26 de janeiro de 2009

HOMOSSEXUALIDADE

Vamos começar de uma forma simples e direta: sou gay. É verdade (e algumas coisinhas aqui mesmo no blog não me deixam mentir). Se você também é homossexual, legal, temos algo em comum. Se você não é, nós também temos algo em comum: você e eu descobrimos a minha sexualidade de uma forma rápida e imprevisível. O Syn resolveu dizer isso só pra tornas as coisas mais transparentes pra você, até porque este blog precisa da minha sinceridade pra ser útil (pelo menos pra mim). Além disso, gostaria de entrar em um assunto deveras delicado (não do jeito que você está pensando, por favor, leve isto a sério), onde a opinião deixa de ser soberana para dar lugar a uma nova grande majestade: os fatos. Decidi hoje falar sobre a realidade de jovens garotos gays (perdoem-me as lésbicas e os bi pela não inclusão neste post, mas eu me recuso a falar sobre o que não entendo/conheço).

Jovens gays se descobrem relativamente cedo. Eu descobri que não era igual à maioria quando tinha por volta dos 14 anos. Época onde garotos se divertem com as primeiras “Playboy” e as meninas colecionam seus pôsteres de cantores/atores/modelos/BBBs/etc e suspiram por eles. Poisé, nessa época “Playboy” pra mim era tão interessante quanto Domingão do Faustão é pra você. Enquanto os garotos da minha idade já se concentravam em calcinhas na sala de aula, eu ainda era um fedelho semi-axessuado que gostava de brincar de Pokémon no quintal (é verdade... que vergonha). Até que um dia o vizinho resolveu tomar banho no quintal dele desconhecendo a existência de um buraco estratégico entre nosso muro. Eis minha primeira ereção gay.

Fato é que na nossa sociedade é difícil que você, aos 13-15 anos, entenda que ser homossexual é ter atração física, sexual, sentimental e afetiva por pessoas do mesmo sexo que o seu. No meu caso, “bicha”, “frutinha” e “viado” denotavam pouco mais do que “o homem que quer ser mulher”, coisa que eu definitivamente nunca quis. Quase não se fala de sexo nem entre pais e filhos heterossexuais, quiçá sexo entre dois homens. Auto-rejeição, culpa, vergonha e confusão são coisas que uma mente de 13 anos raramente consegue entender, tampouco explicar caso perguntassem o porque você não está bem.

Imagine-se como um gay então, mas sem seus conceitos formados e sem a opinião religiosa/social/cultural que você conhece. Então você, sendo gay (sim, tente se imaginar, isso ajuda bastante a entender) resolve aplicar o modelo heterossexualista que sempre lhe foi ensinado e tenta provar pra si mesmo que não gosta de homens. No meu caso, a primeira tentativa foi roubar a primeira revista de nudez feminina do meu irmão e tentar achar alguma graça naquilo... tentativa fracassada. Mas o homem da discreta propaganda de cuecas, que nem pelado estava, fez um tremendo sucesso. Segunda ereção gay (y otras cositas más). Algumas horas de remorso por tamanho “pecado” e o jovem esquece. E não desiste! Tenta arranjar um rabo-de-saia por aí. Ficar, namorar, dar um beijo, sequer pegar a mão de uma menina, e ela nem precisa ser bonita. E no meu caso, mais um fracasso. Então o jovem garoto gay oscila entre fases de recaída, onde procura quase qualquer imagem masculina (professores, primos, amigos da escola, vizinhos e, no meu caso, a maravilhosa hora do banheiro masculino na escola de natação) pra satisfazer seus desejos “imaginariamente”; fases de rejeição e culpa, onde busca perdão de “Deus” e promete que as fases de recaída não vão se repetir; e as fases de novas tentativas de heterossexualização, 90% delas frustrantes.

É bem provável que todo garoto gay tenha pelo menos uma ou duas namoradas (em alguns casos até mais). E o relacionamento pode ser “normal” até certos momentos. Alguns acabam na hora em que o desejo físico dele por ela não seja espontâneo. Ou quando o assunto “sexo” começa a ser requisitado e ele possa até ser cogitado. Outros acabam por falta de interesse mesmo, onde o próprio gay termina tudo. Como legítimo gay eu afirmo: podemos até considerarmos uma mulher linda, podemos até sentir atração física por uma mulher, podemos até nos encantarmos com o jeito suave e romântico das mulheres e algumas vezes até pensarmos em algumas possibilidades com ela. Mas tudo isso não tem a menor intensidade se compararmos com os mesmos aspectos em outro homem de nem tantas qualidades. Logo, a partir do momento em que um gay olha o irmão mais velho da sua namorada (por exemplo) jogando vídeo-game, todo o encanto construído sobre ela treme na base (situação meramente hipotética claro). E mesmo que aconteça o sexo, é bem provável que o relacionamento acabe. Por que alguém tão próximo, como uma namorada, será uma das primeiras a perceber a verdade. E acumulam-se mais frustrações.

Aí, mais tarde, você descobre que a religião que você (possivelmente) sempre acreditou é vigorosamente contra aquilo que aos poucos começa a aceitar. E que boa parte da sua família (possivelmente a parte mais importante) abomina completamente a sua sexualidade, mesmo sem saber nada sobre ela e você. E que alguns amigos que você de fato ama (ama apenas como AMIGOS!) tão somente rejeitam a sua realidade. E as amigas (que você também ama) começam a sutilmente declarar o quanto desaprovam os gays. E seus amores impossíveis (platônicos) tornam-se mais difíceis, na medida em que você percebe que não é correspondido com a mesma sexualidade. E que o mundo onde você nasceu aponta diariamente pra tudo o que você lentamente começou (recentemente) a aceitar, e diz que é feio, sujo, nojento, pecaminoso, proibido, ilegal. Descobre que pessoas morrem pela violência apenas por serem gays. Pessoas perdem seus empregos quando se assumem gays. Filhos são espancados e expulsos de casa quando são descobertos. Bem-vindo aos auto-questionamentos diários de um gay ainda inseguro.

E aí você entende o real significado da palavra preconceito, e começa a odiá-lo. E compreenderá que cedo ou tarde você vai precisar contar pra alguém de confiança, porque há coisas que você precisa desabafar. E finalmente pensa nas primeiras possibilidades de tentar um ou outro relacionamento homossexual. Aos poucos. E aos poucos também começará a ter a maturidade pra entender que muitas de suas bases mais sólidas, como religião, família e amigos nem sempre são exatamente o que as pessoas dizem ser, e você pode sobreviver algum tempo sem todas elas. E encontra semelhantes em locais onde a sua sexualidade é aceita. E descobre novos amigos e quem sabe um amor. E você fortalece seu amor próprio e começa a se sentir seguro do que você é independente do que os outros pensem de você. Esta é praticamente a minha historia de vida. E de uma grande quantidade de outros gays espalhados pelo nosso mundo. Obviamente existem muitas variações, mas tenha esta como uma das muitas verdades.

Globalmente falando: os homossexuais não querem pena, perdão, apoio, compreensão, carinho, etc. Não querem isso apenas por serem homossexuais. Queremos apenas ser tratados como iguais, como normais, como gente. Não somos o que a sociedade caricaturou. Não somos o que você vê na TV. A comunidade GLS não é exatamente o que você vê nas paradas gays, muitos não concordam sequer com o clima de “carnaval” e “felicidade” que se carrega nesse dia. Antes de sermos homens e mulheres somos gente, e existe gente de todo jeito em todo lugar.

Pra finalizar, gostaria de reforçar que isso não se trata de opção sexual. Se fosse mera opção seria muito mais fácil escolher ser heterossexual, pouparia muito trabalho e traria menos problemas, escolher ser hetero evitaria a infelicidade de muitas mães e pais, por exemplo. Homossexualidade não é doença, não tem causa, simplesmente nascemos assim e ponto. Assim, evite julgar o que somos, aliás, evite julgar.

Vou parando por aqui, pois tudo isso ficou extenso demais até pra mim. Termino aqui recomendando um vídeo extremamente esclarecedor.

P.S.: Fique tranqüilo, nada aqui mudará, este blog é e sempre será um blog de idéias (e sinapses) e não pretendo transformá-lo em nada pornográfico.


3 comentários:

Cris Medeiros disse...

Lindo seu post! Ultimamente tenho adicionado muito poucos blogs na minha extensa lista de blogs que visito. E só adiciono agora os que realmente me chamam a atenção. Tinha algo no seu blog que me encantou. Agora tá explicado, vc é gay... rs... Eu sou uma batalhadora pelo término do preconceito e especialmente pela causa dos homossexuais, pois tenho alguns bons amigos gays, uns que passaram pela minha vida, outros que não vejo constantemente, mas são pessoas sensacionais, inteligentes, sensíveis que me marcaram. Talvez daí venha a minha simpatia imediata pelo seu blog, acredito que os gays tem uma sensibilidade especial para perceber a vida!

Adorei o post! Concordo com os pontos que mencionou e muitos já coloquei em posts no meu blog!

Tem todo o meu apoio e respeito!

Beijocas

Beijocas

Αιακοσ Επυαλιοσ disse...

Parabenizo-o pela atitude e por ter compartilhado experiências tão valiosas, companheiro Syn. E a franqueza com que você contou os fatos também é admirável. Sou a favor da liberdade sexual e abomino terminantemente a homofobia, assim como todos os preconceitos. Também tem o meu apoio e respeito.
Quanto ao meu texto, publiquei um comentário lá mesmo, esclarecendo um pouco aquilo que eu gostaria de dizer. Em meus textos eu costumo prezar pelo lirismo e isso pode dar uma extensa liberdade de interpretações. Então algumas vezes pode ser que eu não consiga passar aquilo que quero. Dá uma outra passada lá, se quiser.

Abraços.

∆٭♥∞

Anônimo disse...

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