A gente nunca sabe o gosto da derrota até tocar o fundo do poço e constatar que de fato se está numa pior. Eu vivi há certo tempo atrás, entre 2007 e 2008, um período bastante nebuloso e cinzento. Falando mais claramente: eu fui completamente infeliz por quase um ano da minha vida. Eu estava em depressão, por motivos que eu irei comentar muito em breve neste blog, e essa experiência foi, sem dúvida, o meu “fundo do poço”.
E hoje, enquanto fuçava músicas antigas, músicas deprimentes que eu escondi em uma distante e esquecida pasta do meu computador, encontrei um texto que escrevi no auge daquele momento sombrio. Eu havia escondido esses vestígios (as músicas e o texto) logo após ter me curado da depressão na tentativa de esquecer tudo o que passou. Hoje eu penso diferente, porque até as nossas quedas nos ensinam uma forma diferente de se levantar e nos previne cada vez mais contra novos “incidentes”. Por isso resolvi compartilhar com vocês este texto não muito sadio nem coerente, mas que representou exatamente tudo o que um dia eu senti. Espero que “entendam”.
OBS: Pra mim a interpretação do texto só é completa quando se está ouvindo “Love is a losing game” da Amy Winehouse.
[...]
Eu, por eu mesmo...
Existe uma segunda consciência que habita a minha mente. Sua função é ser meu algoz, meu rival, meu opositor extremo. Ela não pode ser definida, não tem cor, nem forma, nem nome, é abstrata demais para ser palpável, real o suficiente para ser percebida.
Ela possui tentáculos finos e longos, que alcançam quase qualquer coisa que eu possa tocar, acessar, enxergar ou me envolver. Ela possui um domínio anormal sobre a minha vontade, uma força inquestionável sobre mim, que ora me domina e ora é inibida. É impossível ignorá-la, embora seja possível vencê-la, e para isso eu despendo forças enormes, que me consomem dia após dia.
Sua existência me remove o humor, me faz perder o sono ou até sentir sono demais, me isola de tudo, me faz aterrorizar aqueles que me desconhecem, me atrai fortemente por aquilo que eu jamais terei independentemente do quanto eu lute, faz eu me odiar profundamente e me sentir o pior dos seres humanos, me faz ignorar tudo o que acho importante, me devolve a capacidade outrora perdida de chorar, me frustra em meus planos e me afasta das pessoas que amo. Em troca, ela me fornece racionalidade, maturidade, inteligência, responsabilidade, serenidade e outros atributos, tudo em níveis totalmente inadequados para alguém da minha idade.
Eu preciso contê-la diariamente, o que não é uma tarefa fácil, uma guerra eterna, onde eu já perdi a conta das vezes em que venci e fui derrotado; e que produz cicatrizes que eu acredito serem irreversíveis, mas de grande aprendizado. Ela me imobiliza, aprisiona e até consegue me derrubar, mas ainda é incapaz de me impedir de levantar. É curioso como palavras certas, das pessoas certas, nas horas certas são capazes de neutralizar todos os recursos nocivos dela sobre mim, mas é uma pena que esses fatos aconteçam com baixíssima freqüência. Ela não poderia viver sem mim, porque ela simplesmente faz parte de um todo que eu sou, e me matar faria dela uma suicida.
Eu já desisti de destruí-la, é uma pretensão totalmente inútil. Eu já entendi como ela funciona e identifico exatamente os sinais dos seus ataques, mas ela é imprevisível o suficiente para jamais me permitir estar preparado para receber suas investidas, me tornando um alvo plenamente vulnerável. Ninguém além de mim é capaz de entendê-la, ou de enxergá-la nitidamente, mas qualquer um é capaz de ver quando eu sou derrotado por ela, mesmo que quase ninguém dê a importância que isso tem para mim. Mas ela perderá... seus tentáculos me causam feridas que são superficiais demais para serem capazes de me enlouquecer, mas formam cicatrizes que me imunizam lentamente a todos esses males.
Será um tempo difícil, mas eu voltarei ao meu normal, ou pelo menos é o que eu espero. E quando isso acontecer, tenho certeza que eu não serei o mesmo de antes, portanto, procure demonstrar o quanto antes aquilo que eu significo para você... amanhã poderá ser tarde, bem tarde...
SYN
8 de abril de 2009
SOMBRAS DE DIAS ANTERIORES
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5 comentários:
Acredito que é muito bom reviver o passado.
Aprendemos com o que foi vivido, lembramos do que se passou.
E somos felizes por sermos quem somos hoje.
E eu gostei muito do texto.
Quem nunca se sentiu assim?
nós, que nos intitulamos de humanos, somos tão complexos, que parecemos múltiplos dentro de um só corpo...
abs
Gostei de ver que vc fez a lição de casa e comentou em vários posts lá no blog... hehehe!!! Eu já estava sentindo sua falta, seu danado!!! Valeu a parceria e amizade... eu e meus tornozelos agradecem... hahahaha!!! Quer ver mais? Hahahahahaha!!!! Hugzzzz!!!!
Adoro seus posts... mesmo os assuntos mais pesados são tratados de uma maneira muito sútil...
Somos muitos dentro de um corpo só ... e no seu caso a melhor parte prevaleceu ^^
Texto difícil e tão familiar... acabei de ler no momento exato em que se encerrou a música. Bj
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