26 de abril de 2011

EI VOCÊ, QUE ESTÁ SOZINHO...


Há algumas semanas atrás, eu comecei a jogar umas frases de auto-reflexão no twitter que fizeram certo sucesso, mas que só aumentaram uma inquietação dentro de mim. As frases, basicamente, falavam de um problema batido e rebatido: insatisfação e carência por ausência de relações afetivas, ou seja, solteirice crônica. Quem não conhece ao menos um indivíduo que não faz nada além de queixar-se por estar sempre sozinho(a), sempre sem namorado(a), sempre reclamando que ninguém o(a) quer, sempre exaltando suas qualidades de boa companhia?

O fato é: o quanto essas mesmas pessoas estão preparadas para ter um relacionamento? Porque o que se vê na maioria dos casos, é um grau absurdo de carência; ausência total de experiência afetiva; dependência física, sentimental e sexual; excessos de atitudes negativas como imaturidade de uma forma geral, ciúme e desconfiança; pouquíssima disposição pra ceder e aprender; intolerância a erros alheios; extrema seletividade e exigências para com os “possíveis candidatos” e praticamente nada, eu disse NADA, a oferecer. Não é a toa que o mantra reclamão que pede por um namorado é tão massivamente repetido por pessoas sem um pingo de auto-estima, incapazes de amar a si mesmas e pretensiosamente crentes que merecem ser amada pelo melhor dos companheiros.

Sério, antes de desejar e esperar alguém que possa te fazer feliz, não seria apropriado aprender a ser feliz sozinho? E se, eventualmente, esse alguém que aparecer na sua vida estiver muito mais necessitado de ajuda e apoio na busca da própria felicidade do que disposto/capaz a te guiar pra felicidade? É complicado pedir amor dos outros quando não temos a capacidade de amar aquilo que nós somos. Pensando um pouco mais nisso, se alguém é tão incapaz de amar a si próprio, será que tal alguém possui características que mereçam ser amadas? Hábitos, comportamentos e formas de pensar podem ser reprogramados, vícios e defeitos podem e devem ser corrigidos quando identificados. Mas e se não houver interesse nem senso crítico suficientes pra corrigir o que temos de ruim, como esperar que outras pessoas se mobilizem e nos amem por quão ruim somos ou podemos ser? Complicado, né?

Fora o problema das exigências exageradas, quase num nível ridículo. É absurdo ver alguém, que tem tão pouco a oferecer, exigindo tanto dos outros. Entre os vários pré-requisitos – como beleza, inteligência, papo, atitude, bom-humor, complacência, coerência, paciência e, é claro, há quem exija gordo contra-cheque e conta bancária – existem pessoas esperando nada menos do que verdadeiras perfeições humanas, mesmo sendo tão medíocres. É claro, seria hipócrita dizer que as pessoas com a famosa beleza “comercial” (homem sarado, mulher gostosa) não são atraentes; desejá-las é algo absolutamente normal. Mas fazer do ápice da beleza (ou de qual qualquer outro pré-requisito) uma exigência rigorosa é tão eficiente quanto desejar acertar na loteria sem jogar. Outro problema é moldar um parceiro dos sonhos, mas sem ter a capacidade ou qualidades necessárias para atraí-lo. Ok, se você não é muito bonito e a natureza não o ajudou, isso é algo meio difícil de modificar e tal, mas é possível se vestir bem (que nada tem a ver com marcas e roupas caras), tornar-se interessante (ler ajuda, viu?), ter atitude, ser bem-humorado, enfim: é possível ter o que oferecer, fazer sua moeda de troca pra conseguir alcançar aquilo que se deseja. Complicado é esperar sentado por um príncipe imaginário que, convenhamos, não vai chegar...

E finalizando, é necessário saber lidar com um problema real: CARÊNCIA! Estando há quase um ano solteiro, desde que mergulhei de cabeça no modo “Frozen”, fica incrivelmente fácil ver isso, aos poucos eu me tornei meio imune aos efeitos negativos da carência, mas não à carência em si. É claro que eu tenho meus momentos de solidão, de desejar ter alguém pra abraçar, pra conversar e pra me apoiar, de um jeito que amigos e amigas não podem ajudar, mas é necessário não permitir que isso abale seu senso de estabilidade racional e emocional. Uma vez solteiro por opção, eu consegui perceber o quanto as pessoas muitas vezes se agarram a um “qualquer” só pelo medo de ficarem sozinhas por mais tempo. Todos esses sinais de solidão e carência destroem minuciosamente o senso de crítica e percepção daquilo que queremos pra nós mesmos. Os resultados desastrosos se refletem em cada relacionamento mal-sucedido, abalando a fé em acreditar que alguém realmente legal possa gostar de você. Eu mesmo percebi isso nos meus relacionamentos anteriores, eu mesmo percebi e decidi corrigir tal erro.

E se ainda assim, nada disso for suficiente pra que a companhia dos sonhos apareça na sua vida e torne-a perfeita, a dica é: ESQUEÇA ISSO! Vá se divertir com seus amigos, estudar/trabalhar, assistir filmes, pegar um sol, curtir uma praia, praticar esportes, fazer exercícios, ouvir boa música, ler bons livros e blogs, rir com seriados ou com a internet, pirar em festas, praticar sua espiritualidade, se distrair, se concentrar, meditar, faça a vida valer a pena. Faça da ausência de um companheiro a desculpa que faltava pra iniciar a busca da felicidade por conta própria, mesmo que seja sozinho. Não digo isso num sentido de “enfeitar o seu jardim” pra que um dia você seja capaz de “atrair as borboletas”; às vezes as mais belas borboletas estão dentro de casa, numa bela flor que foi deixada aleatoriamente sobre um móvel, e você nunca percebeu porque estava concentrado demais no jardim do lado de fora da janela. Às vezes a felicidade não depende de “borboletas”. Pense nisso!

Pra ouvir e refletir depois de ler: A sombra - Pitty (dica do @mauricioalbino).

4 de abril de 2011

PROBLEMAS


Todo mundo tem problemas e isso não é novidade pra ninguém, faz parte da evolução humana: se o homem primitivo não tivesse percebido que ficar na chuva, coletar comida, perambular sem rumo e se expor ao perigo é problemático e potencialmente letal, dificilmente teríamos chegado ao nível de civilização aonde chegamos. Mas isso você também já sabe... o que você talvez não saiba é que, apesar do nosso grau de civilização, as reações humanas diante dos problemas podem ser mais primitivas do que se espera.

Na vida selvagem, quase todos os problemas estão direta ou indiretamente relacionados à sobrevivência (e de uma forma metafórica, na vida civilizada também), e quando o risco de vida entra em jogo, as respostas instintivas são quase sempre padronizadas em três:
1-    O alvo torna-se agressivo e ataca;
2-    O alvo decide fugir da melhor forma possível;
3-    O alvo torna-se imóvel, imperceptível ou finge de morto;
Apesar da racionalidade única do humano, problemas reais evocam nosso lado mais primitivo e, quase sempre, a reação é puramente instintiva: agressividade e resolução imediata; fuga ou alienação; ou imobilidade, inatividade e apatia diante do problema. Uma auto-avaliação revela imediatamente qual o seu padrão mais frequente, se você for sincero consigo mesmo, claro.

Apesar de odiar tal reação, assumo sem nenhum orgulho que quase sempre me “finjo de morto” diante de problemas reais. Deveria ser só uma fase latente pra pensar a respeito e me dar tempo de encontrar saídas, mas sei que intimamente a real razão é a de esperar que o problema se resolva sozinho milagrosamente. Não é nada racional e quase sempre inefetivo, eu sei; mas se você observar, nenhuma das reações são boas soluções. A agressividade é socialmente problemática e exaustiva, além do fato de que resolver as coisas no calor da emoção quase nunca é satisfatório. Fugir dos problemas então, nem se fala!

Mudando ligeiramente o foco: problemas são um mal necessário, são importantes no desenvolvimento da auto-crítica, da vida social, da vida profissional, da vida sentimental, enfim, da vida de uma forma geral. Problemas são indicadores reais de que as coisas estão sendo feitas da forma certa ou errada, uma espécie de “nível de evolução”. Você provavelmente não consegue entender porque se desesperou tanto com alguma prova difícil da época da escola, já que é algo relativamente bobo se comparado com as responsabilidades da vida adulta. E problemas são sim insuportáveis, principalmente quando surgem independente das suas ações, mas eles SEMPRE podem ser superados, contornados ou, na pior das hipóteses, absorvidos.

O que eu simplesmente não entendo é esse estranho life-style super positivista de que a vida é sempre perfeita, sempre agradável, que problemas não existem ou são irrelevantes. Há poucos dias eu e a Dama de Cinzas conversávamos no twitter (que modernidade!) sobre o assunto, perplexos pelo fato de que tem muita gente que não gosta de admitir que tá mal, que tá por baixo. Tem gente que é incapaz de “curtir uma fossa”, de recusar uma festa porque algo está fora de ordem, de se recolher no seu canto e sentir a necessidade de reflexão e introspecção. As redes sociais, sobretudo o Facebook e o (falecido) Orkut, são a maior prova disso e poderiam mudar seus endereços pra “www.eusousemprefeliz.com”. E lá você vê de tudo: gente de luto com a foto do perfil numa festa; gente de baixa auto-estima com foto seminua na frente do espelho; gente mal-amada em fotos com dezenas de desconhecidos, gente doente com foto antiga e sadia; gente exageradamente photoshopada... e por aí vai!

E mudando de foco pela última vez, ontem parei pra pensar no quanto eu aconselho amigos a resolverem seus problemas. Na terceira pessoa, longe do foco do problema, fora do olho do furacão, é absurdamente mais fácil raciocinar e encontrar possiveis saídas (nunca soluções prontas e nem o velho e inútil "vai ficar tudo bem!"). Entretanto, eu observei o quanto eu me tornei um depósito de experiências e emoções guardadas para benefício alheio, nunca pra mim. E observei o quanto eu sou reticente ao aceitar qualquer tipo de aconselhamento de quase qualquer pessoa, com raríssimas excessões. Parte disso é reflexo da minha desconfiança e do quanto eu já compreendi o significado de "suas palavras poderão e provavelmente serão usadas contra você"; a outra parte é pura arrogância e incapacidade de admitir que nem sempre eu posso resolver meus problemas sozinhos...

Finalizando: a vida é dura, chata, cheia de dor, apatia, doenças, maldade, perdas e sofrimento. Encará-la como um campo de uma batalha já vencida ou já perdida não muda em nada os fatos. Resta a você ter a capacidade de controlar seus instintos negativos, aprender a tirar as pedras do seu caminho e NÃO seguir o modelo do fluxograma que ilustra o post. Já é um excelente começo!

Pra ver e ouvir depois de ler:



3 de março de 2011

WALK AWAY


Evolução: é o mínino a se esperar dos vivos, embora não seja uma regra pra todos. Hoje eu me peguei "curtindo" um dos piores dias da minha vida ao som de boa música, divertida, animada e no mais alto volume. Até cumprir a minha rotina básica foi fácil.

Em tempos não tão distantes, dias ruins eram sinônimo de um "eu" quieto, apático, cinzento, calado, sombrio e às vezes até choroso. Dias ruins eram "comemorados" ao som de música baixinha e invariavelmente triste, anorexia, sono exagerado, descuido total da saúde, da higiene e da vaidade.

Sendo assim, quando esse antigo eu morreu? Que marcas ele deixou? Quanto de mim ele levou ao ser destruído? Até que ponto isso pode ser considerado algum tipo de evolução? E pior: até que ponto esse novo "eu", frio, que eu me tornei pode esconder os muitos pedaços espalhados por trás de uma casca sorridente?

Yeah! I'm walk away... e eu ainda não sei quando vou parar.

29 de outubro de 2010

FOGOS DE ARTIFÍCIO


Eu não estou postando este clipe porque a Katy Perry é uma diva pop, ou porque o clipe foi lançado ontem ou porque toda a massa GLBT (principalmente a G) já viu, aprovou (ou não) e já decorou toda a letra da música e a música. Não, também não tem nada a ver com o beijo gay. Eu detesto modinha e, apesar de adorar sim a música pop, eu não gosto da forma como ela é supervalorizada atualmente, sendo uma fútill substituta da cultura decente. Mas a Katy realmente me surpreendeu com este novo clipe.

Eu já ouvi todo o novo CD dela e já conhecia a letra de “Firework” (fogos de artifício). Eu já gostava da música e já havia captado a mensagem por trás da letra. Quando soube que seria o próximo single do CD, bateu ao mesmo tempo uma satisfação e um medo: será que o clipe vai ser tão bom quanto a letra e a melodia da música? E olha só que bela surpresa... veja você mesmo(a):



Katy Perry e sua equipe conseguiram demonstrar uma postura positiva, de enfrentamento dos seus medos e preconceitos, de visibilidade externa dos nossos problemas, de otimismo e recomeço, de atitudes capazes de mudar a sua realidade. A sensação que dá é literalmente de explodir como um fogo de artifício, reunir sua luz interior e deixar que ela brilhe. O efeito visual  de cada caso do clipe é 100% contagiante e me emocionou de verdade em todos eles. Simplesmente fantástico, totalmente auto-explicativo, sem um pingo de mensagens clichê ou no estilo auto-ajuda!

Finalmente a Katy destacou-se por uma mensagem que realmente faz a diferença, e não por ser a menina que beijou outra garota numa festa ("I kissed a girl") ou por querer espiar o pinto alheio ("Peacock"). Firework foi tão tão brilhante que me injetou toda essa positividade por no mínimo uma semana e eu não quero parar de ver e ouvir tão cedo!

Parabéns e obrigado de coração, Katy Perry!


[...]

PS: Aos interessados, tem letra e tradução clicando aqui.

OBS: “Fourth of July” ou 4 de Julho, é o dia da independência dos EUA (país da Katy Perry), e por lá esse dia é comemorado de forma similar ao Réveillon, repleto de fogos de artifício... =)

28 de outubro de 2010

PENSAMENTOS CONFUSOS


Meus amigos e conhecidos vivem dizendo que eu deveria ter feito Psicologia, e não Fisioterapia. Motivo: sou bom em dar conselhos. Assim como a Dama costuma dizer, detesto frases prontas, do tipo “vai ficar tudo bem” e “o que tiver que ser, será”. Quando aconselho alguém evito ser eufemista ou clichê, tento ser o mais direto e reflexivo possível. Tento fazer o sujeito enxergar os problemas e complicações da forma mais prática e realista, sem dramas, estimulo a pensar no que foi ou está sendo feito de errado (causa) e no que pode ser feito pra resolver tudo (possível solução). Tem algum segredo nesse processo?! Nenhum! Se eu sou um “bom conselheiro”, isso nada tem a ver com Psicologia, que é algo profissional, sério e muito importante (e que eu admiro bastante!). É uma visão matemática e lógica das coisas. A questão é que os problemas que eu costumo aconselhar são relativamente fáceis, corriqueiros ou bem conhecidos. Mas isso é só meia verdade...

Refletindo bem sobre o assunto, a verdade é que os problemas que eu me arrisco aconselhar são realmente muito fáceis e, sendo mais sincero, é muito fácil dar pitaco nos problemas alheios, vendo todos os fatos e atos em 3ª pessoa. Mas quando os problemas são nossos, aplicar o modelo de procurar causas e encontrar soluções deixa de ser algo tão matemático e lógico e torna-se algo nada prático ou rápido. Problemas grandes exigem grandes períodos de reflexão e, no meu caso, de introspecção – pra não falar isolamento quase total. E outros problemas, mesmo pequenos e com soluções existentes ou não, podem não ser práticos ou fáceis por exigirem de nós um preço alto demais. Exemplo: um dos amigos mais inteligentes, racionais e diretos que eu conheço, nesta manhã, foi ao velório da própria mãe sendo hoje o seu aniversário. Não existe conselho no mundo que possa sequer aliviar a dor dele. Não existe mente prática ou racional que seja capaz de encontrar soluções pra essa situação, simplesmente porque a solução não existe (e aí sim, a Psicologia tem muito o que fazer). E isso é um alerta ao constante egocentrismo humano: seus problemas não são os maiores, suas dores não são as piores...

Desviando, mas nem tanto, o assunto, ontem voltei a ouvir Gabriel, o Pensador, um verdadeiro exercício de auto-crítica e reflexão social. Gabriel, que faz juz ao seu título de “Pensador”, é um sujeito extremamente politizado e um verdadeiro bom-conselheiro, num nível mais amplo, de um jeito que eu nem me imagino sendo igual. E isso me faz pensar no quanto eu sou ineficiente pra resolver os problemas que afetam grandes grupos ou todas as pessoas, sobretudo os políticos e sociais. Num balanço entre “o que eu posso fazer” e “o que eu faço de fato” pra tornar o mundo um lugar melhor, não existe nenhum equilíbrio. E isso me bota pra baixo, sobretudo quando vem associado ao fato de que ultimamente eu estou sendo um incompetente em resolver alguns problemas pessoais. A sensação chega a ser de impotência. Espero um dia ter a maturidade, a atitude, a sabedoria e os recursos necessários pra ser um sujeito mais politizado e atuante. Preciso parar de pensar que sendo rico e bem sucedido e indo morar na Europa, as coisas se resolveriam.

E voltando ao começo do post, eu realmente pretendo estudar Psicologia ou Psicanálise, mas entendo muito bem o porque eu escolhi Fisioterapia: é muito mais fácil, rápido, prático e eficiente tratar dos problemas do corpo do que os da mente. Mas no fundo, eu sei que não dá pra separar uma coisa da outra, principalmente porque é impossível passar quase 1 hora de atendimento completamente mudo diante de um humano com dores e problemas.

É, as vezes eu deveria mesmo é pensar menos, censurar meus pensamentos confusos e sem rumo...

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