"Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade..."
(Janta – Marcelo Camelo)
Emocionalmente inspirado no conto do blog
Gay Alpha (
O Outro, no momento com 5 partes) e na bela história de amor de
Crepúsculo, nada mais justo do que escrever sobre um romance passado da minha vida, um que certamente é inesquecível. Adianto: o texto será longo!
Eu conheci a Larissa em maio de 2008, ela morava em Fortaleza – CE, tinha acabado a faculdade de Psicologia. Ela convenceu os pais de que precisava de um tempo pra pensar e pra viver melhor consigo mesma antes de aprender a “crescer”. Eles concordaram e deram a ela 6 meses de férias, algo dentro das capacidades financeiras (não muito modestas) da família. E ela fatidicamente escolheu São Luís do Maranhão. E há quem não acredite em coincidência... pois bem, ela me encontrou meio embriagado nas ruas do centro histórico da cidade, e um dos pontos mais gays dela!
Eu não sei quem de nós dois foi o primeiro a se apaixonar pelo olhar do outro, uma coisa completamente inexplicável mesmo. Naquela época eu estava triste, frustrado, no meio de uma franca depressão causada por um amor malignamente platônico por um grande amigo e pela minha insatisfação e não aceitação da minha orientação sexual. Quando olhei para a Larissa (que sempre pediu pra ser chamada de Lay), decidi que ela seria a minha última tentativa de “heterossexualização”. Mal sabia eu que seria a mais fracassada de todas, porém a mais feliz.
E ela foi forte e decidida desde o início, nem me deu fôlego pra seduzi-la. Ela mesma me fuzilou com seus olhos e me pediu uma noite de amor intenso, assim mesmo, sem nem pestanejar. E ficamos naquela mesma noite, no meio de ardentes beijos na parede da boate (gay, claro) e declarações sedutoras. Nunca tinha sentido tamanho tesão por alguém do sexo oposto, mas ela me atraía de uma forma completamente indiscutível. Lay seguia fielmente o meu estereótipo de mulher perfeita: não muito alta (algo em torno de 1,65 m), cabelos lisos, olhos claros, traços fortes e nada exagerado (nem "melancia", nem "melão", nem "morango" nem nenhuma mulher-fruta). A forma com que ela se vestia era o melhor, nunca era formal nem largada demais, sabia se equilibrar poderosamente entre vestidos curtos e calça jeans + all star sem nunca parecer mal vestida. E não tenho a menor idéia do que em mim era atraente para ela.
Terminamos aquela noite no seu quarto de hotel e pela primeira vez senti muito prazer no sexo com uma garota. E pela segunda e terceira vez. Acordei abraçado a ela, com minha cabeça sobre o seu peito, como se eu fosse o elemento frágil da relação. Ela já estava olhando pra mim, estava acordada esperando que eu despertasse, e me presenteou com sorriso perfeito no meu primeiro momento do dia. Não consegui resistir a tamanha sinceridade em seu olhar e lancei minha frase no silêncio do quarto:
– “Lay, eu sou gay.” – ela manteve seu sorriso, que aumentou ainda mais.
– “Acha que eu não saberia depois de tudo o que aconteceu ontem?”– “Sinceramente? Acho.”– “Não quero te forçar a nada, só quero que prometa que serei a única enquanto estivermos juntos. Eu disse ÚNICA, no feminino.” – ela reforçou bastante essa parte da frase.
– “Isso é um pedido de namoro?” – sorri.
– “Seria de noivado se você não fosse gay.” – brincou ela.
Foi a coisa mais louca que eu vivi, a pessoa mais insana e irresponsável que eu conheci e a melhor companheira que já tive. Ela nunca me reprimiu ou censurou em absolutamente nada que eu fizesse. Era divertido ir à praia com ela e, por baixo dos óculos escuros, fitarmos juntos os homens mais lindos que passeavam por lá (éramos também duas serpentes destilando venenos nas mulheres mais feias e bregas!!!). E era divertido também apresentá-la aos meus amigos que também eram gays, quase uma piada interna entre nós.
Ela foi a maior e mais dedicada professora que eu já tive. Ela me ensinou que ser gay não era “errado”, me ajudou a esquecer o meu amor platônico, estendeu uma das mãos que me puxaram da depressão, me ensinou a ser sedutor, a jogar na arte da conquista, me deu apoio em diversas decisões, secava minhas lágrimas, compartilhou todos os meus momentos felizes durante nossos 2 meses de namoro. Ela me ensinou muitas coisas muito mesmo, coisas que jamais imaginei que fosse aprender. Eu era um garotinho descobrindo a vida e ela, apesar de ser apenas 8 meses mais velha que eu, era uma eterna aprendiz, porém muito mais experiente.
Mas a vida nunca segue agradando a todos. Aos poucos eu começava a me render à minha natureza homossexual. Lentamente aquele sentimento ardente de paixão se tornou um manso sopro morno de amizade, porém confortante para mim. Ela ao contrário, se via cada vez mais apaixonada por mim, me amava cada dia mais, pedia minha presença quase que constante. E como ditam as leis da matemática: retas paralelas jamais se cruzam. Ela gostava e desejava um homem. Eu gostaria e desejava também ter um homem. Ponto. Minha sinceridade foi maior que minha dó por seus sentimentos, e eu precisei dizer a verdade a ela: o namoro deveria acabar. Suas lágrimas caíram em silêncio num rosto sorridente. Inevitavelmente, as minhas lágrimas acompanharam as delas. Nos beijamos pela última vez e nos abraçamos num ato que eu senti ser a despedida.
Ainda a encontrei mais duas vezes. Na primeira ela me presenteou com uma foto e um número de telefone no verso desta. Na segunda e última vez ela pediu delicadamente que se eu mudasse de opinião quanto à minha sexualidade (ressaltando várias vezes o quanto isso só deveria acontecer se fosse para a exclusiva causa da minha felicidade), e somente nesta circunstância, que eu ligasse para o número atrás da foto, para que ela pudesse destruir todos os alicerces de sua vida e correr de volta pra mim. Era o fim de dois meses de pura intensidade e felicidade, e eu lamentei a minha impotência diante da situação.
Desde então, Lay não apareceu em minha frente, não atendeu telefonemas, não respondeu mensagens SMS, desapareceu do MSN e do Orkut, não foi mais vista pelos nossos amigos em comum e não estava mais no seu hotel. Ela desapareceu para nunca mais me ver e não precisar sofrer por me ter ao alcance de suas mãos sem jamais estar ao alcance do meu coração. Eu cumpri fielmente minha promessa não ligando pra ela, pois ainda desejo e busco um homem em minha vida. Eu jamais ousaria decepcioná-la ou ainda usá-la.
Desde que conheci a Lay, percebi o quão é perigoso amar e apostar nos sentimentos alheios. Decidi jamais fazer outra garota chorar por tal situação. E jurei pra mim mesmo que seria feliz, para que Lay, independente de onde e com quem ela estiver, ficasse satisfeita ao ver minha felicidade e pudesse buscar a própria felicidade em paz.
E Lay, se algum dia você vier a ler este texto, saiba que eu ainda te amo como uma das minhas melhores amigas e pessoas mais fabulosas e encantadoras que já conheci. Mas infelizmente não posso retribuir o mesmo amor que você me oferece. De coração eu lamento muito.
P.S.: Sobre Crepúsculo: o livro é ímpar, romântico, intenso, misterioso, perfeito e possui continuações que prometem muito mais histórias do mesmo nível. Mas não se engane assistindo o filme, ele não corresponde as expectativas do livro. Aliás, se você quer destruir a história/ambientação/teor de um livro qualquer, basta fazer dele um filme.