15 de março de 2009

PRECONCEITO

Palavrinha complicada essa, que carrega bastante significado e muitas conseqüências: preconceito. Encontrei uma interessante definição na internet: preconceito é uma postura ou idéia pré-concebida, uma atitude de alienação a tudo aquilo que foge dos “padrões” de uma sociedade. Observe que a palavra padrões esta devidamente entre aspas, e qualquer um sabe o motivo, né? Fato é que esta semana eu me deparei com umas situações que me inspiraram o suficiente pra eu falar sobre preconceito aqui no Sinapses.

Antes de continuar, permitam-me lembrar que ser gay não implica em ser alienado, pois tenho a completa consciência de que o preconceito sexual é apenas UM dos vários que (infelizmente) existem.

[...]

A primeira situação foi conversando com uma amiga que encontrei uma noite na praia. Detalhe: na verdade foi ela que me achou e num bar GLBT da praia. Como não sou de rodeios, comentei sobre eu ser gay e tal. A reação dela foi previsível: primeiro ela arregalou os olhos e fingiu não acreditar, logo depois ela tentou esconder a própria surpresa e citou a típica frase “ah tudo bem, eu não tenho preconceito”. Sinceramente, não me ofendi nem um pouco com a reação dela, mas isso me fez pensar num detalhe: pode ser verdade que ela não tenha preconceito quanto a mim, mas será que isso vale pra TODOS os casos em TODOS os tipos de preconceito? Aliás, quem nunca foi preconceituoso um dia? Definitivamente ninguém. As diferenças dos “padrões” existem em todo lugar. Manter resistência ao diferente e conceituar as coisas são reações normais e constantes do ser humano, ocorre em nós desde muito cedo, quando ainda crianças estranhamos o garoto que não gosta de jogar de futebol ou o colega de classe que tem características étnicas diferentes das nossas. Fato é que a própria sociedade empurra um “padrão” a ser seguido por todos e quem não o segue a risca sofre forte coerção, e isso se propaga pra formação da nossa personalidade, ou seja, o preconceito é contagioso porque se “pega” na própria sociedade, de pais pra filhos, de professores pra alunos, de um amigo pro outro. Que fique claro: todos têm o direito de ter uma opinião (favorável ou não) a um indivíduo, desde que essa opinião não interfira em ABSOLUTAMENTE NADA nos direitos/deveres e não prejudique EM NADA (principalmente socialmente) o sujeito.

Vejamos a segunda situação. Conheci (infelizmente) um dia desses um garoto jovem (16-17 anos), rico, caucasiano e gay no centro de São Luís. E pasmem: o cara é altamente racista! Eu fui apresentado a ele e 5 minutos depois ele pedia pra todo mundo ficar de olho num cara negro atrás da gente porque ele achava que podia ser bandido, e de bandido o garoto não tinha nada, só estava conversando tranquilamente com sua namorada abraçada a ele. Nem continuei o papo porque fiquei completamente irritado. A pergunta que não quer calar é: como um garoto gay (que sabe o que é ouvir desaforo e o quanto é ruim ser discriminado) pode ser racista? É algo completamente inconcebível, absurdo, imoral, estúpido, pequeno. E com isso pensei em outro detalhe: como é possível exigir direitos iguais e abominar a discriminação quando muitas vezes o preconceito está dentro de quem reclama? Ser diferente não é fácil, mas nada justifica o ato de apontar as diferenças dos outros apenas para tirar o foco das suas próprias diferenças.

E chegando à terceira situação. Depois de quase um mês sem ter aberto o meu e-mail (synapse87@gmail.com para contatos, queridos), eu me deparo com uma antiga mensagem esquecida por lá. O indivíduo dizia ter lido meu blog e se interessado em duas postagens, "Homossexualidade" e "Fé, religiões, fatos e opiniões" (e eu tinha ficado tão feliz por eles não terem sido polêmicos...), dizendo que respeitava minha opinião. Mas em seguida, pareceu que ele tinha entendido tudo errado! Disse que sou amargurado, mas que me entendia, que já foi assim, que já foi um porra-louca (“mantinha minhas muitas amizades, meus romances; fazia sexo, usava drogas, curtia festas...” - S.I.C.), mas que encontrou seu grande amor e que tudo isso mudou (sim, ele também é gay), que encontrou o amor e, com ele, “Deus” e que eu preciso apenas perceber e aceitar o amor de “Deus” para que a minha vida melhore como a dele melhorou. Eis as frases mais paradoxais na minha opinião (e lembre-se que você não precisa concordar com ela):

– “Sabe, eu aprendi que, o amor de Deus não é isso que a maioria diz. O amor de Deus não é contraditório. Deus pode amar o homossexual e odiar o homossexualismo sim. É como você amar sua mãe e odiar o cigarro que ela fuma todo dia.” (S.I.C.)

– “Assim como Deus, eu amo os homossexuais (e nunca me esqueço de que eu mesmo vivi dessa forma), mas odeio o homossexualismo, porque eu sei que isso não é o melhor de Deus para essas pessoas.” (S.I.C.)

Existem GRAVES diferenças na intepretação das minhas postagens. Primeiro porque eu me referi ao que a Bíblia diz (citação do meu post: “A bíblia julga a homossexualidade pecaminosa, mas também diz que “Deus” ama a todos, inclusive os homossexuais. Irônico não?”) e não ao que realmente eu acho de Deus (Aquele que eu reconheço como Deus). Além disso, se minha mãe fumasse essa seria uma ESCOLHA dela. Por mais que alguém não tenha controle do seu vício, não dá pra ignorar que quem buscou/permitiu inicialmente este vício foi o próprio viciado. E livre arbítrio é completamente diferente de ser o que a sua natureza impõe, como a cor dos olhos, a necessidade de comer e a sexualidade de cada um. E por fim, ISMO em linguagem médica e científica denomina DOENÇA, logo homossexualismo é totalmente inadequado por não ser uma doença (prefira homossexualidade).

Eu agradeço bastante a tentativa de ajuda, mas discordo de quase tudo que ele me disse. Considero extremamente preconceituoso tentar impor toda a opinião da religião e sexualidade dele sobre a minha, independente das experiências que ele já viveu e do que ele aprendeu. O preconceito começa exatamente aí, quando começamos a discriminar/julgar/impor aos outros que são diferentes (ou pensam diferente) um “padrão” a ser seguido baseado no que se é e no que se acredita. Mas acreditem, eu RESPEITO COMPLETAMENTE a opinião dele, porque entendo que ele pensa diferente, é diferente de mim e provavelmente está feliz na situação dele.

O preconceito está marcado em nós e enraizado na sociedade. É difícil erradicá-lo porque existe uma tênue linha que determina os nossos próprios direitos (como o de opinião) e os direitos dos outros (como o de expressão). Além disso, preconceito é produto de ignorância, de não se permitir conhecer melhor quem é diferente, de não aceitar que a própria opinião pode não ser a infalivelmente correta, de intolerância e orgulho; coisa que existe de sobra no mundo. Mas que fique claro: diferente do que diz os “padrões” locais, você não precisa ser jovem, independente, rico(a), caucasiano(a), fervorosamente religioso(a), heterossexual, machista, norte-americano(a) pra ser feliz. Porque, apesar de sermos diferentes, somos todos iguais.

10 comentários:

Cris Medeiros disse...

"Nem continuei o papo porque fiquei completamente irritado. A pergunta que não quer calar é: como pode um garoto gay (que sabe o que é ouvir desaforo e o quanto é ruim ser discriminado) pode ser racista?"

Gosto muito dos seus posts, tem trechos que poderiam ser escritos por mim, como esse aí em cima. Realmente não consigo entender como alguém que sofre preconceito, pode ser preconceituso, é uma mula que deveria tá andando de quatro, porque não pensa, caralho!

Beijocas

Lucas disse...

É dificil não ser preconceituoso, é verdade, porque as diferenças geralmente assustam as pessoas... normal. Mas isso passa a ser estupidez quando não se tem consciencia de que o que você pensa sobre uma pessoa pode ser somente preconceito, ou pior, quando você acha que o preconceito é CONCEITO... mto legal seu blog!, to visitando pela primeira vez,mas vou chegar mais vezes =)

Anônimo disse...

Syn, de hoje em diante sou tua seguidora. Me fez chegar num ponto em que me perdi em minha modernidade, me rendendo ao fato de que também sou preconceituosa com diversas coisas, coisas bobas mas graves. Mas tentarei mudar, pois o que li me fez um buraco no estômago, me deu um alerta de humanidade... que você tem de forma absoluta!
Adorei seu blog, adorei seus valores e por ser tão resolvido, já que hoje em dia a homossexualidade também anda banalizada.

Agora só mais uma coisinha.
Já leu Caio Fernando de Abreu?
Se leu, sabe o quanto ele é envolvente.
Procure um conto chamado: Anotações sobre um amor Urbano.
(mesmo que nao tenha nada haver com teu post, mas pela sensibilidade do texto...)
Sou fã do autor e me acabo em suas descrições.

Beeeijinhos!!! ;**

Anônimo disse...

E mais uma coisa:

O jeito que escreve, mesmo sendo critico e dando alertas, não dá cansaço!´A gente escorrega na leitura....
adorei!

Beeijos :*

Gay Alpha disse...

Muito bom!!! Tô na corrida, mas não deixo de vir conferir tuas atualizações... hehehe!!!
Teria muito a dizer, mas vou resumir - sem querer jogar água na fervura: o preconceito (em todas as formas) vai sempre existir e pior: é inerente ao ser-humano. Mas podemos abrir mentes, disso não tenho dúvidas! Hugzzzz!!!

Anônimo disse...

Assunto delicado, mas que deve sempre ser falado.
Preconceito é uma merda, literalmente.
E, como vc bem colocou, quem nunca foi preconceituoso.
A diferença é saber que se foi e tentar não o ser.
Bjo, amigo!

Metamorfose Ambulante disse...

Syn... Realmente esse é uma assunto bem delicado, querendo ou não todos nós carregamos algum tipo de preconceito e seria hipocrisia falarmos que não, o que diferencia um do outro é a proporção que esse preconceito tem em nossas vidas e como o externamos.
Graças a Deus existem as diferenças, isso que torna o mundo mundo ...

Anônimo disse...

one of these nights at about twelve o'clock this whole earth's gonna reel and rock... things thay'll tremble and cry for pain for the Lord's gonna come in his heavenly airplane...


Traduz e entenda :)

Rafa disse...

Ai, só consegui chegar aqui agora e adorei! Acho o preconceito inerente à condição humana. Todo mundo constrói seu mundo, suas seguranças, compreensões a partir de padrões que se chocam com o de outros. O importante é tentar esclarecer, informar, fazer-se ouvir. Bj

JOÃO disse...

nunca fui num bar gay (tecnicamente falando...). me leva!! rsrs
essa vida é tão complicada...
porque amar alguém do mesmo sexo que eu me torna tão distinto as olhos dos demais?
abs