14 de maio de 2011

SOBRE PSEUDO-AMORES E PONTOS FRACOS



Eu não gosto de pseudo-amores, daqueles que surgem em instantes e, feito ebola, infectam cada centímetro do sujeito, que torna-se capaz e audacioso o suficiente pra proferir o “eu te amo” sem a devida importância que essas três palavrinhas possuem. Se você está apaixonadamente inflamado e deseja declarar ao mundo esse sentimento, fique à vontade, mas não subestime o significado da palavra amar, não na minha frente. Você tem todo direito de ser o alvo do famoso “amor à primeira vista”, desde que cumpra aos seguintes pré-requisitos: 1) ser um teenage, bem adolescente típico mesmo; 2) ser virgem; 3) ser totalmente inexperiente sentimentalmente (o que engloba 99% do universo dos dois requisitos anteriores). Eu não acredito em amores prontos. Não acredito também que uma fada depositará pó de pirlimpimpim na minha vida e magicamente fará meu grande amor surgir. Acho que nem preciso dizer o que penso do cupido e da lenda do príncipe encantado, né?

Mesmo correndo o risco de ser chato por martelar nesta mesma tecla há meses, reafirmo que, desde que decidi percorrer voluntariamente a solitária e congelada “floresta-do-amor-próprio”, percebi que é possível remover tantas situações sentimentalmente desagradáveis da vida que pouca coisa tem me tentado a voltar ao colorido “jardim-das-paixonites-temporárias”. Pode parecer medo de enfrentar possíveis amores, medo de dar a cara pra bater, mas não é não: o “nível” das pessoas que andam aparecendo e se jogando na minha vida só me faz constatar que, sim, eu mereço coisa melhor. Melhor do que rostos/corpos bonitinhos de cabeça vazia, teenages sonhadores e imaturos, máquinas de sexo fast-food, gente mal resolvida, gente comprometida, gente fútil, gente carente e arquétipos similares. Se tudo que merece ser feito merece ser bem feito, por que no amor teria que ser diferente? Mas, infelizmente, isso é só uma meia verdade...

Entretanto – e é com muito pesar que eu digo este “entretanto” – eu recentemente me peguei observando e pensando em desconhecidos e tendo surtos de “paixonites” com direito a historinhas imaginárias idealizadas. É bizarro, mas parece que o tiro saiu pela culatra: eu conscientemente sei que é IMPOSSÍVEL desenvolver sentimentos mais profundos por pessoas que você sequer conhece além da aparência e das duas frases trocadas no MSN, na academia, no ônibus, na fila do banco, enfim; mas é exatamente por esses sujeitos (e muitos deles nem são bonitos) que eu vendo desenvolvendo pseudo-amores. Irônico, não? Quando eu finalmente me acho capaz de abstrair a necessidade de ter alguém (possivelmente inadequado), e evitar todas as turbulências de um mau relacionamento, a vida me prega uma peça e me faz desenvolver esse tipo de sofrimento de forma ilusória e por antecipação em desconhecidos aleatórios...

Por sorte, como eu disse em outros posts, eu já estou bem crescidinho e imune aos efeitos negativos da carência (mas não a ela em si). Eu não me preocupo com nenhuma dessas possibilidades estúpidas e nem desenvolvo nenhum tipo de expectativa por elas. O que me machuca é ver e sentir o quanto as coisas que eu mais odeio estão exatamente aqui, escondidas em alguma parte de mim. O que dói é ver que, a cada vez que eu aponto com 1 dedo o comportamento negativo alheio, 3 outros dedos devolvem pra mim o fardo de eu estar manchado com a mesma mácula. O que me maltrata é saber que essa lição eu ainda não aprendi...

OBS: Pra ler antes/depois – É pra já! (brilhante!!!)
OBS 2: Pra ouvir antes/depois de ler:
Long Way To Happy - P!nk
I Caught Myself - Paramore

6 de maio de 2011

YEAH, GOD IS GOOD...


Eu não tenho nada específico contra as religiões de uma forma geral, eu apenas cheguei à conclusão de que eu não preciso de uma, o que também não quer dizer que eu seja ateu. Eu já fiz um post antes falando da minha opinião sobre religião e fé – sobretudo quando ela é cega ­– e admito que muito desse antigo post foi um contra-ataque à intolerância anti-homossexual praticada por muitas religiões, por isso sinto nova necessidade de expor a minha visão racional e espiritual de uma forma menos “vingativa”. Reconheço a necessidade da espiritualidade/crença na vida das pessoas de uma forma individual e social. É algo natural dos humanos ter fé, ter esperança, ter dúvidas inexplicáveis; é humano ter crença em um Deus (ou em vários), em espíritos, em forças sobrenaturais ou até em uma ideologia sagrada. É igualmente normal ser ateu, agnóstico, não ter uma opinião formada a respeito e similares, afinal, questionar e duvidar é natural também.

Acho que, diferente do que tentam exaustivamente exibir, ciência e espiritualidade exploram os fatos de formas diferentes, mas não opostas. Certa vez um médico, talvez um dos meus amigos mais inteligentes, mencionou em seus estudos biológicos que, da mais rudimentar e desorganizada célula viva ao mais complexo e desenvolvido humano, a curvatura de evolução ocorreu de uma forma tão perfeita e relativamente rápida que é absurdo acreditar puramente em “coincidência”. A lei da seleção natural existe, mas baseia-se no método de tentativa e erro/acerto, ou seja, chegar aonde chegamos aparentemente levaria bem mais tempo do que acredita-se que levou. Por essa visão, acreditar na existência de uma divindade influenciando esses eventos deixa de ser tão absurdo, inclusive usando teorias científicas, aliando-as. Mas não é sobre isso que eu vim falar neste post...

Existem sim inúmeros benefícios relacionados à religiosidade e espiritualidade, e eles são conhecidos. O simples ato de concentrar-se para uma oração é, do ponto de vista imunológico, benéfico. Em casos de doenças graves e crônicas, a fé, a esperança e a força pra não desistir podem ser diferença entre vida e morte em vários casos. São reconhecidos diversos estudos cruzados entre existência da fé e a prevalência reduzida em doenças e maior longevidade. Existem diversas atuações sociais e de amparo promovidas por grupos religiosos em centros de idosos, hospitais, centros de portadores de necessidades especiais e em comunidades carentes. Exemplos de pessoas como Madre Tereza de Calcutá e Dalai Lama são a evidência de que, sim, é necessário admitir os benefícios imunológicos, psicológicos e sociais (sem mencionar os culturais e históricos) das mais diversas religiões no nosso mundo.

Não sejamos negativistas: ter fé não é um problema, nunca foi. O problema mora na associação entre fé cega e baixo nível instrução, algo bem comum no nosso país. A parte negativa da grande maioria das religiões é manipular a fé das massas menos instruídas na forma de um discurso anacrônico, distorcido, acolhedor e eloquente, tendo como base alguma escritura sagrada previamente adulterada, previamente selecionada, removida do seu contexto real ou convenientemente mal-traduzida. Eis a mais antiga forma de massificação da má-fé (literalmente), transformando a boa vontade e a espiritualidade de milhares de pessoas em arma, política ou negócio.

Sejamos realistas: arrisco dizer que, na história deste mundo, nada matou mais do que a “palavra” de um deus, seja ele dos politeísmos (grego/egípcio/nórdico), seja ele o deus cristão das cruzadas ou da clássica guerra da terra prometida entre judeus e muçulmanos. É impressionante analisar o grau de intolerância social, racial, de crença espiritual, de valores e de orientação sexual promovido pela maioria das grandes religiões; é impressionante observar que uma instituição que diz pregar o amor (qualquer religião, sem exceção) está, na verdade, contribuindo pra disseminar ainda mais ódio. É nojento ver a atuação artificial e marqueteira de tantos políticos usando o nome de deus, da fé, da moral, dos bons costumes e dos valores familiares apenas para benefício próprio, sem se preocupar em absolutamente nada com o que isso significa e como pode ser diferente pra cada pessoa. E é doloroso ver tantas pessoas, carentes ou não, tendo seus recursos drenados por “doações” (de origem coerciva) para uma igreja de um líder religioso milionário em troca de meia dúzia de palavras de falso-conforto.

Aqui se observa outro câncer social promovida pela maioria das religiões: a dissociação entre causa e efeito. A fé manipulativa faz os fiéis acreditarem que seus problemas são ora a mera decisão fatalista e predestinada por deus – apenas uma espécie de “teste” que deve ser superado –, ora são eventos alheiros, “terceirizados”, que só podem ser superados com resignação, impotência e crença de que deus o resolverá na hora certa. Ao invés de preparar psicologicamente e espiritualmente seus fiéis para o momento de dificuldade, muitas religiões vêm alienando seus peregrinos de suas responsabilidades diretas sobre a causa de seus problemas. O objetivo é a criação de um círculo vicioso, onde a igreja escraviza fiéis, incapazes de resolver seus problemas e igualmente dependentes da fé da igreja para resolvê-los. Nem que seja pagando...

Por compreender todo esse lado negro por trás das religiões, prefiro não segui-las e nem desrespeitá-las, mantenho meu foco na argumentação contra suas acusações e na absorção daquilo que elas têm de bom a me oferecer. Qualquer pessoa equilibrada e racional enxerga a quilômetros o fato de que a culpa não está nas religiões especificamente ou em seus livros sagrados, mas sim em quem coordena de cima toda a manipulação, pelos bastidores, ou seja, a falha é humana e não divina. A religião não é o agente causador e nem a doença, é só o meio de transmissão desta. A bíblia, o alcorão ou qualquer outro livro sagrado podem sim ter sido escritos por inspiração divina, mas em anos de desenvolvimento da podridão e da maldade humana, nada e nem ninguém pode garantir que não houve modificações ou traduções erradas em suas escrituras. O conteúdo dessas escrituras, apesar de fascinante, é meramente literário, cultural, ético/moral e, até certo ponto, histórico; absolutamente baseado em sociedades de outros tempos que em muito diferem da nossa e, portanto, impossíveis de serem plenamente aplicadas na nossa realidade atual. Qualquer tentativa de aplicar literalmente um trecho de qualquer escritura sagrada na nossa realidade é um atentado contra toda a inteligência e evolução humana ao longo dos anos.

É por tudo isso que eu abracei uma visão espiritual mais compatível com minhas crenças, meu caráter e minha visão de mundo. Nela, eu admito que Deus de fato existe e não necessariamente precisa ser chamado assim ou ser temido como um tirano vingativo. Basta acreditar que Algo/Alguém muito maior do que tudo que eu acho relevante e poderoso existe, uma Força de pura virtude que não cabe na minha medíocre visão humana dos fatos. Um grande Ser que me deu a oportunidade de estar aqui e que me dá sentido a esta e – quem sabe? – a outras vidas. E sabe qual a crença que o meu Deus me orienta a seguir? É simples! Seja feliz, faça do mundo um lugar melhor, tenha amor-próprio, melhore como pessoa, evolua, supere-se, faça o bem a si mesmo sem permitir que isso cause qualquer tipo de mal alheio, seja humilde e ame todas as outras pessoas, inclusive as que não merecem, perdoe-as, ajude-as a evoluir e a serem felizes, não se omita diante do que não é ético, injusto, desonesto e nunca tenha certeza demais das suas certezas, questione-se, repense... Não se trata de apenas não praticar o mal, mas sim de tentar fazer o melhor pra si e para os outros. Ser útil.

E perceba, porque eu mesmo já admiti: esse discurso não é tão diferente da base essencial da maior parte das crenças religiosas, concorda?

Pra ouvir depois de ler:

26 de abril de 2011

EI VOCÊ, QUE ESTÁ SOZINHO...


Há algumas semanas atrás, eu comecei a jogar umas frases de auto-reflexão no twitter que fizeram certo sucesso, mas que só aumentaram uma inquietação dentro de mim. As frases, basicamente, falavam de um problema batido e rebatido: insatisfação e carência por ausência de relações afetivas, ou seja, solteirice crônica. Quem não conhece ao menos um indivíduo que não faz nada além de queixar-se por estar sempre sozinho(a), sempre sem namorado(a), sempre reclamando que ninguém o(a) quer, sempre exaltando suas qualidades de boa companhia?

O fato é: o quanto essas mesmas pessoas estão preparadas para ter um relacionamento? Porque o que se vê na maioria dos casos, é um grau absurdo de carência; ausência total de experiência afetiva; dependência física, sentimental e sexual; excessos de atitudes negativas como imaturidade de uma forma geral, ciúme e desconfiança; pouquíssima disposição pra ceder e aprender; intolerância a erros alheios; extrema seletividade e exigências para com os “possíveis candidatos” e praticamente nada, eu disse NADA, a oferecer. Não é a toa que o mantra reclamão que pede por um namorado é tão massivamente repetido por pessoas sem um pingo de auto-estima, incapazes de amar a si mesmas e pretensiosamente crentes que merecem ser amada pelo melhor dos companheiros.

Sério, antes de desejar e esperar alguém que possa te fazer feliz, não seria apropriado aprender a ser feliz sozinho? E se, eventualmente, esse alguém que aparecer na sua vida estiver muito mais necessitado de ajuda e apoio na busca da própria felicidade do que disposto/capaz a te guiar pra felicidade? É complicado pedir amor dos outros quando não temos a capacidade de amar aquilo que nós somos. Pensando um pouco mais nisso, se alguém é tão incapaz de amar a si próprio, será que tal alguém possui características que mereçam ser amadas? Hábitos, comportamentos e formas de pensar podem ser reprogramados, vícios e defeitos podem e devem ser corrigidos quando identificados. Mas e se não houver interesse nem senso crítico suficientes pra corrigir o que temos de ruim, como esperar que outras pessoas se mobilizem e nos amem por quão ruim somos ou podemos ser? Complicado, né?

Fora o problema das exigências exageradas, quase num nível ridículo. É absurdo ver alguém, que tem tão pouco a oferecer, exigindo tanto dos outros. Entre os vários pré-requisitos – como beleza, inteligência, papo, atitude, bom-humor, complacência, coerência, paciência e, é claro, há quem exija gordo contra-cheque e conta bancária – existem pessoas esperando nada menos do que verdadeiras perfeições humanas, mesmo sendo tão medíocres. É claro, seria hipócrita dizer que as pessoas com a famosa beleza “comercial” (homem sarado, mulher gostosa) não são atraentes; desejá-las é algo absolutamente normal. Mas fazer do ápice da beleza (ou de qual qualquer outro pré-requisito) uma exigência rigorosa é tão eficiente quanto desejar acertar na loteria sem jogar. Outro problema é moldar um parceiro dos sonhos, mas sem ter a capacidade ou qualidades necessárias para atraí-lo. Ok, se você não é muito bonito e a natureza não o ajudou, isso é algo meio difícil de modificar e tal, mas é possível se vestir bem (que nada tem a ver com marcas e roupas caras), tornar-se interessante (ler ajuda, viu?), ter atitude, ser bem-humorado, enfim: é possível ter o que oferecer, fazer sua moeda de troca pra conseguir alcançar aquilo que se deseja. Complicado é esperar sentado por um príncipe imaginário que, convenhamos, não vai chegar...

E finalizando, é necessário saber lidar com um problema real: CARÊNCIA! Estando há quase um ano solteiro, desde que mergulhei de cabeça no modo “Frozen”, fica incrivelmente fácil ver isso, aos poucos eu me tornei meio imune aos efeitos negativos da carência, mas não à carência em si. É claro que eu tenho meus momentos de solidão, de desejar ter alguém pra abraçar, pra conversar e pra me apoiar, de um jeito que amigos e amigas não podem ajudar, mas é necessário não permitir que isso abale seu senso de estabilidade racional e emocional. Uma vez solteiro por opção, eu consegui perceber o quanto as pessoas muitas vezes se agarram a um “qualquer” só pelo medo de ficarem sozinhas por mais tempo. Todos esses sinais de solidão e carência destroem minuciosamente o senso de crítica e percepção daquilo que queremos pra nós mesmos. Os resultados desastrosos se refletem em cada relacionamento mal-sucedido, abalando a fé em acreditar que alguém realmente legal possa gostar de você. Eu mesmo percebi isso nos meus relacionamentos anteriores, eu mesmo percebi e decidi corrigir tal erro.

E se ainda assim, nada disso for suficiente pra que a companhia dos sonhos apareça na sua vida e torne-a perfeita, a dica é: ESQUEÇA ISSO! Vá se divertir com seus amigos, estudar/trabalhar, assistir filmes, pegar um sol, curtir uma praia, praticar esportes, fazer exercícios, ouvir boa música, ler bons livros e blogs, rir com seriados ou com a internet, pirar em festas, praticar sua espiritualidade, se distrair, se concentrar, meditar, faça a vida valer a pena. Faça da ausência de um companheiro a desculpa que faltava pra iniciar a busca da felicidade por conta própria, mesmo que seja sozinho. Não digo isso num sentido de “enfeitar o seu jardim” pra que um dia você seja capaz de “atrair as borboletas”; às vezes as mais belas borboletas estão dentro de casa, numa bela flor que foi deixada aleatoriamente sobre um móvel, e você nunca percebeu porque estava concentrado demais no jardim do lado de fora da janela. Às vezes a felicidade não depende de “borboletas”. Pense nisso!

Pra ouvir e refletir depois de ler: A sombra - Pitty (dica do @mauricioalbino).

4 de abril de 2011

PROBLEMAS


Todo mundo tem problemas e isso não é novidade pra ninguém, faz parte da evolução humana: se o homem primitivo não tivesse percebido que ficar na chuva, coletar comida, perambular sem rumo e se expor ao perigo é problemático e potencialmente letal, dificilmente teríamos chegado ao nível de civilização aonde chegamos. Mas isso você também já sabe... o que você talvez não saiba é que, apesar do nosso grau de civilização, as reações humanas diante dos problemas podem ser mais primitivas do que se espera.

Na vida selvagem, quase todos os problemas estão direta ou indiretamente relacionados à sobrevivência (e de uma forma metafórica, na vida civilizada também), e quando o risco de vida entra em jogo, as respostas instintivas são quase sempre padronizadas em três:
1-    O alvo torna-se agressivo e ataca;
2-    O alvo decide fugir da melhor forma possível;
3-    O alvo torna-se imóvel, imperceptível ou finge de morto;
Apesar da racionalidade única do humano, problemas reais evocam nosso lado mais primitivo e, quase sempre, a reação é puramente instintiva: agressividade e resolução imediata; fuga ou alienação; ou imobilidade, inatividade e apatia diante do problema. Uma auto-avaliação revela imediatamente qual o seu padrão mais frequente, se você for sincero consigo mesmo, claro.

Apesar de odiar tal reação, assumo sem nenhum orgulho que quase sempre me “finjo de morto” diante de problemas reais. Deveria ser só uma fase latente pra pensar a respeito e me dar tempo de encontrar saídas, mas sei que intimamente a real razão é a de esperar que o problema se resolva sozinho milagrosamente. Não é nada racional e quase sempre inefetivo, eu sei; mas se você observar, nenhuma das reações são boas soluções. A agressividade é socialmente problemática e exaustiva, além do fato de que resolver as coisas no calor da emoção quase nunca é satisfatório. Fugir dos problemas então, nem se fala!

Mudando ligeiramente o foco: problemas são um mal necessário, são importantes no desenvolvimento da auto-crítica, da vida social, da vida profissional, da vida sentimental, enfim, da vida de uma forma geral. Problemas são indicadores reais de que as coisas estão sendo feitas da forma certa ou errada, uma espécie de “nível de evolução”. Você provavelmente não consegue entender porque se desesperou tanto com alguma prova difícil da época da escola, já que é algo relativamente bobo se comparado com as responsabilidades da vida adulta. E problemas são sim insuportáveis, principalmente quando surgem independente das suas ações, mas eles SEMPRE podem ser superados, contornados ou, na pior das hipóteses, absorvidos.

O que eu simplesmente não entendo é esse estranho life-style super positivista de que a vida é sempre perfeita, sempre agradável, que problemas não existem ou são irrelevantes. Há poucos dias eu e a Dama de Cinzas conversávamos no twitter (que modernidade!) sobre o assunto, perplexos pelo fato de que tem muita gente que não gosta de admitir que tá mal, que tá por baixo. Tem gente que é incapaz de “curtir uma fossa”, de recusar uma festa porque algo está fora de ordem, de se recolher no seu canto e sentir a necessidade de reflexão e introspecção. As redes sociais, sobretudo o Facebook e o (falecido) Orkut, são a maior prova disso e poderiam mudar seus endereços pra “www.eusousemprefeliz.com”. E lá você vê de tudo: gente de luto com a foto do perfil numa festa; gente de baixa auto-estima com foto seminua na frente do espelho; gente mal-amada em fotos com dezenas de desconhecidos, gente doente com foto antiga e sadia; gente exageradamente photoshopada... e por aí vai!

E mudando de foco pela última vez, ontem parei pra pensar no quanto eu aconselho amigos a resolverem seus problemas. Na terceira pessoa, longe do foco do problema, fora do olho do furacão, é absurdamente mais fácil raciocinar e encontrar possiveis saídas (nunca soluções prontas e nem o velho e inútil "vai ficar tudo bem!"). Entretanto, eu observei o quanto eu me tornei um depósito de experiências e emoções guardadas para benefício alheio, nunca pra mim. E observei o quanto eu sou reticente ao aceitar qualquer tipo de aconselhamento de quase qualquer pessoa, com raríssimas excessões. Parte disso é reflexo da minha desconfiança e do quanto eu já compreendi o significado de "suas palavras poderão e provavelmente serão usadas contra você"; a outra parte é pura arrogância e incapacidade de admitir que nem sempre eu posso resolver meus problemas sozinhos...

Finalizando: a vida é dura, chata, cheia de dor, apatia, doenças, maldade, perdas e sofrimento. Encará-la como um campo de uma batalha já vencida ou já perdida não muda em nada os fatos. Resta a você ter a capacidade de controlar seus instintos negativos, aprender a tirar as pedras do seu caminho e NÃO seguir o modelo do fluxograma que ilustra o post. Já é um excelente começo!

Pra ver e ouvir depois de ler:



3 de março de 2011

WALK AWAY


Evolução: é o mínino a se esperar dos vivos, embora não seja uma regra pra todos. Hoje eu me peguei "curtindo" um dos piores dias da minha vida ao som de boa música, divertida, animada e no mais alto volume. Até cumprir a minha rotina básica foi fácil.

Em tempos não tão distantes, dias ruins eram sinônimo de um "eu" quieto, apático, cinzento, calado, sombrio e às vezes até choroso. Dias ruins eram "comemorados" ao som de música baixinha e invariavelmente triste, anorexia, sono exagerado, descuido total da saúde, da higiene e da vaidade.

Sendo assim, quando esse antigo eu morreu? Que marcas ele deixou? Quanto de mim ele levou ao ser destruído? Até que ponto isso pode ser considerado algum tipo de evolução? E pior: até que ponto esse novo "eu", frio, que eu me tornei pode esconder os muitos pedaços espalhados por trás de uma casca sorridente?

Yeah! I'm walk away... e eu ainda não sei quando vou parar.