Há algumas semanas atrás, eu comecei a jogar umas frases de auto-reflexão no
twitter que fizeram certo sucesso, mas que só aumentaram uma inquietação dentro de mim. As frases, basicamente, falavam de um problema batido e rebatido: insatisfação e carência por ausência de relações afetivas, ou seja, solteirice crônica. Quem não conhece ao menos um indivíduo que não faz nada além de queixar-se por estar sempre sozinho(a), sempre sem namorado(a), sempre reclamando que ninguém o(a) quer, sempre exaltando suas qualidades de boa companhia?
O fato é: o quanto essas mesmas pessoas estão preparadas para ter um relacionamento? Porque o que se vê na maioria dos casos, é um grau absurdo de carência; ausência total de experiência afetiva; dependência física, sentimental e sexual; excessos de atitudes negativas como imaturidade de uma forma geral, ciúme e desconfiança; pouquíssima disposição pra ceder e aprender; intolerância a erros alheios; extrema seletividade e exigências para com os “possíveis candidatos” e praticamente nada, eu disse NADA, a oferecer. Não é a toa que o mantra reclamão que pede por um namorado é tão massivamente repetido por pessoas sem um pingo de auto-estima, incapazes de amar a si mesmas e pretensiosamente crentes que merecem ser amada pelo melhor dos companheiros.
Sério, antes de desejar e esperar alguém que possa te fazer feliz, não seria apropriado aprender a ser feliz sozinho? E se, eventualmente, esse alguém que aparecer na sua vida estiver muito mais necessitado de ajuda e apoio na busca da própria felicidade do que disposto/capaz a te guiar pra felicidade? É complicado pedir amor dos outros quando não temos a capacidade de amar aquilo que nós somos. Pensando um pouco mais nisso, se alguém é tão incapaz de amar a si próprio, será que tal alguém possui características que mereçam ser amadas? Hábitos, comportamentos e formas de pensar podem ser reprogramados, vícios e defeitos podem e devem ser corrigidos quando identificados. Mas e se não houver interesse nem senso crítico suficientes pra corrigir o que temos de ruim, como esperar que outras pessoas se mobilizem e nos amem por quão ruim somos ou podemos ser? Complicado, né?
Fora o problema das exigências exageradas, quase num nível ridículo. É absurdo ver alguém, que tem tão pouco a oferecer, exigindo tanto dos outros. Entre os vários pré-requisitos – como beleza, inteligência, papo, atitude, bom-humor, complacência, coerência, paciência e, é claro, há quem exija gordo contra-cheque e conta bancária – existem pessoas esperando nada menos do que verdadeiras perfeições humanas, mesmo sendo tão medíocres. É claro, seria hipócrita dizer que as pessoas com a famosa beleza “comercial” (homem sarado, mulher gostosa) não são atraentes; desejá-las é algo absolutamente normal. Mas fazer do ápice da beleza (ou de qual qualquer outro pré-requisito) uma exigência rigorosa é tão eficiente quanto desejar acertar na loteria sem jogar. Outro problema é moldar um parceiro dos sonhos, mas sem ter a capacidade ou qualidades necessárias para atraí-lo. Ok, se você não é muito bonito e a natureza não o ajudou, isso é algo meio difícil de modificar e tal, mas é possível se vestir bem (que nada tem a ver com marcas e roupas caras), tornar-se interessante (ler ajuda, viu?), ter atitude, ser bem-humorado, enfim: é possível ter o que oferecer, fazer sua moeda de troca pra conseguir alcançar aquilo que se deseja. Complicado é esperar sentado por um príncipe imaginário que, convenhamos, não vai chegar...
E finalizando, é necessário saber lidar com um problema real: CARÊNCIA! Estando há quase um ano solteiro, desde que mergulhei de cabeça no modo “
Frozen”, fica incrivelmente fácil ver isso, aos poucos eu me tornei meio imune aos efeitos negativos da carência, mas não à carência em si. É claro que eu tenho meus momentos de solidão, de desejar ter alguém pra abraçar, pra conversar e pra me apoiar, de um jeito que amigos e amigas não podem ajudar, mas é necessário não permitir que isso abale seu senso de estabilidade racional e emocional. Uma vez solteiro por opção, eu consegui perceber o quanto as pessoas muitas vezes se agarram a um “qualquer” só pelo medo de ficarem sozinhas por mais tempo. Todos esses sinais de solidão e carência destroem minuciosamente o senso de crítica e percepção daquilo que queremos pra nós mesmos. Os resultados desastrosos se refletem em cada relacionamento mal-sucedido, abalando a fé em acreditar que alguém realmente legal possa gostar de você. Eu mesmo percebi isso nos meus relacionamentos anteriores, eu mesmo percebi e decidi corrigir tal erro.
E se ainda assim, nada disso for suficiente pra que a companhia dos sonhos apareça na sua vida e torne-a perfeita, a dica é: ESQUEÇA ISSO! Vá se divertir com seus amigos, estudar/trabalhar, assistir filmes, pegar um sol, curtir uma praia, praticar esportes, fazer exercícios, ouvir boa música, ler bons livros e blogs, rir com seriados ou com a internet, pirar em festas, praticar sua espiritualidade, se distrair, se concentrar, meditar, faça a vida valer a pena. Faça da ausência de um companheiro a desculpa que faltava pra iniciar a busca da felicidade por conta própria, mesmo que seja sozinho. Não digo isso num sentido de “enfeitar o seu jardim” pra que um dia você seja capaz de “atrair as borboletas”; às vezes as mais belas borboletas estão dentro de casa, numa bela flor que foi deixada aleatoriamente sobre um móvel, e você nunca percebeu porque estava concentrado demais no jardim do lado de fora da janela. Às vezes a felicidade não depende de “borboletas”. Pense nisso!