E quando chegamos na etapa “defeitos”, o tal jogo da verdade temático não fluiu. É fácil explicar o porquê: defeitos são solúveis em amor, tanto o amor pelo próximo quanto o amor-próprio. E é garantia minha que todos os participantes do jogo tinham um mínimo de amor uns pelos outros, o suficiente pra que o jogo não desse certo. Mas foi fácil achar a solução pro jogo continuar: nenhum de nós (todos em plena juventude e em momentos turbulentos da vida) conseguiu desenvolver amor próprio suficiente pra diluir nossos próprios defeitos – por isso decidimos que cada um falaria dos próprios defeitos e eles seriam discutidos... e então o jogo seguiu!
E se apenas três das minhas qualidades se destacaram com unanimidade (sendo fácil detalhar cada uma delas no post passado), o mesmo não aconteceu com os meus defeitos: foram tantos que não dá pra detalhá-los tanto quanto da última vez, rsrs.
O primeiro deles: sou orgulhoso. Muito mesmo, do tipo que leva tudo a ferro e fogo (como diria o Sr. “Laisse Faire”) só pra não ter que admitir que estou errado, enganado, perdido, etc... um cabeça-dura teimoso, que só cede diante do óbvio. Pelo menos sou humilde o suficiente pra ficar quietinho e calado depois de já ter aceitado a “derrota”.
Outro defeito que eu tenho e já conhecia, mas não sabia um “nome” adequado, foi o GayAlpha quem me “ensinou” (num post antigo): sou voluntarioso. Minha vontade é tão soberana que já cometi grandes vacilos só pra satisfazê-la (e me arrependo de alguns). E isso me leva a outro defeito relacionado: sou mimado. Não um fedelhinho mimado que recebe sempre tudo o que pede, mas sim um cara que se mal-acostumou com as vezes que seus mimos foram realizados e espera que sempre será assim, ou seja, acabo criando expectativas que muitas vezes não se cumprem...
Também sou um péssimo mentiroso (culpa da tal sinceridade do post passado). Mentir é necessário em vários momentos da vida (o que muitos chamam de mentira-social) e, pra um mentiroso de 5ª categoria como eu, isso não é nada fácil. Também sou um tanto quanto medroso quando saio do âmbito racional-profissional e entro no emocional-afetivo. E também sou um eterno sujeito “baixa auto-estima”. Pra falar a verdade, a maior parte dos meus defeitos são resultantes dessa minha constante instabilidade emocional associada à baixíssimas taxas de auto-valorização e amor-próprio, como eu comentei no começo do post.
Sou acelerado demais, apressado, pavio-curto e impaciente. Por sorte sou complacente e tolerante, agüentando por muito tempo (e dando claros sinais da minha insatisfação) antes de explodir. E também sou bipolar – talvez um dos meus maiores defeitos – o que faz de mim completamente imprevisível nos momentos de “crise”. Consigo rir desesperadamente de alguma coisa e, no instante seguinte, ficar completamente furioso com outro motivo nada relacionado. E quase sempre isso acontece antes que as pessoas ao redor percebam essa súbita mudança, o que acaba sendo grave...
Sou um pouco arrogante também. Se internalizo o fato de que sou bom MESMO em alguma coisa, fico completamente convencido disso, o que acaba me levando eventualmente à arrogância. Um exemplo disso é a tal inteligência que falei no post passado. E nem me queiram ver associando o defeito “pavio-curto” com o “arrogante” quando subestimam minhas capacidades, sejam elas quais forem.
Não sou pontual. Sou um tanto quanto acomodado e preguiçoso também, mas não sempre. Demoro demais para agir diante de um problema e isso só acontece quando já existem poucas “saídas”. Tenho o péssimo hábito de não me adiantar em meus afazeres, deixando-os sempre para a última hora. Por sorte sou responsável o suficiente pra não deixar que as coisas atrasem, mesmo que elas não saiam com a qualidade que eu esperava.
E também sou exagerado, em todos os sentidos. Supervalorizo demais os meus sentimentos. Supervalorizo o significado de amizade e os amigos. Fantasio demais o relacionamento e par perfeito. Escancaro o que sinto com freqüência. Gargalho exageradamente com pequenas piadas. Choro desesperadamente com cenas de um filme ou livro bonito, e choro mais ainda quando me vejo “sem chão”. Costumo me anular com freqüência pra cumprir causas alheias, quase sempre daqueles que não merecem. Sou confuso. Não consigo compreender muitas das estúpidas motivações alheias. Muitas vezes não consigo entender minhas próprias razões.
Tornando este post algo bem nerd: em RPG (Role Playing Game), defeitos são atributos negativos que enriquecem o “background”, as características pessoais de um personagem e quase sempre permitem que este adquira adicionalmente mais qualidades, bônus, atributos, talentos, etc; ou seja, no RPG é bom ter alguns defeitos. Na vida real é um pouco diferente: nossos defeitos não nos concedem novas qualidades, mas são sim muito importantes.
Defeitos são adjetivos não muito desejados em nosso perfil humano, características não muito toleradas e muitas vezes não reconhecidas por nós mesmos. Mas são eles – e somente eles – que determinam as pessoas que nos cercam. As pessoas são facilmente atraídas pelo belo, pelo agradável e pelo cômodo, ou seja, se atraem por nossas qualidades. Porém, são os defeitos que servem como uma espécie de seleção natural entre aqueles que atraímos, mas que logo vão embora (os que não valem à pena), e aqueles que ficarão eternamente enraizados em nós (aqueles que realmente nos amam).
Enfim, finalizo este post com um vídeo que sempre me emociona pela interpretação, pela melodia e pelas palavras de Shakespeare...