30 de janeiro de 2009

FÉ, RELIGIÕES, FATOS E OPINIÕES


Ainda em tempo: este texto relata a MINHA OPINIÃO que é CONTRÁRIA as religiões atuais e suas convicções. Se você é um fanático religioso, é incapaz de respeitar opiniões alheias ou simplesmente não gosta de falar sobre o assunto, recomendo-lhe que se retire ou siga por sua conta e risco.

[...]

Sou um agnóstico. Mas não confunda, agnosticismo é diferente de ateísmo (embora eu não tenha nada contra os ateus), enquanto que este último define a descrença em qualquer “Deus”, “deuses” ou “entidades divinas”, o agnóstico é aquele que acredita que a questão da existência ou não de um poder superior (um “Deus”) não foi nem nunca será resolvida, independente de possuir fé ou não. A fonte desses conceitos é a Wikipédia, que já tem certa credibilidade (você gostando ou não), mas se preferir uma definição mais simplista, o Orkut resume numa frase: “tenho um lado espiritual independente de religiões”.

Não tenho religião porque não encontrei uma que tenha uma forma,no mínimo compatível com minha forma de pensar. E a minha forma de pensar não é a opinião das massas. Eu exijo de mim mesmo autenticidade e originalidade. E olha que eu nem sou tão exigente assim. Desde que os sacerdotes da tal igreja/religião não tentem me dizer o que eu devo fazer e ser baseado em tábuas, livros, na “normalidade” e na “moral”, etc, ficaria tudo muito bom. Tá, eu posso ser exigente sim. Sei que essa religião pode nem existir e por isso mesmo eu faço questão de não aparecer em igreja alguma para não me aborrecer.

E não pense você que isso faz de mim uma pessoa ruim. A base da minha moral é composta de valores comuns a muitas pessoas “fervorosamente religiosas”, como ter amor próprio, amar e respeitar ao próximo, ser primariamente bondoso e gentil com as pessoas e não fazer aos outros aquilo que eu não desejo pra mim. Obviamente nem sempre sigo essa linha, primeiro porque sou humano (e erro) e segundo porque várias pessoas não merecem sempre tais tratamentos (às vezes bater é melhor do que apanhar). Boa parte dessa minha filosofia tem muito mais fundamento na minha educação (obrigado mamãe), na convivência social saudável e em respeito às leis. Ou seja, as famosas tábuas dos 10 mandamentos só me dizem o óbvio (e de forma rústica e autoritária, por sinal). E por falar em tábuas, isso me remete a livros, como a bíblia. E na minha humilde opinião, a bíblia tem valor, mas um valor muito mais cultural, literário e, em partes, histórico do que “santo”.

E se você pensou: “Syn, isso é desculpa de quem prefere viver a vida em excessos, sem controle, em vícios, na luxúria, no ‘pecado’, ou porque você é gay, gosta disso e não quer se submeter à
Deus. Você precisa aceitar ‘Deus’ na sua vida!!!”. Então você se enganou, e feio. Sabe porquê?

Não tenho uma vida de excessos, não fumo, bebo muito moderadamente e com freqüência consideravelmente menor do que eu posto neste blog (o que é uma pena). Vicio-me muito facilmente por qualquer coisa, é verdade, mas talvez por isso eu tenha cautela em demasia, controle, equilíbrio e cuidado pra sempre saber a hora de parar (ou de nem começar). Confesso sem muito orgulho que já experimentei algumas drogas lícitas e ilícitas, com uma variedade e número de vezes pequenos o suficiente para não me viciar e saber que não preciso delas. Minha vida não é tão animada pra muitos jovem da minha idade. Estudo muito, saio moderadamente com amigos e vou poucas vezes pra baladas, festas e tal. Sou o tipo de filho que jamais deu grandes e freqüentes preocupações à mãe (e ela agradece bastante).

Quanto a luxúria... bom eu acho essa palavra uma hipocrisia ridícula, ainda mais num mundo onde qualquer propagandinha de quinta categoria tem peitos e bundas à mostra, onde o Vaticano seleciona 12 padres lindíssimos (e o quesito usado na seleção foi a beleza) pra posarem em fotos de calendário (aliás, adorei o de Maio, mês do meu aniversário... que coincidência feliz, não?) e onde reina o machismo descarado que acha o máximo um homem transar com várias garotas e ser o “pegador”, tendo namorada/noiva/esposa ou não. A minha vida sexual é bem menos ativa do que eu gostaria que fosse pra que alguém me acuse de luxúria.

Sim eu sou gay e com orgulho. Meu amor-próprio não me permite freqüentar voluntariamente um lugar onde não sou aceito. A bíblia julga a homossexualidade pecaminosa, mas também diz que “Deus” ama a todos, inclusive os homossexuais. Irônico não? Além da duvidosa escrita, união e tradução dos livros bíblicos terem sido feitas por humanos tão “pecadores” (e passíveis de erros) quanto eu, nada me garante que uma ou todas essas etapas foram manipuladas pelos poderosos da época (não necessariamente Constantino I) que, convenientemente, não aprovavam a homossexualidade. Aliás, que livro sagrado é esse que, em trechos, aprova o assassinato de mulheres (que perderam a virgindade antes do casamento) e a escravidão? Estranho demais. Entre as escrituras contraditórias e o bom senso, eu fico com o segundo sem pensar duas vezes. O sexo entre homossexuais não é reprodutor, é verdade. Mas limitar o sexo apenas à reprodução é hipocrisia. Eu tenho apenas um irmão, e tenho também absoluta certeza de que meus pais não fizeram sexo apenas duas vezes, nem apenas vinte. Sem constrangimentos, provavelmente os seus pais não são tão diferentes. Logo, não existem desculpas.

E que “Deus” é esse que devo seguir e aceitar? Aquele representado por homens que vomitam pecados nos “erros” dos outros, mas são incapazes de olhar para as próprias merdas? E na nossa realidade, é tão fácil associar padres à pedofilia e pastores à extorsão vergonhosa de dinheiro das massas menos instruídas. Devo aceitar aquele “Deus” cuja igreja não fez nada para evitar a cruel escravidão de negros (e outras etnias) no passado? Ou aquele cujos sacerdotes não fez nada pra evitar o holocausto nazista e fascista? Ou ainda aquele cuja religião prefere facilitar a disseminação das DSTs a permitir o uso da camisinha? Aquele que admite agressões e assassinatos diários, já que interfere nas decisões do Estado para impedir a aprovação da lei de criminalização da homofobia? Eu afirmo sem medo: desses deuses e religiões eu não preciso.

O DEUS que eu acredito é igualitário, bondoso, perfeito. Um DEUS que não sou capaz de descrever, mas sou capaz de sentir. Faço minhas as palavras de Albert Camus, "Não acredito no Deus que os homens criaram, mas acredito no Deus que criou o homem.", e eu não me refiro à barro e água, nem à Adão e Eva.

Repetindo a frase do post anterior (não na íntegra): acredito numa força maior, em um DEUS repleto de bons pensamentos, boas energias e muito amor que diariamente olha por mim e por todos, e ESSE DEUS eu não encontrei indo a nenhuma igreja, mas sim nas pequenas coisas importantes da minha vida, nas minhas realizações e aprendizados, nos momentos felizes e também nos frustrantes e tristes. E diariamente, antes de dormir.

P.S.: Décimo post, em plena sexta-feira?! Isso precisa ser comemorado...

28 de janeiro de 2009

ASAS

“Eu não sou moleque
Ainda não tenho casa iaiá
Oh meu Deus!
Se um dia eu tiver
Visto minhas asas...”

(Asas – Maskavo)

Dia bem comum hoje. Acordei, fiz a tal corrida matinal (hábito recente), baixei uns CDs legais (o último do Foo Fighters e o luau da Pitty na MTV). Digitei horrores de páginas pra monografia e finalizei a tarde com gostinho de dever cumprido. Foi um dia de pensamentos brandos, diferente das sinapses desgovernadas de sempre, um dia distraído. E eu tava adorando essa calmaria, até que um telefonema ativa o gatilho do caos mental... era da comissão de formatura que, entre outras coisas, marcava uma reunião pra assinar os contratos com um Buffet qualquer.

Imediatamente a minha mente inquieta começou a me lembrar: já estamos no fim de janeiro, você se forma exatamente em junho. A vida de pós-adolescente estudante sem tantos problemas está na reta final, com pouco mais de 5 meses de duração. Logo logo as responsabilidades mudam completamente de proporção, deixando de ser uma prova, trabalho ou projeto pra estudar/entregar para se tornar na busca de um emprego no mínimo razoável, pra cobrir meus gastos e talvez suprir meus objetivos, como começar uma pós-graduação ou um curso de especialização. Confesso que tremi de um frio “interno” e tive aquela sensação ruim de nervosismo.

E que grande ironia é esta nossa vida. Na infância, quando não temos praticamente NENHUMA obrigação, desejamos ser adultos pra termos mais direitos (como os nossos pais têm). Na adolescência, não queremos ser reconhecidos como crianças, mas também não queremos ter a imagem de adultos-chatos, queremos somente independência. E quando finalmente chega a fase adulta, onde os direitos já existem (e com eles vêm os deveres), onde você é lembrado diariamente que não é mais nem criança e nem adolescente e quando ocorre a oportunidade para a tão sonhada emancipação, o medo de fracassar parece arrancar toda a satisfação que esse momento deveria trazer. Sim, o MEDO. Medo de tudo dar errado, de não encontrar um emprego, de ver sua formação e graduação possivelmente terem sido uma mera perda de tempo. Medo de perder as asas.

Eu passei o dia todo calado pela tranqüilidade, e ia terminar o dia calado por preocupação. Mas minha mãe chegou do serviço, me viu no meu canto e logo tratou de me tirar dos meus pensamentos. Frase que eu detesto: “Vamos fazer o supermercado?”. Mas eu dificilmente digo não pra essa proposta, até porque quando eu não vou, as compras do meu interesse misteriosamente são esquecidas, por isso acabei indo. E acreditem: acompanhar mamãe nas compras é um exercício INTENSO de paciência.

– “Será que eu compro o requeijão diet ou o normal?”

– “Essa semana é melhor carne branca ou vermelha?”

– “Levo o pão brioche ou o pão negro?”

– “Meu filho, pra reduzir o colesterol é melhor leite semi-desnatado e com fibras (LEITE COM FIBRAS??? ISSO EXISTE???) ou o desnatado puro?”

– “Olha, eu acho que esse xampu é mais adequado com a não-sei-o-que do meu cabelo do que aquele que eu uso, mas será que eu continuo com o outro ou mudo pra esse?”

Já estou psicologicamente preparado para o próximo convite ao supermercado. Vou rasgar a listinha de compras no meio, dar metade pra ela e dizer:

– “Pronto, pega essa parte, compra tudo e me encontra daqui a 15 minutos na fila do caixa.”

Enfim. O relevante da ida no supermercado é que eu comecei a desencanar da preocupação do meu futuro. Ao ver louças, panelas, talheres, etc eu percebi que logo chegará a época em que eu precisarei comprar tudo isso pra minha casa, e pela primeira vez eu vou escolher formatos, cores e marcas que eu quiser, ao invés de só aceitar o que sempre escolheram por mim. E pensei na minha casa, na verdade apartamento (sempre preferi apartamento), onde vou poder decidir coisas como a cor das paredes e até ignorar a minha bagunça (muito organizada por sinal) sem me preocupar com alguém reclamando dela (pelo menos por um tempo). Comecei a me imaginar que em breve não teria mais supermercado com a mamãezinha do lado. E esses pensamentos me deram uma força muito grande pra perder aquele medo chato de fracassar, além de mais coragem e otimismo pra lutar pelo meu futuro. Um futuro que está cada vez mais próximo. E eu tive um pouco de saudade, uma nostalgia dessa fase anterior da minha vida, que está prestes a acabar.

Concluindo: é fato que a realidade não está tão favorável para a minha independência, principalmente com as dificuldades de se arranjar um emprego condizente com minha futura formação. Mas eu acredito nos meus potenciais e também na minha sorte. E também acredito numa força maior, em alguém (que muitos chamam de “Deus”) repleto de bons pensamentos, boas energias e muito amor que diariamente olha por mim e por todos... e espero que tudo dê certo e culmine em bons resultados pra que eu “vista as minhas asas” nessa nova fase que chega na minha vida.

E enquanto ela não chega, preciso adiantar a monografia, estudar muito (principalmente Traumatologia, Ventilação Mecânica Invasiva e Terapia Intensiva), preparar a minha formatura e aproveitar o meu último semestre na faculdade. Por favor, me desejem sorte!!!

P.S.: Abaixo está o clipe da música “Asas” do Maskavo. Nem gosto tanto da banda e nem do clipe, mas como eu adoro a música e acho a garota (que aparece semi-nua, olha só rapazes!) muito parecida com uma grande amiga minha, vou colocar assim mesmo.



26 de janeiro de 2009

HOMOSSEXUALIDADE

Vamos começar de uma forma simples e direta: sou gay. É verdade (e algumas coisinhas aqui mesmo no blog não me deixam mentir). Se você também é homossexual, legal, temos algo em comum. Se você não é, nós também temos algo em comum: você e eu descobrimos a minha sexualidade de uma forma rápida e imprevisível. O Syn resolveu dizer isso só pra tornas as coisas mais transparentes pra você, até porque este blog precisa da minha sinceridade pra ser útil (pelo menos pra mim). Além disso, gostaria de entrar em um assunto deveras delicado (não do jeito que você está pensando, por favor, leve isto a sério), onde a opinião deixa de ser soberana para dar lugar a uma nova grande majestade: os fatos. Decidi hoje falar sobre a realidade de jovens garotos gays (perdoem-me as lésbicas e os bi pela não inclusão neste post, mas eu me recuso a falar sobre o que não entendo/conheço).

Jovens gays se descobrem relativamente cedo. Eu descobri que não era igual à maioria quando tinha por volta dos 14 anos. Época onde garotos se divertem com as primeiras “Playboy” e as meninas colecionam seus pôsteres de cantores/atores/modelos/BBBs/etc e suspiram por eles. Poisé, nessa época “Playboy” pra mim era tão interessante quanto Domingão do Faustão é pra você. Enquanto os garotos da minha idade já se concentravam em calcinhas na sala de aula, eu ainda era um fedelho semi-axessuado que gostava de brincar de Pokémon no quintal (é verdade... que vergonha). Até que um dia o vizinho resolveu tomar banho no quintal dele desconhecendo a existência de um buraco estratégico entre nosso muro. Eis minha primeira ereção gay.

Fato é que na nossa sociedade é difícil que você, aos 13-15 anos, entenda que ser homossexual é ter atração física, sexual, sentimental e afetiva por pessoas do mesmo sexo que o seu. No meu caso, “bicha”, “frutinha” e “viado” denotavam pouco mais do que “o homem que quer ser mulher”, coisa que eu definitivamente nunca quis. Quase não se fala de sexo nem entre pais e filhos heterossexuais, quiçá sexo entre dois homens. Auto-rejeição, culpa, vergonha e confusão são coisas que uma mente de 13 anos raramente consegue entender, tampouco explicar caso perguntassem o porque você não está bem.

Imagine-se como um gay então, mas sem seus conceitos formados e sem a opinião religiosa/social/cultural que você conhece. Então você, sendo gay (sim, tente se imaginar, isso ajuda bastante a entender) resolve aplicar o modelo heterossexualista que sempre lhe foi ensinado e tenta provar pra si mesmo que não gosta de homens. No meu caso, a primeira tentativa foi roubar a primeira revista de nudez feminina do meu irmão e tentar achar alguma graça naquilo... tentativa fracassada. Mas o homem da discreta propaganda de cuecas, que nem pelado estava, fez um tremendo sucesso. Segunda ereção gay (y otras cositas más). Algumas horas de remorso por tamanho “pecado” e o jovem esquece. E não desiste! Tenta arranjar um rabo-de-saia por aí. Ficar, namorar, dar um beijo, sequer pegar a mão de uma menina, e ela nem precisa ser bonita. E no meu caso, mais um fracasso. Então o jovem garoto gay oscila entre fases de recaída, onde procura quase qualquer imagem masculina (professores, primos, amigos da escola, vizinhos e, no meu caso, a maravilhosa hora do banheiro masculino na escola de natação) pra satisfazer seus desejos “imaginariamente”; fases de rejeição e culpa, onde busca perdão de “Deus” e promete que as fases de recaída não vão se repetir; e as fases de novas tentativas de heterossexualização, 90% delas frustrantes.

É bem provável que todo garoto gay tenha pelo menos uma ou duas namoradas (em alguns casos até mais). E o relacionamento pode ser “normal” até certos momentos. Alguns acabam na hora em que o desejo físico dele por ela não seja espontâneo. Ou quando o assunto “sexo” começa a ser requisitado e ele possa até ser cogitado. Outros acabam por falta de interesse mesmo, onde o próprio gay termina tudo. Como legítimo gay eu afirmo: podemos até considerarmos uma mulher linda, podemos até sentir atração física por uma mulher, podemos até nos encantarmos com o jeito suave e romântico das mulheres e algumas vezes até pensarmos em algumas possibilidades com ela. Mas tudo isso não tem a menor intensidade se compararmos com os mesmos aspectos em outro homem de nem tantas qualidades. Logo, a partir do momento em que um gay olha o irmão mais velho da sua namorada (por exemplo) jogando vídeo-game, todo o encanto construído sobre ela treme na base (situação meramente hipotética claro). E mesmo que aconteça o sexo, é bem provável que o relacionamento acabe. Por que alguém tão próximo, como uma namorada, será uma das primeiras a perceber a verdade. E acumulam-se mais frustrações.

Aí, mais tarde, você descobre que a religião que você (possivelmente) sempre acreditou é vigorosamente contra aquilo que aos poucos começa a aceitar. E que boa parte da sua família (possivelmente a parte mais importante) abomina completamente a sua sexualidade, mesmo sem saber nada sobre ela e você. E que alguns amigos que você de fato ama (ama apenas como AMIGOS!) tão somente rejeitam a sua realidade. E as amigas (que você também ama) começam a sutilmente declarar o quanto desaprovam os gays. E seus amores impossíveis (platônicos) tornam-se mais difíceis, na medida em que você percebe que não é correspondido com a mesma sexualidade. E que o mundo onde você nasceu aponta diariamente pra tudo o que você lentamente começou (recentemente) a aceitar, e diz que é feio, sujo, nojento, pecaminoso, proibido, ilegal. Descobre que pessoas morrem pela violência apenas por serem gays. Pessoas perdem seus empregos quando se assumem gays. Filhos são espancados e expulsos de casa quando são descobertos. Bem-vindo aos auto-questionamentos diários de um gay ainda inseguro.

E aí você entende o real significado da palavra preconceito, e começa a odiá-lo. E compreenderá que cedo ou tarde você vai precisar contar pra alguém de confiança, porque há coisas que você precisa desabafar. E finalmente pensa nas primeiras possibilidades de tentar um ou outro relacionamento homossexual. Aos poucos. E aos poucos também começará a ter a maturidade pra entender que muitas de suas bases mais sólidas, como religião, família e amigos nem sempre são exatamente o que as pessoas dizem ser, e você pode sobreviver algum tempo sem todas elas. E encontra semelhantes em locais onde a sua sexualidade é aceita. E descobre novos amigos e quem sabe um amor. E você fortalece seu amor próprio e começa a se sentir seguro do que você é independente do que os outros pensem de você. Esta é praticamente a minha historia de vida. E de uma grande quantidade de outros gays espalhados pelo nosso mundo. Obviamente existem muitas variações, mas tenha esta como uma das muitas verdades.

Globalmente falando: os homossexuais não querem pena, perdão, apoio, compreensão, carinho, etc. Não querem isso apenas por serem homossexuais. Queremos apenas ser tratados como iguais, como normais, como gente. Não somos o que a sociedade caricaturou. Não somos o que você vê na TV. A comunidade GLS não é exatamente o que você vê nas paradas gays, muitos não concordam sequer com o clima de “carnaval” e “felicidade” que se carrega nesse dia. Antes de sermos homens e mulheres somos gente, e existe gente de todo jeito em todo lugar.

Pra finalizar, gostaria de reforçar que isso não se trata de opção sexual. Se fosse mera opção seria muito mais fácil escolher ser heterossexual, pouparia muito trabalho e traria menos problemas, escolher ser hetero evitaria a infelicidade de muitas mães e pais, por exemplo. Homossexualidade não é doença, não tem causa, simplesmente nascemos assim e ponto. Assim, evite julgar o que somos, aliás, evite julgar.

Vou parando por aqui, pois tudo isso ficou extenso demais até pra mim. Termino aqui recomendando um vídeo extremamente esclarecedor.

P.S.: Fique tranqüilo, nada aqui mudará, este blog é e sempre será um blog de idéias (e sinapses) e não pretendo transformá-lo em nada pornográfico.


23 de janeiro de 2009

VINTE E POUCOS ANOS


Hoje eu olhei uma garota muito bonita, chamava mesmo atenção. Ela estava no calçadão da avenida durante minha corrida matinal (é eu peguei o hábito desde a última vez) e se alongava pra começar a corrida. Não conheço tanto o estereótipo de mulher perfeita na visão da maioria, mas ela tinha uma beleza muito natural e talvez por isso especial.

Descrição: ela é loira e tem pele muito branca, cabelos lisos bem compridos e amarrados num rabo-de-cavalo (que eu acho o máximo), olhos castanhos muito claros, não é alta nem baixa, deve ter no máximo uns 1,70 cm (eu tenho uns 1,68 cm, acho), não é exagerada e nem desprovida em nada, nem em seios, nem em coxas, bunda, etc. Tudo sob medida (mesmo) pra mim significa nada de “Boing Boing” nem “Melancias”. Ela estava muito simples, vestia top e leg azul com uma camiseta branca por cima. Usava um tênis também branco e tinha um mp3 preso na cintura. Parecia completamente distraída de tudo e de todos. E me chamou atenção inicialmente por essa beleza simples e nada artificial, além da expressão de tranqüilidade. Mas eu percebi tarde demais: eu já a conhecia.

Conhecia de quando eu morava em uma cidadezinha do interior do Maranhão (Pinheiro), ela era praticamente minha vizinha. Lembro também da primeira vez que a vi na minha escola, eu fazia a 6ª série e ela devia estar entrando na escola pela primeira vez pra fazer a 1ª série e se eu não me engano ela se chama Samanta. Não me chamou atenção naquele dia, afinal era só uma menininha qualquer com dentões enormes na frente (e por outros motivos mais). No momento em que eu a observei mais de perto eu confirmei, era ela mesma, 10 anos mais velha e paradoxalmente jovem e madura.

Entrei em choque. O choque nem foi ter reencontrado uma conterrânea após tanto tempo, mas sim o de reconhecer o quanto ela se desenvolveu fisicamente. Se antes ela era uma fedelhinha, ali na minha frente estava uma verdadeira mulher. E eu fiquei abismado com o triste fato: eu sou velho. Em plenos 21 anos de idade eu me senti um senhor. E saí logo dali, antes que ela me reconhecesse ou que perguntasse:

– “Tiooo que horas são, por favor?”

Saí dali o quanto antes, correndo sem nem me alongar (o que é um grave erro, não faça isso, Palavra de quase-fisioterapeuta!) e torcendo pra que ela realmente não tivesse me reconhecido. Depois de alguns minutos correndo eu ri sozinho da minha mente boba, eu podia ter cumprimentado a garota e pelo menos ter dito o quanto ela tinha ficado bonita. E logo eu parei de rir e comecei a pensar seriamente nesses tais 21 anos que já passaram. No quanto eu realmente aproveitei esse tempo, nas coisas importantes que eu construí, nas tantas coisas que eu fiz questão de destruir, nas pessoas que conheci, no conhecimento que eu formei e principalmente na minha evolução. E cheguei à conclusão que eu gostei de ter envelhecido um pouquinho, que valeu a pena.

E mais: se inventarem a máquina do tempo, deixem-na bem longe de mim ou a primeira coisa que eu farei é voltar pro passado e espancar aquele pirralho mimado e babaca que eu era. E quem sabe dizer pra Samanta que ela não precisa ficar deprimida com os dentões grandes, ela vai ficar linda mesmo.

P.S.: este segundo post no mesmo dia (23/01/2009) é pra cumprir a promessa de ontem, desculpem o atraso.

FAMÍLIA

Vida em família é complicada. Um fato tão comum e tão freqüente entre a maioria das pessoas que eu conheço que pra mim virou constatação e não só opinião. Eu defendo a teoria de que a sua família se enquadra em um dos seguintes grupos:

A- Sua família é presente. Aliás, presente até demais, beirando o limite da inconveniência, intromissão e impertinência (os meus famosos III). A convivência gera atritos freqüentes.

B- Sua família é ausente. Ou você se ausenta dela. Ou ainda, vocês simulam a participação familiar e mantêm-se de uma forma ou de outra numa situação superficial (e não menos ausente), que pode até evitar atritos, mas não é saudável.

C- Sua família é ideal. Vocês mantêm um contato saudável, confidente, não invasivo e são felizes. Para os outros, claro. Porque isso não passa de utopia e hipocrisia na minha humilde opinião (e que bom que você não é obrigado a concordar com ela).

Entenda, eu me refiro à família como todos os integrantes que partilham até pelo menos ¼ do seu DNA (ou dos seus pais, se você for adotado). Isso inclui pais, avós, irmãos, sobrinhos, tios e primos. Aí sim, você pode começar a concordar comigo e logo ver qual dos grupos é o que mais parece com o seu caso.

O Syn não ta revoltado não. Ele só cansou, desistiu da “sagrada” instituição familiar. Se isso pode parecer negativismo, eu já encaro de outra forma. Não consigo pensar que devo amar meu irmão (por exemplo) só porque dentro do núcleo de cada uma das células dele existe uma estrutura que pode parecer muito com a minha (chamam-se cromossomos, que agrupam nosso DNA). Eu acredito no amor, mas no amor que vem de atitudes, do afeto, do diálogo, das demonstrações diárias de importância e valor que temos um pro outro, etc. Ou até no amor instintivo (que eu também acredito) que os familiares podem mesmo sentir, sobretudo de pais sobre filhos, aquele amor que acontece sem explicação, sem motivo. Um amor nem sempre saudável, diga-se de passagem.

Agora não me peça pra acreditar que aquele primo, que você não vê há 5 anos, que nem sabe seu nome completo, que nunca se importou com suas opiniões e sentimentos, enfim, que durante a vida toda não te deu a mínima tenha algum grau de conexão com você. No máximo uma simpatia ou uma boa lembrança. Não me peça pra acreditar em “amor inato familiar”.

Em 2008, em pleno natal, época de confraternização, paz, amor e... tá, vamos falar a minha língua: época de ataques publicitários para maior arrecadamento e falsidade entre mamíferos familiares. Sim, falsidade, hipocrisia, pseudo-interesse. É verdade, ou você realmente acha que a maioria daqueles parentes sacrificaria o mínimo de suas rotinas por você? Mas eu dizia: no natal, vieram muitos parentes pra minha cidade, boa parte da família (muito grande por sinal, minha mãe tem 12 irmãos e meu pai tem 5) ia passar a data junta. Muitos deles eu até gosto e mantenho um bom vínculo social, já a maioria...

Minha mãe veio logo forçar a minha participação no encontro,já que tenho a fama de ser anti-social em eventos familiares, e eu preferia não ir, mas acabei indo sobre pressão. Resultado: 5 minutos após minha chegada ao local da ceia a criatura da minha tia (uma criatura vazia e falsa) fala:

– “Meu amoooooor, há quanto tempo!!! Como você está? (efusiva mode [ON] forever)”

Nem tive tempo de pensar numa resposta adequada. Ela saiu naturalmente e talvez nem se tivesse pensado poderia ter sido melhor:

– “Se eu fosse ‘seu amor’ e tivesse um mínimo de importância você saberia como eu estou. E não precisa fingir interesse, eu não tenho nada de útil pra te fornecer. Com licença (sorriso sarcástico mode [ON]).”

A cara dela depois da frase acima foi patética. A da minha mãe foi assustadora (mas eu ja tô acostumado). A minha foi de indiferença às expressões delas e dos que ouviram. E de qualquer um também. Fodam-se as opiniões de quem caga e anda pra minha vida e não paga as minha contas (inclusive a opinião de mamãe, que por sinal PAGA as minhas contas). Eu não vou criar uma “máscara” com uma personalidade alegre, simpática, expansiva e falsa só pra agradar gente que não faz a menor falta na minha vida. Nem pela "paz e bem-estar" na família. Isso é desperdício de sinapses e deveria ser considerado crime.

Concluindo: depois que eu adquiri maturidade mental e evolui para o estado de independência de opiniões essa talvez tenha sido a coisa mais gratificante que eu já fiz, principalmente quando as conseqüências disso provocam o caos. Experimente um dia você também. Se tiver “colhões”, claro.

22 de janeiro de 2009

O FIM DA MINHA (NÃO) VIDA VIRTUAL


A (não) vida virtual que me refiro é a dos MMORPG, sigla em inglês para “Jogo de Interpretação de Personagem Online e em Massa para Múltiplos jogadores”. Coisa de nerd como eu mesmo. Nesses jogos você constrói um personagem específico, aplica alguma customização (como cor dos olhos e cabelos, porte físico, sexo e em alguns casos raças), escolhe uma especialização quase sempre medieval (mago, cavaleiro, sacerdote, caçador, etc) e é largado num mundo on-line com mapas gigantescos pré-definidos. A diferença de outros jogos similares é que além de interagir com personagens artificiais, você também joga com outros jogadores. Uma verdadeira sociedade virtual para os alienados da sociedade real.

Em épocas passadas (que eu prefiro nem lembrar muito por vários motivos-trevas), eu cheguei a conhecer, jogar e até me viciar em um desses jogos, o WOW. WOW é a abreviatura de “World of Warcraft”, um famoso MMORPG (dizem ser o mais jogado deles) de uma das empresas gigantes no mercado de jogos, a Blizzard.

O que me atraiu num jogo desses foi um misto de admiração pela semelhança com os RPGs tradicionais, gráficos legais, boa jogabilidade e, admito, pura solidão (logo mais eu falo sobre isso). O que interessa no momento é que eu comecei a jogar o tal WOW. Mas entenda: jogar um MMORPG é coisa pra pessoas MUITO nerds e dotadas de considerável paciência.

Pra que qualquer um consiga entender o quanto isso é verdade, os personagens no WOW podem evoluir para um máximo de 70 níveis (na época em que eu jogava, hoje em dia é 80). Evoluir um mísero nível equivale a perder entre 25 minutos a 2 horas do seu dia, já que quanto maior o nível, mais difícil e demorado é. E não é algo tão divertido, a tarefa inclui matar monstrinhos, animais, feras psicodélicas, humanóides e criaturas mitológicas... e fazer missões, algumas bem idiotas como “mate 10 leões a norte daqui”, sendo que só podem ser AQUELES LEÕES e você não precisa levar nada como prova, afinal você não mente, nem que quisesse. Sério. É objetivo de todos terem os famigerados 70 níveis, mas o teste da paciência não acaba aqui. Seu personagem não será poderoso se não possuir os melhores equipamentos, como armas, armaduras e acessórios, tudo mágico, claro. E não pense que é fácil conseguir toda essa tralha. São no mínimo 15 itens pra equipar o personagem da cabeça aos pés. Você perde no mínimo 4 dias pra conseguir um ou dois itens, no máximo.

Tá, mas porquê o Syn ta falando isso tudo sobre um jogo? Longe de mim vir aqui fazer um discurso moralista de que jogos (ou MMORPGs) fazem mal ou que eles manipulam sua mente, nada do tipo. Detesto esse tipo de afirmação que só subestima a personalidade de cada um de nós. Mas se você quer ocupar espaço vago, esquecer de alguém ou alguma coisa ou simplesmente se isolar, o aviso está dado: não caia nesse mundo. Principalmente se você realmente não está bem. Os MMORPG são jogos que absorvem você. Eles exigem de você sucesso, poder, arrogância, exibicionismo. Exigem o máximo, e isso requer tempo, e no caso do WOW original, dinheiro (um bimestre por 60 reais). São jogos bons, empolgantes e até divertidos por manterem amigos virtuais e distraírem um pouco. O problema é que, justamente pelo excesso de tempo que ele devora da sua vida, a tendência é não conseguir sair nem dos seus problemas e nem do jogo. Fracasso completo.

A minha (não) vida virtual acabou em outubro de 2008, sem muitos esforços, sem muitos entraves. E eu tive ajuda de um amigo virtual pra isso. Uma simples frase dele foi suficiente:

"Vida social é uma coisa completamente diferente de se encontrar com amigos virtuais e bem mais eficiente na cura de frustrações. Agora fecha o WOW e se manda daqui!"

Em tempo: este texto foi direcionado pra pessoas que buscam nos MMORPGs qualquer tipo de refúgio, válvula de escape, e afins. Se você gosta de WOW (ou outro MMORPG), se sente bem e não teve grandes complicações ao jogá-lo, este post deve ser ignorado.

Obrigado.