11 de dezembro de 2009

FUNDO DO POÇO


Ao contrário do que muitos dizem, o “fundo do poço” não é escuro, nem úmido e nem desconfortável. Falo isso por experiência própria e atual. Mas todos estão certos quando dizem que ele é bem ruim. Ao atingir o fundo do poço, sua consciência é “iluminada” de uma forma que fica possível reconhecer onde houve erros e encontra o como e o porque se chegou a um nível tão baixo. Por isso digo que o fundo do poço é claro. O fundo do poço é seco porque, ao se dar conta que não se tem mais nada a perder e nem como as coisas ficarem piores do que já estão, você perde a capacidade de chorar, daí não há umidade. E é, até certo ponto, confortável porque dá tanto trabalho mover suas poucas energias pra sair dali que fica incrivelmente fácil se acostumar com a situação e decidir que ficar quietinho no seu canto (pelo menos por um tempo) é uma opção razoável.

O fundo do poço é um lugar que só existe dentro de nós mesmos. Até porque, se você for reparar, a menos que algo óbvio esteja acontecendo (miséria, doença, falecimento, etc.), ninguém percebe quando você está numa pior e nem entende os motivos de se ter chegado em tal situação. Uma analogia excelente, afinal, é bem difícil enxergar o fim de um poço sem estar no fundo dele.

Eis o fundo do poço. Eu cansei de tudo, enjoei de tudo. E de todos também. Parece que a festa acabou, as cores acinzentaram, a graça definhou, o assunto morreu, está tudo meio-morto. Não consigo me mover pra amar nem pra odiar alguém ou alguma coisa... e parece que esse tipo de trabalho não vale a pena.

Meu sono se inverteu e enlouqueceu. Por vezes não consigo dormir, em outras durmo 14-16 horas por dia e ainda sinto sono. Dá preguiça de acordar e me levantar da cama. A fome vem, mas a vontade de comer já me abandonou há tempos. Estou visivelmente doente, mas não tenho um pingo de forças pra buscar ajuda. Ficar parado é uma proposta cada vez mais e mais tentadora. Meus amigos me ligam e, por mais que eu sinta saudade ou ainda necessidade de falar com alguém, deixar o telefone de lado e não atender parece tão mais prático e cômodo (inclusive com as pessoas que eu mais amo nesse mundo). As pessoas puxam assunto, contam piadas, discutem notícias, agradecem algumas coisas, reclamam de outras, pedem opiniões, querem explicações... mas tudo ficou tão desinteressante, mesmo ouvir, ler ou falar. Não sinto mais simpatia, nem antipatia. Só sinto apatia por praticamente tudo.

É confuso, como se eu estivesse congelado e não houvessem motivos para seguir em frente. A apatia me subiu à cabeça. Com ela vieram a preguiça, a anorexia, a indiferença, a insônia ou hipersônia (intercaladas), a insatisfação, o descuido, a irresponsabilidade, o tédio, a inércia e a total falta de vaidade, auto-cuidado e auto-estima. E independente dos motivos que me levaram ao fundo do poço, a resolução disso tudo ainda pode demorar um pouco, principalmente porque metade das minhas forças ainda dependem do retorno de pelo menos um importante ombro amigo ou materno. Quando esse alguém retornar, eu sei que as coisas vão melhorar...

OBS: Nunca gastei tanto com álcool em toda minha vida. E ainda assim, não sinto a menor vontade de beber... a intenção é não ficar sóbrio (né Pink?).

2 comentários:

Cris Medeiros disse...

Benvindo ao mundo dos atormentados de alma...

Quantas vezes passei por isso e quantas ainda vou passar... Essa sensação foi que me levou às drogas...

Isso se chama depressão, que é mais comum em quem pensa demais, assim feito nós...

Desejo dias melhores pra vc e se quiser conversar é só me chamar...

Beijocas

Thyanna disse...

Algumas vezes já me senti assim como vc... é ruim, mas aprende-se muito nestes momentos...
Espero que esse seu ombro amigo não demore muito a chegar viu!!
Um abraço.