responsabilidade que pode ser alcançada por um humano. Busque-a, aprenda a ser livre sem aprisionar ninguém nesse processo.

14- Tudo o que você faz tem um preço e uma consequência que se reflete em você mesmo, nas pessoas ao seu redor e no lugar onde você vive: isso ocorre em maior ou menor grau e não deve ser ignorado.

15- Não permita que suas crenças roubem de você o direito de sentir prazer, a menos que essa realmente seja a sua vontade. Coma, beije, ame, prove, transe, dance, beba, jogue, gaste e aventure-se. Só não se esqueça que tudo tem um preço (pra você, pros outros e pro mundo) e, de preferencia, ele não deve ser maior que o grau de prazer obtido.

16- Não se sinta forçado a fazer aquilo que te desagrada descaradamente. Existe uma grande diferença entre respeitar e participar de convenções sociais ou aceitar gentis convites e anular-se para exclusivo proveito alheio.

17- Não deixe de se amar fisicamente, intelectualmente, profissionalmente, socialmente e psicologicamente. Não permita que leis externas ditem como você deve ser: seu maior compromisso é agradar a quem você olha no espelho, ninguém mais.

18- Entretanto, não se permita acreditar que, do jeito que você já está, já é bom o suficiente. O amor-próprio deve ser dinâmico e inovador. Comodismo é a direção da regressão ou, no mínimo, estagnação.

19- Busque o equilíbrio entre a arrogância e a humilhação, quase sempre a humildade corresponde à faixa de divisão entre elas. Entretanto, aprenda o bastante pra saber o momento de ser arrogante contra quem se coloca acima de você e acolhedor com quem se coloca abaixo de você.

20- Não se leve a sério demais. Não leve as pessoas e os fatos a sério demais. Não conceda às coisas mais importância ou gravidade do que elas realmente têm. Tenha bom-humor, saiba rir dos próprios erros, saiba rir das ofensas despropositadas; sempre partindo do princípio de que, pra começar, você não tem a obrigação de ser um modelo de perfeição pra si próprio e nem pra ninguém. Isso basta.

21- Estando bem com quem você é, esteja preparado para procurar ou ser encontrado por uma pessoa (ou várias) que te aceite plenamente, sem julgamentos, sem decretos. Alguém que, necessariamente, seja compatível com você, que te ajude a melhorar como pessoa e que te ame de verdade.

22- Entretanto, saiba que brigas virão, dificuldades no relacionamento surgirão e todo tipo de problema inesperado acontecerá. É a tolerância, o amor entre vocês e a capacidade de acreditar que é possível superar tudo isso que fazem toda a diferença.

23- Saiba também que nem as condições mais ideais - sejam elas sentimentais, psicológicas, financeiras, sociais, de compatibilidade e a busca de um mesmo objetivo - nada disso será garantia de que um relacionamento dê certo. A responsabilidade de fazê-lo funcionar e de mantê-lo em sucesso é de ambos. O fracasso, da mesma forma, quase sempre é responsabilidade de ambos. As vezes, os caminhos simplesmente tornam-se diferentes.

24- Aceite que nem sempre o amor acontece. Nem sempre as pessoas buscam o amor e isso não é errado. Nem sempre as pessoas vivem em par (ou outras combinações mais exóticas) e nem sempre encontrar alguém pra chamar de seu é um destino certo, garantido. Quanto antes você encarar essa possibilidade real - a possibilidade de ficar sozinho - menos sofrerá no futuro.

25- Lute pelos seus direitos com a mesma força e convicção que você defenderia uma criança de um criminoso. Tendo filhos ou não, querendo ter filhos ou não: são as crianças de hoje que sustentarão e continuarão o legado que você construiu ou construirá.

26- Não permita que a sua crença espiritual/religiosa seja contrária às suas bases, suas verdades. Não existe fé sem atitudes cotidianas, não existe crença sem prática diária. Se você não tem religião ou um lado espiritual, faça de suas bases a sua crença: em alguma coisa você deve acreditar, nem que seja em você mesmo.

27- Saiba expressar e demonstrar com atos e palavras: amor, gratidão, consideração, respeito, amizade, preocupação, remorso, arrependimento e perdão. Na maior parte das vezes, aquilo que não é visto ou percebido é encarado como inexistente.

28- Conscientize-se acerca das suas responsabilidades com o planeta e o meio-ambiente. Preserve-o, mas nem por isso deixe de ser prático ou acabe sendo um eco-chato. Só um imbecil destruiria a fonte básica de sua própria sobrevivência.

29- Dê às pessoas aquilo que elas merecem. Se elas desejam ser ignorantes, ofereça o silêncio. Se elas desejam o transtorno e o conflito, ofereça solidão. Se elas desejam ser cegas, ofereça a indiferença. Se elas buscam ajuda, orientação e conselhos, ajude-as dentro do seu possível. Reserve exceções àqueles que não sabem o que querem ou que direção tomar, aos seus verdadeiros amigos e aos familiares que verdadeiramente sabem ser sua família.

30- Por maiores e melhores que sejam os sentimentos e intenções, não ocupe lugares que não te pertencem. Sendo filho, não seja pai. Sendo amigo, não seja superprotetor. Sendo marido/namorado, não esteja acima ou abaixo de quem você ama. Ocupar lugares alheios pode te oferecer uma sensação de felicidade por ajudar alguém especial, entretanto, acarreta em sofrer todos os problemas reais que o lugar ocupado naturalmente possuem.

Lembre-se: tudo tem um preço...



Alysson Furtado Andrade (que não é especialista em porra nenhuma - exceto em Terapia Manual - mas gosta de dar conselhos a esmo...)

14 de maio de 2011

SOBRE PSEUDO-AMORES E PONTOS FRACOS



Eu não gosto de pseudo-amores, daqueles que surgem em instantes e, feito ebola, infectam cada centímetro do sujeito, que torna-se capaz e audacioso o suficiente pra proferir o “eu te amo” sem a devida importância que essas três palavrinhas possuem. Se você está apaixonadamente inflamado e deseja declarar ao mundo esse sentimento, fique à vontade, mas não subestime o significado da palavra amar, não na minha frente. Você tem todo direito de ser o alvo do famoso “amor à primeira vista”, desde que cumpra aos seguintes pré-requisitos: 1) ser um teenage, bem adolescente típico mesmo; 2) ser virgem; 3) ser totalmente inexperiente sentimentalmente (o que engloba 99% do universo dos dois requisitos anteriores). Eu não acredito em amores prontos. Não acredito também que uma fada depositará pó de pirlimpimpim na minha vida e magicamente fará meu grande amor surgir. Acho que nem preciso dizer o que penso do cupido e da lenda do príncipe encantado, né?

Mesmo correndo o risco de ser chato por martelar nesta mesma tecla há meses, reafirmo que, desde que decidi percorrer voluntariamente a solitária e congelada “floresta-do-amor-próprio”, percebi que é possível remover tantas situações sentimentalmente desagradáveis da vida que pouca coisa tem me tentado a voltar ao colorido “jardim-das-paixonites-temporárias”. Pode parecer medo de enfrentar possíveis amores, medo de dar a cara pra bater, mas não é não: o “nível” das pessoas que andam aparecendo e se jogando na minha vida só me faz constatar que, sim, eu mereço coisa melhor. Melhor do que rostos/corpos bonitinhos de cabeça vazia, teenages sonhadores e imaturos, máquinas de sexo fast-food, gente mal resolvida, gente comprometida, gente fútil, gente carente e arquétipos similares. Se tudo que merece ser feito merece ser bem feito, por que no amor teria que ser diferente? Mas, infelizmente, isso é só uma meia verdade...

Entretanto – e é com muito pesar que eu digo este “entretanto” – eu recentemente me peguei observando e pensando em desconhecidos e tendo surtos de “paixonites” com direito a historinhas imaginárias idealizadas. É bizarro, mas parece que o tiro saiu pela culatra: eu conscientemente sei que é IMPOSSÍVEL desenvolver sentimentos mais profundos por pessoas que você sequer conhece além da aparência e das duas frases trocadas no MSN, na academia, no ônibus, na fila do banco, enfim; mas é exatamente por esses sujeitos (e muitos deles nem são bonitos) que eu vendo desenvolvendo pseudo-amores. Irônico, não? Quando eu finalmente me acho capaz de abstrair a necessidade de ter alguém (possivelmente inadequado), e evitar todas as turbulências de um mau relacionamento, a vida me prega uma peça e me faz desenvolver esse tipo de sofrimento de forma ilusória e por antecipação em desconhecidos aleatórios...

Por sorte, como eu disse em outros posts, eu já estou bem crescidinho e imune aos efeitos negativos da carência (mas não a ela em si). Eu não me preocupo com nenhuma dessas possibilidades estúpidas e nem desenvolvo nenhum tipo de expectativa por elas. O que me machuca é ver e sentir o quanto as coisas que eu mais odeio estão exatamente aqui, escondidas em alguma parte de mim. O que dói é ver que, a cada vez que eu aponto com 1 dedo o comportamento negativo alheio, 3 outros dedos devolvem pra mim o fardo de eu estar manchado com a mesma mácula. O que me maltrata é saber que essa lição eu ainda não aprendi...

OBS: Pra ler antes/depois – É pra já! (brilhante!!!)
OBS 2: Pra ouvir antes/depois de ler:
Long Way To Happy - P!nk
I Caught Myself - Paramore

6 de maio de 2011

YEAH, GOD IS GOOD...


Eu não tenho nada específico contra as religiões de uma forma geral, eu apenas cheguei à conclusão de que eu não preciso de uma, o que também não quer dizer que eu seja ateu. Eu já fiz um post antes falando da minha opinião sobre religião e fé – sobretudo quando ela é cega ­– e admito que muito desse antigo post foi um contra-ataque à intolerância anti-homossexual praticada por muitas religiões, por isso sinto nova necessidade de expor a minha visão racional e espiritual de uma forma menos “vingativa”. Reconheço a necessidade da espiritualidade/crença na vida das pessoas de uma forma individual e social. É algo natural dos humanos ter fé, ter esperança, ter dúvidas inexplicáveis; é humano ter crença em um Deus (ou em vários), em espíritos, em forças sobrenaturais ou até em uma ideologia sagrada. É igualmente normal ser ateu, agnóstico, não ter uma opinião formada a respeito e similares, afinal, questionar e duvidar é natural também.

Acho que, diferente do que tentam exaustivamente exibir, ciência e espiritualidade exploram os fatos de formas diferentes, mas não opostas. Certa vez um médico, talvez um dos meus amigos mais inteligentes, mencionou em seus estudos biológicos que, da mais rudimentar e desorganizada célula viva ao mais complexo e desenvolvido humano, a curvatura de evolução ocorreu de uma forma tão perfeita e relativamente rápida que é absurdo acreditar puramente em “coincidência”. A lei da seleção natural existe, mas baseia-se no método de tentativa e erro/acerto, ou seja, chegar aonde chegamos aparentemente levaria bem mais tempo do que acredita-se que levou. Por essa visão, acreditar na existência de uma divindade influenciando esses eventos deixa de ser tão absurdo, inclusive usando teorias científicas, aliando-as. Mas não é sobre isso que eu vim falar neste post...

Existem sim inúmeros benefícios relacionados à religiosidade e espiritualidade, e eles são conhecidos. O simples ato de concentrar-se para uma oração é, do ponto de vista imunológico, benéfico. Em casos de doenças graves e crônicas, a fé, a esperança e a força pra não desistir podem ser diferença entre vida e morte em vários casos. São reconhecidos diversos estudos cruzados entre existência da fé e a prevalência reduzida em doenças e maior longevidade. Existem diversas atuações sociais e de amparo promovidas por grupos religiosos em centros de idosos, hospitais, centros de portadores de necessidades especiais e em comunidades carentes. Exemplos de pessoas como Madre Tereza de Calcutá e Dalai Lama são a evidência de que, sim, é necessário admitir os benefícios imunológicos, psicológicos e sociais (sem mencionar os culturais e históricos) das mais diversas religiões no nosso mundo.

Não sejamos negativistas: ter fé não é um problema, nunca foi. O problema mora na associação entre fé cega e baixo nível instrução, algo bem comum no nosso país. A parte negativa da grande maioria das religiões é manipular a fé das massas menos instruídas na forma de um discurso anacrônico, distorcido, acolhedor e eloquente, tendo como base alguma escritura sagrada previamente adulterada, previamente selecionada, removida do seu contexto real ou convenientemente mal-traduzida. Eis a mais antiga forma de massificação da má-fé (literalmente), transformando a boa vontade e a espiritualidade de milhares de pessoas em arma, política ou negócio.

Sejamos realistas: arrisco dizer que, na história deste mundo, nada matou mais do que a “palavra” de um deus, seja ele dos politeísmos (grego/egípcio/nórdico), seja ele o deus cristão das cruzadas ou da clássica guerra da terra prometida entre judeus e muçulmanos. É impressionante analisar o grau de intolerância social, racial, de crença espiritual, de valores e de orientação sexual promovido pela maioria das grandes religiões; é impressionante observar que uma instituição que diz pregar o amor (qualquer religião, sem exceção) está, na verdade, contribuindo pra disseminar ainda mais ódio. É nojento ver a atuação artificial e marqueteira de tantos políticos usando o nome de deus, da fé, da moral, dos bons costumes e dos valores familiares apenas para benefício próprio, sem se preocupar em absolutamente nada com o que isso significa e como pode ser diferente pra cada pessoa. E é doloroso ver tantas pessoas, carentes ou não, tendo seus recursos drenados por “doações” (de origem coerciva) para uma igreja de um líder religioso milionário em troca de meia dúzia de palavras de falso-conforto.

Aqui se observa outro câncer social promovida pela maioria das religiões: a dissociação entre causa e efeito. A fé manipulativa faz os fiéis acreditarem que seus problemas são ora a mera decisão fatalista e predestinada por deus – apenas uma espécie de “teste” que deve ser superado –, ora são eventos alheiros, “terceirizados”, que só podem ser superados com resignação, impotência e crença de que deus o resolverá na hora certa. Ao invés de preparar psicologicamente e espiritualmente seus fiéis para o momento de dificuldade, muitas religiões vêm alienando seus peregrinos de suas responsabilidades diretas sobre a causa de seus problemas. O objetivo é a criação de um círculo vicioso, onde a igreja escraviza fiéis, incapazes de resolver seus problemas e igualmente dependentes da fé da igreja para resolvê-los. Nem que seja pagando...

Por compreender todo esse lado negro por trás das religiões, prefiro não segui-las e nem desrespeitá-las, mantenho meu foco na argumentação contra suas acusações e na absorção daquilo que elas têm de bom a me oferecer. Qualquer pessoa equilibrada e racional enxerga a quilômetros o fato de que a culpa não está nas religiões especificamente ou em seus livros sagrados, mas sim em quem coordena de cima toda a manipulação, pelos bastidores, ou seja, a falha é humana e não divina. A religião não é o agente causador e nem a doença, é só o meio de transmissão desta. A bíblia, o alcorão ou qualquer outro livro sagrado podem sim ter sido escritos por inspiração divina, mas em anos de desenvolvimento da podridão e da maldade humana, nada e nem ninguém pode garantir que não houve modificações ou traduções erradas em suas escrituras. O conteúdo dessas escrituras, apesar de fascinante, é meramente literário, cultural, ético/moral e, até certo ponto, histórico; absolutamente baseado em sociedades de outros tempos que em muito diferem da nossa e, portanto, impossíveis de serem plenamente aplicadas na nossa realidade atual. Qualquer tentativa de aplicar literalmente um trecho de qualquer escritura sagrada na nossa realidade é um atentado contra toda a inteligência e evolução humana ao longo dos anos.

É por tudo isso que eu abracei uma visão espiritual mais compatível com minhas crenças, meu caráter e minha visão de mundo. Nela, eu admito que Deus de fato existe e não necessariamente precisa ser chamado assim ou ser temido como um tirano vingativo. Basta acreditar que Algo/Alguém muito maior do que tudo que eu acho relevante e poderoso existe, uma Força de pura virtude que não cabe na minha medíocre visão humana dos fatos. Um grande Ser que me deu a oportunidade de estar aqui e que me dá sentido a esta e – quem sabe? – a outras vidas. E sabe qual a crença que o meu Deus me orienta a seguir? É simples! Seja feliz, faça do mundo um lugar melhor, tenha amor-próprio, melhore como pessoa, evolua, supere-se, faça o bem a si mesmo sem permitir que isso cause qualquer tipo de mal alheio, seja humilde e ame todas as outras pessoas, inclusive as que não merecem, perdoe-as, ajude-as a evoluir e a serem felizes, não se omita diante do que não é ético, injusto, desonesto e nunca tenha certeza demais das suas certezas, questione-se, repense... Não se trata de apenas não praticar o mal, mas sim de tentar fazer o melhor pra si e para os outros. Ser útil.

E perceba, porque eu mesmo já admiti: esse discurso não é tão diferente da base essencial da maior parte das crenças religiosas, concorda?

Pra ouvir depois de ler:

26 de abril de 2011

EI VOCÊ, QUE ESTÁ SOZINHO...


Há algumas semanas atrás, eu comecei a jogar umas frases de auto-reflexão no twitter que fizeram certo sucesso, mas que só aumentaram uma inquietação dentro de mim. As frases, basicamente, falavam de um problema batido e rebatido: insatisfação e carência por ausência de relações afetivas, ou seja, solteirice crônica. Quem não conhece ao menos um indivíduo que não faz nada além de queixar-se por estar sempre sozinho(a), sempre sem namorado(a), sempre reclamando que ninguém o(a) quer, sempre exaltando suas qualidades de boa companhia?

O fato é: o quanto essas mesmas pessoas estão preparadas para ter um relacionamento? Porque o que se vê na maioria dos casos, é um grau absurdo de carência; ausência total de experiência afetiva; dependência física, sentimental e sexual; excessos de atitudes negativas como imaturidade de uma forma geral, ciúme e desconfiança; pouquíssima disposição pra ceder e aprender; intolerância a erros alheios; extrema seletividade e exigências para com os “possíveis candidatos” e praticamente nada, eu disse NADA, a oferecer. Não é a toa que o mantra reclamão que pede por um namorado é tão massivamente repetido por pessoas sem um pingo de auto-estima, incapazes de amar a si mesmas e pretensiosamente crentes que merecem ser amada pelo melhor dos companheiros.

Sério, antes de desejar e esperar alguém que possa te fazer feliz, não seria apropriado aprender a ser feliz sozinho? E se, eventualmente, esse alguém que aparecer na sua vida estiver muito mais necessitado de ajuda e apoio na busca da própria felicidade do que disposto/capaz a te guiar pra felicidade? É complicado pedir amor dos outros quando não temos a capacidade de amar aquilo que nós somos. Pensando um pouco mais nisso, se alguém é tão incapaz de amar a si próprio, será que tal alguém possui características que mereçam ser amadas? Hábitos, comportamentos e formas de pensar podem ser reprogramados, vícios e defeitos podem e devem ser corrigidos quando identificados. Mas e se não houver interesse nem senso crítico suficientes pra corrigir o que temos de ruim, como esperar que outras pessoas se mobilizem e nos amem por quão ruim somos ou podemos ser? Complicado, né?

Fora o problema das exigências exageradas, quase num nível ridículo. É absurdo ver alguém, que tem tão pouco a oferecer, exigindo tanto dos outros. Entre os vários pré-requisitos – como beleza, inteligência, papo, atitude, bom-humor, complacência, coerência, paciência e, é claro, há quem exija gordo contra-cheque e conta bancária – existem pessoas esperando nada menos do que verdadeiras perfeições humanas, mesmo sendo tão medíocres. É claro, seria hipócrita dizer que as pessoas com a famosa beleza “comercial” (homem sarado, mulher gostosa) não são atraentes; desejá-las é algo absolutamente normal. Mas fazer do ápice da beleza (ou de qual qualquer outro pré-requisito) uma exigência rigorosa é tão eficiente quanto desejar acertar na loteria sem jogar. Outro problema é moldar um parceiro dos sonhos, mas sem ter a capacidade ou qualidades necessárias para atraí-lo. Ok, se você não é muito bonito e a natureza não o ajudou, isso é algo meio difícil de modificar e tal, mas é possível se vestir bem (que nada tem a ver com marcas e roupas caras), tornar-se interessante (ler ajuda, viu?), ter atitude, ser bem-humorado, enfim: é possível ter o que oferecer, fazer sua moeda de troca pra conseguir alcançar aquilo que se deseja. Complicado é esperar sentado por um príncipe imaginário que, convenhamos, não vai chegar...

E finalizando, é necessário saber lidar com um problema real: CARÊNCIA! Estando há quase um ano solteiro, desde que mergulhei de cabeça no modo “Frozen”, fica incrivelmente fácil ver isso, aos poucos eu me tornei meio imune aos efeitos negativos da carência, mas não à carência em si. É claro que eu tenho meus momentos de solidão, de desejar ter alguém pra abraçar, pra conversar e pra me apoiar, de um jeito que amigos e amigas não podem ajudar, mas é necessário não permitir que isso abale seu senso de estabilidade racional e emocional. Uma vez solteiro por opção, eu consegui perceber o quanto as pessoas muitas vezes se agarram a um “qualquer” só pelo medo de ficarem sozinhas por mais tempo. Todos esses sinais de solidão e carência destroem minuciosamente o senso de crítica e percepção daquilo que queremos pra nós mesmos. Os resultados desastrosos se refletem em cada relacionamento mal-sucedido, abalando a fé em acreditar que alguém realmente legal possa gostar de você. Eu mesmo percebi isso nos meus relacionamentos anteriores, eu mesmo percebi e decidi corrigir tal erro.

E se ainda assim, nada disso for suficiente pra que a companhia dos sonhos apareça na sua vida e torne-a perfeita, a dica é: ESQUEÇA ISSO! Vá se divertir com seus amigos, estudar/trabalhar, assistir filmes, pegar um sol, curtir uma praia, praticar esportes, fazer exercícios, ouvir boa música, ler bons livros e blogs, rir com seriados ou com a internet, pirar em festas, praticar sua espiritualidade, se distrair, se concentrar, meditar, faça a vida valer a pena. Faça da ausência de um companheiro a desculpa que faltava pra iniciar a busca da felicidade por conta própria, mesmo que seja sozinho. Não digo isso num sentido de “enfeitar o seu jardim” pra que um dia você seja capaz de “atrair as borboletas”; às vezes as mais belas borboletas estão dentro de casa, numa bela flor que foi deixada aleatoriamente sobre um móvel, e você nunca percebeu porque estava concentrado demais no jardim do lado de fora da janela. Às vezes a felicidade não depende de “borboletas”. Pense nisso!

Pra ouvir e refletir depois de ler: A sombra - Pitty (dica do @mauricioalbino).

4 de abril de 2011

PROBLEMAS


Todo mundo tem problemas e isso não é novidade pra ninguém, faz parte da evolução humana: se o homem primitivo não tivesse percebido que ficar na chuva, coletar comida, perambular sem rumo e se expor ao perigo é problemático e potencialmente letal, dificilmente teríamos chegado ao nível de civilização aonde chegamos. Mas isso você também já sabe... o que você talvez não saiba é que, apesar do nosso grau de civilização, as reações humanas diante dos problemas podem ser mais primitivas do que se espera.

Na vida selvagem, quase todos os problemas estão direta ou indiretamente relacionados à sobrevivência (e de uma forma metafórica, na vida civilizada também), e quando o risco de vida entra em jogo, as respostas instintivas são quase sempre padronizadas em três:
1-    O alvo torna-se agressivo e ataca;
2-    O alvo decide fugir da melhor forma possível;
3-    O alvo torna-se imóvel, imperceptível ou finge de morto;
Apesar da racionalidade única do humano, problemas reais evocam nosso lado mais primitivo e, quase sempre, a reação é puramente instintiva: agressividade e resolução imediata; fuga ou alienação; ou imobilidade, inatividade e apatia diante do problema. Uma auto-avaliação revela imediatamente qual o seu padrão mais frequente, se você for sincero consigo mesmo, claro.

Apesar de odiar tal reação, assumo sem nenhum orgulho que quase sempre me “finjo de morto” diante de problemas reais. Deveria ser só uma fase latente pra pensar a respeito e me dar tempo de encontrar saídas, mas sei que intimamente a real razão é a de esperar que o problema se resolva sozinho milagrosamente. Não é nada racional e quase sempre inefetivo, eu sei; mas se você observar, nenhuma das reações são boas soluções. A agressividade é socialmente problemática e exaustiva, além do fato de que resolver as coisas no calor da emoção quase nunca é satisfatório. Fugir dos problemas então, nem se fala!

Mudando ligeiramente o foco: problemas são um mal necessário, são importantes no desenvolvimento da auto-crítica, da vida social, da vida profissional, da vida sentimental, enfim, da vida de uma forma geral. Problemas são indicadores reais de que as coisas estão sendo feitas da forma certa ou errada, uma espécie de “nível de evolução”. Você provavelmente não consegue entender porque se desesperou tanto com alguma prova difícil da época da escola, já que é algo relativamente bobo se comparado com as responsabilidades da vida adulta. E problemas são sim insuportáveis, principalmente quando surgem independente das suas ações, mas eles SEMPRE podem ser superados, contornados ou, na pior das hipóteses, absorvidos.

O que eu simplesmente não entendo é esse estranho life-style super positivista de que a vida é sempre perfeita, sempre agradável, que problemas não existem ou são irrelevantes. Há poucos dias eu e a Dama de Cinzas conversávamos no twitter (que modernidade!) sobre o assunto, perplexos pelo fato de que tem muita gente que não gosta de admitir que tá mal, que tá por baixo. Tem gente que é incapaz de “curtir uma fossa”, de recusar uma festa porque algo está fora de ordem, de se recolher no seu canto e sentir a necessidade de reflexão e introspecção. As redes sociais, sobretudo o Facebook e o (falecido) Orkut, são a maior prova disso e poderiam mudar seus endereços pra “www.eusousemprefeliz.com”. E lá você vê de tudo: gente de luto com a foto do perfil numa festa; gente de baixa auto-estima com foto seminua na frente do espelho; gente mal-amada em fotos com dezenas de desconhecidos, gente doente com foto antiga e sadia; gente exageradamente photoshopada... e por aí vai!

E mudando de foco pela última vez, ontem parei pra pensar no quanto eu aconselho amigos a resolverem seus problemas. Na terceira pessoa, longe do foco do problema, fora do olho do furacão, é absurdamente mais fácil raciocinar e encontrar possiveis saídas (nunca soluções prontas e nem o velho e inútil "vai ficar tudo bem!"). Entretanto, eu observei o quanto eu me tornei um depósito de experiências e emoções guardadas para benefício alheio, nunca pra mim. E observei o quanto eu sou reticente ao aceitar qualquer tipo de aconselhamento de quase qualquer pessoa, com raríssimas excessões. Parte disso é reflexo da minha desconfiança e do quanto eu já compreendi o significado de "suas palavras poderão e provavelmente serão usadas contra você"; a outra parte é pura arrogância e incapacidade de admitir que nem sempre eu posso resolver meus problemas sozinhos...

Finalizando: a vida é dura, chata, cheia de dor, apatia, doenças, maldade, perdas e sofrimento. Encará-la como um campo de uma batalha já vencida ou já perdida não muda em nada os fatos. Resta a você ter a capacidade de controlar seus instintos negativos, aprender a tirar as pedras do seu caminho e NÃO seguir o modelo do fluxograma que ilustra o post. Já é um excelente começo!

Pra ver e ouvir depois de ler:



3 de março de 2011

WALK AWAY


Evolução: é o mínino a se esperar dos vivos, embora não seja uma regra pra todos. Hoje eu me peguei "curtindo" um dos piores dias da minha vida ao som de boa música, divertida, animada e no mais alto volume. Até cumprir a minha rotina básica foi fácil.

Em tempos não tão distantes, dias ruins eram sinônimo de um "eu" quieto, apático, cinzento, calado, sombrio e às vezes até choroso. Dias ruins eram "comemorados" ao som de música baixinha e invariavelmente triste, anorexia, sono exagerado, descuido total da saúde, da higiene e da vaidade.

Sendo assim, quando esse antigo eu morreu? Que marcas ele deixou? Quanto de mim ele levou ao ser destruído? Até que ponto isso pode ser considerado algum tipo de evolução? E pior: até que ponto esse novo "eu", frio, que eu me tornei pode esconder os muitos pedaços espalhados por trás de uma casca sorridente?

Yeah! I'm walk away... e eu ainda não sei quando vou parar.