4 de abril de 2011

PROBLEMAS


Todo mundo tem problemas e isso não é novidade pra ninguém, faz parte da evolução humana: se o homem primitivo não tivesse percebido que ficar na chuva, coletar comida, perambular sem rumo e se expor ao perigo é problemático e potencialmente letal, dificilmente teríamos chegado ao nível de civilização aonde chegamos. Mas isso você também já sabe... o que você talvez não saiba é que, apesar do nosso grau de civilização, as reações humanas diante dos problemas podem ser mais primitivas do que se espera.

Na vida selvagem, quase todos os problemas estão direta ou indiretamente relacionados à sobrevivência (e de uma forma metafórica, na vida civilizada também), e quando o risco de vida entra em jogo, as respostas instintivas são quase sempre padronizadas em três:
1-    O alvo torna-se agressivo e ataca;
2-    O alvo decide fugir da melhor forma possível;
3-    O alvo torna-se imóvel, imperceptível ou finge de morto;
Apesar da racionalidade única do humano, problemas reais evocam nosso lado mais primitivo e, quase sempre, a reação é puramente instintiva: agressividade e resolução imediata; fuga ou alienação; ou imobilidade, inatividade e apatia diante do problema. Uma auto-avaliação revela imediatamente qual o seu padrão mais frequente, se você for sincero consigo mesmo, claro.

Apesar de odiar tal reação, assumo sem nenhum orgulho que quase sempre me “finjo de morto” diante de problemas reais. Deveria ser só uma fase latente pra pensar a respeito e me dar tempo de encontrar saídas, mas sei que intimamente a real razão é a de esperar que o problema se resolva sozinho milagrosamente. Não é nada racional e quase sempre inefetivo, eu sei; mas se você observar, nenhuma das reações são boas soluções. A agressividade é socialmente problemática e exaustiva, além do fato de que resolver as coisas no calor da emoção quase nunca é satisfatório. Fugir dos problemas então, nem se fala!

Mudando ligeiramente o foco: problemas são um mal necessário, são importantes no desenvolvimento da auto-crítica, da vida social, da vida profissional, da vida sentimental, enfim, da vida de uma forma geral. Problemas são indicadores reais de que as coisas estão sendo feitas da forma certa ou errada, uma espécie de “nível de evolução”. Você provavelmente não consegue entender porque se desesperou tanto com alguma prova difícil da época da escola, já que é algo relativamente bobo se comparado com as responsabilidades da vida adulta. E problemas são sim insuportáveis, principalmente quando surgem independente das suas ações, mas eles SEMPRE podem ser superados, contornados ou, na pior das hipóteses, absorvidos.

O que eu simplesmente não entendo é esse estranho life-style super positivista de que a vida é sempre perfeita, sempre agradável, que problemas não existem ou são irrelevantes. Há poucos dias eu e a Dama de Cinzas conversávamos no twitter (que modernidade!) sobre o assunto, perplexos pelo fato de que tem muita gente que não gosta de admitir que tá mal, que tá por baixo. Tem gente que é incapaz de “curtir uma fossa”, de recusar uma festa porque algo está fora de ordem, de se recolher no seu canto e sentir a necessidade de reflexão e introspecção. As redes sociais, sobretudo o Facebook e o (falecido) Orkut, são a maior prova disso e poderiam mudar seus endereços pra “www.eusousemprefeliz.com”. E lá você vê de tudo: gente de luto com a foto do perfil numa festa; gente de baixa auto-estima com foto seminua na frente do espelho; gente mal-amada em fotos com dezenas de desconhecidos, gente doente com foto antiga e sadia; gente exageradamente photoshopada... e por aí vai!

E mudando de foco pela última vez, ontem parei pra pensar no quanto eu aconselho amigos a resolverem seus problemas. Na terceira pessoa, longe do foco do problema, fora do olho do furacão, é absurdamente mais fácil raciocinar e encontrar possiveis saídas (nunca soluções prontas e nem o velho e inútil "vai ficar tudo bem!"). Entretanto, eu observei o quanto eu me tornei um depósito de experiências e emoções guardadas para benefício alheio, nunca pra mim. E observei o quanto eu sou reticente ao aceitar qualquer tipo de aconselhamento de quase qualquer pessoa, com raríssimas excessões. Parte disso é reflexo da minha desconfiança e do quanto eu já compreendi o significado de "suas palavras poderão e provavelmente serão usadas contra você"; a outra parte é pura arrogância e incapacidade de admitir que nem sempre eu posso resolver meus problemas sozinhos...

Finalizando: a vida é dura, chata, cheia de dor, apatia, doenças, maldade, perdas e sofrimento. Encará-la como um campo de uma batalha já vencida ou já perdida não muda em nada os fatos. Resta a você ter a capacidade de controlar seus instintos negativos, aprender a tirar as pedras do seu caminho e NÃO seguir o modelo do fluxograma que ilustra o post. Já é um excelente começo!

Pra ver e ouvir depois de ler:



3 comentários:

Cris Medeiros disse...

Adorei o texto... eheheh

Olha estou sofrendo muito no momento por uma decisão que tomei e resolvi batalhar. Se eu tivesse me fingido de morta, nada disso estaria acontecendo comigo. Minha vida estaria sem esse grande problema que fui procurar... rs

Quanto a internet e felicidade extrema das pessoas, realmente acho que é o mal do momento, junto com o maldito politicamente correto, aloás um alimenta o outro nessa questão das redes sociais.


Beijocas

Rodrigo disse...

Cara, teu ultimo parágrafo disse tudo.

te cuida e boa semana

Metamorfose Ambulante disse...

Faz tanto tempo que não lia seus posts que tinha até me esquecido o quão bom eles são... veio bem a calhar...